Por Tim P. Jenkins, no Rio On Watch
As favelas do Complexo da Maré lamentam a morte de Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, nesta semana, quando uma violenta operação policial na manhã de quarta-feira fez com que moradores, incluindo professores e alunos, procurassem refúgios. O aluno da sétima série estava indo atrasado, em seu caminho para a escola em 20 de junho, quando um helicóptero da Polícia Civil, vários veículos blindados e mais de cem policiais e agentes militares invadiram o complexo. Os tiroteios começaram, e apesar do uniforme escolar, ele foi baleado no estômago. Ele e pelo menos outros seis, na Maré, perderam a vida na operação policial.
Esta é a segunda operação apoiada por helicópteros em dez dias. A Polícia Civil mais tarde justificou suas ações como empreendidas para “cumprir mandados de prisão”. A operação supostamente procurou investigar e prender suspeitos pelo assassinato do chefe de investigação da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), Ellery de Ramos Lemos, morto em 12 de junho durante uma operação na favela de Acari.
Na quarta-feira, no entanto, nenhuma prisão foi feita.
O coletivo Maré Vive acusou a polícia de realizar uma operação de vingança, escrevendo: “Papo que tá rolando é que essa operação faz parte da vingança pela morte de um policial civil que foi morto durante uma troca de tiros na favela de Acari. Vieram pra derramar sangue!”
Após a morte de Lemos, Felipe Curi, delegado da Polícia Civil responsável por coordenar a operação de quarta-feira, criticou grupos de direitos humanos e ONGs por não se manifestarem sobre o assassinato, em Acari, do chefe de investigações da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod). Ele prometeu retaliação, escrevendo: “Nós mesmos iremos chegar aos responsáveis por essa barbárie. Não ficará impune!”
Inflamando ainda mais as suspeitas locais, no dia 15 de junho, o delegado da Polícia Civil Marcus Amim deu uma entrevista para o jornal de meio dia do canal de TV SBT, afirmando: “Todos os envolvidos de Acari hoje são inimigos da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Nós vamos caçar vocês onde quer que estejam. Não adianta colocar no Facebook que criança foi baleada… Mentira. Não adianta, vocês não vão conseguir tirar a gente aí de dentro”.
Os comentários de Amim ressurgiram em 20 de junho, no momento em que começaram a circular imagens de Bruna Silva segurando o uniforme escolar manchado de sangue do seu filho. As emoções vieram à tona e a Maré foi às ruas. Manifestantes tomaram a Avenida Brasil e a Linha Amarela por volta da meia-noite, bloqueando o trânsito e entrando em confronto com a Polícia Militar.
Thainã de Medeiros, do coletivo de mídia comunitária Coletivo Papo Reto do Complexo do Alemão, condenou os comentários do delegado, escrevendo: “’Não adianta botar em Facebook dizer que foi criança baleada’. Essa foi a frase dita pelo Delegado Marcus Amin no SBT. Toda criança morta em favela pelas mãos do Estado também estão na conta deste delegado”.
Na manhã seguinte, alunos do colégio de Marcos da Silva se reuniram com professores do lado de fora do Ciep Operário Vicente Mariano em um ato de solidariedade. Os alunos usavam uniformes escolares salpicados com tinta vermelha, carregando cartazes que diziam “Sou aluno. Não suje minha blusa de sangue”, e “Polícia, Eu sou uma criança. Não me mate”.
Operações policiais e ações militares não são exceções no Complexo da Maré. Segundo a ONG Redes da Maré, a área teve 41 operações policiais somente em 2017, resultando em 35 dias sem aulas nas escolas. Entre 2014 e 2015, as Forças Armadas ocuparam a Maré em uma operação de quatorze meses, que o comandante das Forças Armadas, o general Eduardo Villas Bôas, posteriormente chamou de desperdício. “Gastamos R$400 milhões, e devo dizer que foi um dinheiro absolutamente desperdiçado”, disse ele à revista Piauí em março de 2018.
As Forças Armadas montaram ou apoiaram operações significativas em favelas em todo o Rio desde a declaração, do Presidente Michel Temer, de intervenção militar federal em fevereiro. Segundo o Observatório da Intervenção, órgão de monitoramento promovido pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), as forças de segurança realizaram 203 operações nos primeiros 120 dias de intervenção.
O uso recente de helicópteros blindados atirando de cima para baixo na Maré, Cidade de Deus, Manguinhos e Jacarezinho, chocou ONGs e especialistas. Luke Dowdney, fundador e diretor da ONG Luta pela Paz, na Maré, chamou essa tática de “inaceitável e repugnante” e a Redes da Maré emitiu uma nota condenatória. Daniel Lozoya, da Defensoria Pública, entrou com uma liminar, pedindo a proibição de helicópteros policiais em comunidades densamente povoadas, e exigindo que o Estado cumpra sua obrigação de apresentar um plano de prevenção de riscos para evitar violações de direitos humanos nas favelas.
A Polícia Civil emitiu sua própria nota, onde escreveu: “A PCERJ reitera que a utilização do helicóptero em operações, como as ocorridas na quarta-feira, se dá para a garantia da segurança de toda a população, entre eles os moradores da comunidade envolvida e os policiais que desempenham suas atividades”.
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