Julian Assange, um herói mundial, por Elaine Tavares

No Palavras Insurgentes

Na medida em que o governo do Equador vai dobrado à direita, aumentam as preocupação com relação ao futuro de Julian Assange, asilado na embaixada daquele país em Londres. Nos últimos meses o presidente Lenín Moreno tentou impor censura ao criador do WikiLeaks e pouco depois retirou da embaixada a segurança extra que ali atuava justamente para a proteção de Julian. Essas atitudes apontam para uma possível articulação com o governo dos EUA para a prisão e extradição de Assange para os Estados Unidos. 

O jornalista estadunidense Dennis Bernstein, da Pacifica Radio Network, conversou com o também jornalista, John Pilger, amigo de Assange, e este se mostrou bastante incomodado com o silêncio da esquerda mundial em relação a situação do homem que ousou mostrar os podres dos  Estados Unidos na guerra contra o Afeganistão e o Iraque.  “Só o silêncio das pessoas boas permitirá que vençam aqueles que mentem e enganam o povo”, afirmou Pilger, dizendo que Julian Assange nunca esteve tão isolado e tão em risco. Segundo ele, todas as acusações de assédio sexual as quais pesam sobre Assange são falsas, fruto do trabalho sujo dos inimigos políticos, que encontraram nessa invenção uma via para punir o fato de ele ter trazido à tona a verdade sobre o império.

Bernstein também comenta sobre como o mundo tem tratado Julian, praticamente abandonando-o a própria sorte, e principalmente os jornalistas que tanto usaram as informações do WikiLeaks no passado e que agora não apenas silenciam sobre essa guinada do governo do Equador como buscam envolvê-lo em novas acusações, como o caso do suposto envolvimento da Rússia nas eleições estadunidenses, alegando que isso teria sido possível através de Assange. Pilger vê nisso um absurdo: “A WikiLeaks publicou cerca de 800 mil grandes revelações acerca da Rússia, algumas delas extremamente críticas do governo russo. Se você for um governo e fizer algo inconveniente ou mentir ao seu povo e a WikiLeaks obtiver os documentos para mostrá-lo, eles publicarão, não importa quem seja você, seja dos Estados Unidos ou da Rússia”.

John Pilger também tece críticas ao governo britânico que se mantém pairando sobre o caso enquanto deveria dar condições a Assange de sair da embaixada já que reconhece que ele é um refugiado político. Ao que parece tudo está sendo tramado para que Julian seja mesmo preso e mandado para os Estados Unidos, onde pode “apodrecer num buraco”.

Hoje, mesmo aprisionado, Julian Assenge segue liderando o trabalho da WikiLeaks e faz o que todo bom jornalista deveria fazer: divulga aquilo que o poder quer ver escondido. Ele entende que a população tem o direito de saber o que os governos estão fazendo em seu nome. Foi por isso que divulgou os documentos e imagens sobre as atrocidades dos EUA nas guerras do Oriente Médio e também a trama para derrubar Hugo Chávez, no fracassado golpe de 2002 e depois, com a ajuda financeira e logística para grupos de direita.  Assange dá às pessoas a informação que elas têm direito e é por isso que está confinado na embaixada, sem poder sair, há mais de seis anos. “Penso que a WikiLeaks abriu um mundo de transparência e deu substância à expressão ´direito a conhecer´. Isto deve explicar porque ele é tão atacado, porque está tão ameaçado. Para a grande potência o inimigo não são tipos do Taliban, somos nós, os bons jornalistas”, diz Pilger.

Também fez questão de lembrar a coragem de Chelsea Manning, que igualmente amargou sete anos de prisão, nas condições mais vis, por ter ajudado na divulgação dessas informações que circularam pela WikeLeaks. Pilger não tem dúvidas de que o governo dos Estados Unidos quer processar Assange e “talvez enforcá-lo nas vigas do Congresso”. Por isso conclama os jornalistas em particular a não abandonar Assange na sua luta contra a censura e contra as atrocidades praticadas pelos governos.

Julian Assange, que segue confinado na embaixada do Equador em Londres não pode ser esquecido e muito menos se pode deixar que, baseados em acusações ridículas e falsas, os Estados Unidos ponha as mãos sobre ele.  Toda a pressão sobre o presidente do Equador e sobre o governo britânico, que precisa garantir a liberdade do jornalista.

Afinal, como pode viver como um prisioneiro a pessoa que deu a verdade ao mundo?

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