Após desviar de Doria e vender alma ao “centrão”, Alckmin tenta chegar lá, por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

Geraldo Alckmin conseguiu adquirir um bloco de partidos de direita e centro-direita que vai lhe garantir cerca de 40% do tempo da propaganda eleitoral de rádio e TV, além de alguns palanques, dando um passa-moleque em Ciro Gomes, que negociava com a mesmas agremiações.

Em troca, pichará a palavra ”governabilidade” no asfalto quente da estrada que leva à perdição, como aconteceu com outros governos do PSDB e do PT. O do MDB, no caso, é a própria perdição.

Só o tempo dirá o quanto essa negociação custou tanto para o bolso do cidadão quanto para a qualidade de vida da população, uma vez que a aquisição desses partidos têm seu preço na forma de cargos, recursos e leis.

Hoje, amarga 7% das intenções de voto, de acordo com a última pesquisa Datafolha.

Claro que Alckmin enfrenta o desgaste de ter administrado o Estado de São Paulo por 1500 anos. E carregará o peso de responder, em sabatinas e debates, sobre o tal do primo descartável de Aécio Neves que podia ser morto antes de fazer uma delação. Mas também sobre Eduardo Azeredo, José Serra e sobre ele próprio e as denúncias relacionadas à construção civil.

Mas uma parte grande de sua situação de estagnação eleitoral é culpa de sua própria estratégia política.

Se não tivesse forçado a barra para que o PSDB engolisse João Doria como candidato à prefeito de São Paulo, não teria gasto um tempo precioso, ao longo de 2017, lutando internamente contra uma traição do pupilo para garantir o posto de concorrente tucano ao Palácio do Planalto.

A vontade incontrolável de Doria e seu afobamento visando à Presidência da República, que começou assim que ele assumiu a Prefeitura, fez com que Alckmin perdesse quase um ano em mais uma grande batalha fratricida. Afinal, o ex-governador era o candidato natural da centro-direita ao Palácio do Planalto. Enquanto isso, a operação Lava Jato facilitou a sua vida, prendendo Lula e tornando praticamente inelegível.

Alckmin conseguiu desidratar Doria. Que na ânsia de mostrar que era capaz de ser o ungido, acabou submergindo ao ser acusado de distribuir ”ração humana para pobres” em um país com histórico de insensibilidade de governantes com relação à fome.

Se ao invés de gastar energia para articular nos bastidores um freio às intenções do ex-prefeito, Alckmin tivesse se dedicado à organização e consolidação de alianças e a uma agenda de construção de sua imagem no Nordeste e entre a população mais pobre (em que o PT reconquistou espaço), talvez estivesse acima dos 7%.

Ou chegaria a este momento com uma coalizão mais estruturado, podendo gastar o tempo em campanha, ao invés de correr atrás de costurar pessoalmente essas alianças. Teria mais ajuda de seu partido porque seria visto como a saída lógica, sem outra opção. Mas, atingido por fogo amigo, teve que resolver o problema doméstico primeiro.

Se lhe faltar energia, sugiro Doriavit.

Foto: Diego Padgurschi/Folhapress

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