Cerca de 1,2 mil crianças de 24 estados reúnem-se em Brasília para discutir sobre direitos humanos, com destaque para alimentação e educação
“O movimento faz crescer o nosso pão”. O recado foi transmitido por mais de mil crianças na última segunda-feira (23) em meio aos cânticos que deram o tom ao 1º Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha, que contou com a participação da procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, durante a cerimônia de abertura.
Promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o evento tem como lema “Sem Terrinha em Movimento: Brincar, Sorrir, Lutar por Reforma Agrária Popular!” e pretende colocar em debate – de forma lúdica, por meio de brincadeiras e atividades educativas e culturais – os direitos das crianças, com destaque para o tema da alimentação saudável.
Cientes de seus direitos e em pleno exercício de protagonismo, meninos e meninas com idade entre oito e doze anos, com o auxílio de 400 educadores adultos, conduziram não apenas as atividades que marcaram a abertura do encontro, mas também as etapas regionais e estaduais que antecederam o ato político em Brasília – que segue até 26 de julho.
Sara Carvalho de Sousa, representante das crianças, denunciou o fechamento de escolas nas áreas rurais, a falta de transporte escolar, o corte de investimentos e a violência no campo, intensificada, sobretudo, pela paralisação da Reforma Agrária. “Nossa tarefa como sem terrinhas é lutar por nossos direitos, principalmente evitar que as escolas sejam fechadas”, alertou a jovem.
Em consonância com Sara, Deborah Duprat ressaltou que a história do Brasil é marcada por um processo de dominação, primeiro de indígenas, depois de negras e negros vindos da África e, na sequência, muitos outros segmentos sociais, como trabalhadoras e trabalhadores, do campo e da cidade, tendo sido necessária muita mobilização para garantir avanços em direitos. “Vocês trouxeram à Brasília uma importante lição: a de que não é apenas adulto que luta por direitos. Criança também luta, e isso é bonito, não é crime”, afirmou a procuradora.
Isa Oliveira, secretária executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), pontuou o crescimento da mortalidade infantil em função do desinvestimento em políticas públicas e os riscos inerentes ao trabalho infantil. Assim como Sara, a secretária executiva criticou o fechamento de estabelecimentos de ensino no campo e seus impactos na formação dos jovens nas áreas rurais.
“Lutar pelo Brasil é fazer com que nossas crianças possam ser cuidadas e colocadas em movimento”, afirmou a deputada federal Érika Kokay ao destacar a importância de mobilização de crianças para a defesa e a garantia de direitos humanos.
Márcia Ramos, do Setor de Educação do MST, relacionou a articulação de meninos e meninas ao legado do movimento dos trabalhadores rurais sem terra. “Estar aqui hoje representa um momento muito importante para a organização das crianças Sem Terra, que historicamente ajudam na construção do MST e na luta pela terra. Sem as crianças, o MST não seria o MST”, enfatizou Márcia.
Além da procuradora federal dos Direitos do Cidadão, a abertura contou com a presença de representantes de movimento populares, sindicatos e partidos políticos, bem como do Movimento Campesino de Santiago Del Estero (MOCASE), da Argentina.
Assessoria de Comunicação e Informação
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC/MPF)
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Ato de abertura do 1° Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha. Foto: Elitiel Guedes /MST