Em SC, Sem Terra comemoram 30 anos de luta coletiva no Assentamento Conquista da Fronteira

“O assentamento é uma experiência de organização e luta coletiva muito significativa”, afirma Irma Brunetto, do MST

Por Jualiana Adriano, em Página do MST

O Assentamento Conquista da Fronteira, localizado em Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, comemorou neste domingo (24) 30 anos de luta e resistência. A conquista do assentamento, que funciona de forma coletiva, é fruto da retomada das lutas pela terra na região. 

As famílias ficaram três anos acampadas e em meados de 1985 ocuparam a área, de 1.198 hectares, onde hoje se situa a comunidade.

Irma Brunetto, da direção do MST no estado, foi uma das pessoas que chegaram no primeiro grupo de famílias durante a ocupação da área e afirma que desde o começo, o MST decidiu que naquele espaço seriam desenvolvidas experiências de cooperação agrícola. “Nós não iríamos dividir a terra e ela seria trabalhada de forma coletiva. Com 35 famílias vindas dos acampamentos e mais 25 famílias Sem Terra de Dionísio Cerqueira iniciamos essa experiência produtiva”.

Em 1994, os assentados formaram a Cooperunião, que é uma cooperativa coletiva, onde organiza a vida nos assentamentos em suas diversas dimensões. Os assentamentos ligados a cooperativa possuem seis núcleos de famílias, onde são escolhidos seus representantes no Conselho Diretor da Cooperativa, a partir dos setores de produção, educação, saúde, esportes e, cada setor, possui suas equipes de trabalho.

Atividades desenvolvidas

O setor de produção, além de envolver as famílias num processo de plantio e colheita dos alimentos para autoconsumo e para comercialização, desenvolve atividades no campo da produção de leite, de gado de corte, frango, suínos, peixes, mel, erva mate, grãos, ração, mandioca, feijão, arroz, batatinha, batata doce, hortaliças e frutas variadas.

O setor no assentamento tem uma equipe de alimentação, que é responsável, por exemplo, para que todos os dias as famílias recebam hortaliças frescas para seu consumo, sem o uso de agrotóxicos.

O setor de saúde no assentamento fomenta a troca de mudas e cultiva cerca de 80 variedades de plantas medicinais, para produção de fitoterápicos e chás caseiros. O setor trabalha também com tratamentos preventivos e curativos; é responsável pelo saneamento básico; e acompanha a visita da equipe médica, que uma vez por semana atende as famílias Sem Terra.

Em relação ao cuidado com o meio ambiente, o assentamento possui 40% de sua área composta por mata nativa, para que os animais possam se reproduzir e as futuras gerações possam vivenciar a natureza.

Ainda na perspectiva da organização das famílias, o assentamento possui uma Ciranda Infantil que atende as crianças de 0 a 3 anos e também a Escola Construindo o Caminho, que atende até o 5º ano. Ambos os espaços são acompanhados pelo setor de educação do assentamento, que incentiva o estudo nos diversos espaços de organização familiar, como os núcleos de base.

O lazer é outro elemento importante. No dia a dia do assentamento são praticados esportes, como futebol, bocha, bolão e outros jogos. São realizadas também refeições coletivas, brincadeiras e danças. Além disso, o assentamento conquistou um Telecentro e um aviário das artes, onde a juventude organiza danças, jogo de ping pong, produção de cerâmica e artesanatos.

Referência

O Conquista da Fronteira é um dos assentamentos mais conhecidos do MST no estado, por conta de sua organização coletiva. Regularmente as famílias recebem visitas de várias organizações, universidades, de militantes e figuras políticas de outros estados e países.

Brunetto avalia que a experiência coletiva foi e está sendo um grande desafio de cooperação, onde todos os bens e capitais são coletivos. “É uma experiência muito significativa para o MST. É um exemplo para muitos do campo”.

Sobre os desafios, ela explica que foi difícil construir o processo organizativo que existe hoje, mas o maior desafio é manter essas experiências, por conta de todas as contradições que se enfrentam ao viver numa sociedade capitalista. “Sempre buscamos resolver os problemas que aparecem. […] Esse é um assentamento coletivo que deu certo e tudo isso é fruto da terra repartida. Pois antes uma era pessoa era dono e agora milhares de famílias são”, conclui Brunetto.

*Editado por Wesley Lima

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