Carta pública da ocupação Paulo Kageyama do MST

Acampamento Paulo Kageyama luta por assentamento agroflorestal e agroecológico em Mogi Guaçú-SP

Da Página do MST

Após a ocupação no último domingo (29) da fazenda Campinha, em Mogi Guaçu, região de Campinas, interior de São Paulo, a comunidade do acampamento emitiu uma carta pública explicando os motivos da mobilização.

As terras públicas seriam destinadas para a criação de assentamentos, mas foram colocadas à venda numa chamada públioca pelo Governo do Estado. A intenção do MST é consolidar ali um assentamento de usufruto ecológico.

Confira o comunicado do Movimento:

Carta pública da ocupação Paulo Kageyama do MST

Na manhã do dia 29 de julho de 2018 nós, cerca de 250 Sem Terras, da região de Campinas, ocupamos a Fazenda Campinha no município de Mogi Guaçu-SP. A ocupação foi batizada de Paulo Kageyama e denuncia o abandono da área, que foi colocada à venda pelo Governo do Estado de São Paulo, exigindo a realização da Reforma Agrária nas terras públicas.

A fazenda possui mais de 4.500 hectares de terra, dentro dos quais a maior parte serve ao plantio de pinus e eucaliptos, sendo alvo constante de incêndios, demonstrando total abandono e descaso. O estado de São Paulo adquiriu a área para fins de Reforma Agrária em 1910, no entanto, essa política nunca foi de fato implementada.

No ano de 2017 foi aberto uma chamada pública que colocou patrimônios do Estado a venda e à disposição para concessão de uso. A fazenda Campininha é uma área de grande extensão territorial e está na lista de terras a serem vendidas, o que é inclusive questionado pelo próprio Ministério Público Estadual.

Há diversas empresas do agronegócio nas proximidades da fazenda  como Cutrale, Louis Dreyfus e Internacional Paper, o que a faz ser margeada por monocultivos de pinus, eucalipto, laranja e cana-de-açúcar. Essas produções, além de agressivas para o solo e o bioma natural característico, utilizam alta concentração de agrotóxicos e força de trabalho superexplorada e precarizada. Por esses motivos nós, do MST, denunciamos a venda da área e o perigo iminente de esta cair nas garras do capital destrutivo.

Desse modo, reivindicamos a destinação desta e demais áreas públicas da lista de vendas para fins de Reforma Agrária, consolidando assentamentos agroecológicos e agroflorestais, com produção de alimentos e preservação ambiental.

Existem experiências em nossas áreas que demonstram a viabilidade do projeto, a exemplo do Acampamento José Lutzenberger, no município de Antonina: o acampamento ocupa parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, no litoral norte do Paraná, e desde 2003 combina a produção de alimentos livres de agrotóxicos, com a recuperação da mata atlântica, através de implantação de sistemas agroflorestais.

A comunidade foi contemplada pelo prêmio Juliana Santilli, na categoria ampliação e conservação da agrobiodiversidade (clique aqui e confira). As famílias deste acampamento vivem da produção de alimentos saudáveis, gerando renda e preservando a natureza.

Este fato é a prova concreta de que é possível conciliar preservação e conservação ambiental com trabalho e geração de renda nos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária.

Outro exemplo bem sucedido são as áreas onde foram consolidados o Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS), envolvendo vários assentamentos do estado de São Paulo na preservação ambiental e produção familiar camponesa, com apoio da Secretaria estadual do Meio Ambiente (SMA).

Parte deste trabalho foi apresentada durante o VIII EPBio, ocorrido em 2016, que debateu aspectos socioambientais, experiências de restauração e agroflorestas em larga escala e operacionalização de sistemas agroflorestais (clique aqui e confira).

Por essas razões, a Fazenda Campininha deve ser destinada a Reforma Agrária, uma vez que a produção camponesa está diretamente relacionada com a recuperação e preservação ambiental.

Pela expressiva contribuição científica e prática nesse tema, decidimos homenagear o professor Paulo Kageyama que dedicou parte da sua vida a esses projetos. Por isso, iremos seguir lutando para proteger a natureza, produzir alimentos saudáveis, combater o agronegócio e a mercantilização das terras.

REFORMA AGRÁRIA NAS TERRAS PÚBLICAS!
TERRA PARA QUEM NELA TRABALHA!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

Lutar, construir reforma agrária popular!

*Editado por Rafael Soriano

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