Relatório aponta contaminação de agrotóxicos em aldeia indígena de MS

Documento é elaborado pela ong internacional Human Rights Watch. Indígenas Guaranis e Kaiowás são intoxicados pelo despejo próximo à comunidade

Por Izabela Sanchez, no Campo Grande News

Relatório da ong internacional Human Rights Watch aponta Mato Grosso do Sul como um dos Estados onde há contaminação por agrotóxicos em comunidades rurais. O relatório “Você não quer mais respirar veneno: As falhas do Brasil na proteção de comunidades rurais expostas à dispersão de agrotóxicos”, afirma que indígenas Guaranis e Kaiowás de uma comunidade próxima a Campo Grande sofreram com problemas de saúde após a contaminação.

O local, relata a ong, fica próximo à uma pequena floresta ao redor de um córrego. Na região, a cerca de 50 metros, há plantação de soja e milho. A Human Rights Watch falou com nove pessoas que vivem na localidade, entre homens, mulheres e crianças Guarani-Kaiowá.

“Eles descreveram diversos incidentes de intoxicação aguda por agrotóxicos nos últimos anos, por pulverização tanto aérea quanto terrestre. Em alguns casos, os moradores tratam os sintomas de intoxicação por agrotóxicos com uma solução natural feita com suco de limão, enquanto, em casos mais graves, eles relataram ter ido ao hospital local (a cerca de 45 minutos de carro)”, afirma a ong.

Um dos homens da comunidade, identificado como Jakaira tem 40 anos e vive no local há 10 anos. Ele é casado e pai de três filhos adultos. Aos investigadores da ong, ele descreveu uma intoxicação aguda ocorrida por volta de outubro de 2017.

“Foi de manhã cedo, por volta das 8 da manhã; o trator estava pulverizando e senti o cheiro [do agrotóxico]. Dava pra ver o líquido branco [no ar]. Mesmo cheirando, vai para o seu cérebro. Você sente uma amargura na garganta. Você não quer mais respirar veneno—você quer respirar outro tipo de ar—mas não tem nenhum. Então você se sente fraco – você não consegue se levantar, porque o veneno é muito forte—e fica com febre e dor de cabeça…. Você coloca a mão na sua cabeça e sente ela latejando. Eu tive essa dor de cabeça muitas vezes, não aguento mais. Naquele dia, eu tive diarreia e vômito. Todo mundo que vive na beira da nossa comunidade passou mal. Enquanto eu esperava a ambulância, eu fiquei deitado na cama, me sentindo fraco. No hospital expliquei o que eu tinha e a causa. Eles me deram soro e um remédio e eu recebi alta no dia seguinte. Quando eu recebi alta do hospital, o médico me disse para me proteger, mas não tem jeito”, explicou o indígena.

“Nós deveríamos respirar ar fresco, mas sentimos um gosto ruim, uma [sensação de] queimação”, afirmou Panambi, uma mulher de 20 e poucos anos.

Relatório – A ong entrevistou 73 pessoas afetadas pela deriva de agrotóxicos em sete locais em zonas rurais no Brasil. Os locais abrangem comunidades rurais, comunidades indígenas, comunidades quilombolas e escolas rurais. Esses locais estão localizados nas cinco regiões geográficas do Brasil, em seis Estados.

Entre os sintomas declarados pelas pessoas, consta sudorese, frequência cardíaca elevada e vômitos, além de náusea, dor de cabeça e tontura. A Human Rights Watch critica a falta de dados fornecida pelo Ministério da Saúde e a ausência de legislação.

“As autoridades brasileiras devem acabar com a exposição tóxica aos agrotóxicos e garantir a segurança daqueles que denunciam ou se opõem aos danos causados pelos agrotóxicos às famílias e comunidades”, comentou Richard Pearshouse, diretor-adjunto da divisão de meio ambiente e direitos humanos da ong.

Mudanças na legislação

A Câmara dos Deputados aprovou, em uma comissão especial, o Projeto de Lei 6299/02, que flexibiliza o uso de agrotóxicos no país. O texto depende de avaliação dos plenários da Câmara e do Senado para ir à sanção do presidente da República.

Para o diretor-adjunto, o projeto enfraquece ainda mais a legislação. “O Congresso deveria rejeitar o PL 6.299/2002 e pressionar os ministérios competentes para que elaborem um estudo detalhado e imediato sobre os impactos à saúde e ao meio ambiente do atual tratamento dispensado aos agrotóxicos.”

Destaque: Aratiri, um menino de 9 anos, mora em uma comunidade indígena a poucas horas de Campo Grande. Reprodução

 

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