Ana Amélia recebeu salários no Senado, antes de eleita, por cargo que não exercia
Na Folha
A escolha da senadora Ana Amélia Lemos, situada à direita da direita, para vice de Geraldo Alckmin é muito mais do que a complementação de uma chapa eleitoral. A escolha exprime uma definição do dúbio Alckmin e acaba com a ambiguidade do PSDB. Em termos políticos, Ana Amélia é uma versão nunca fardada de Jair Bolsonaro.
A equipará-los ainda melhor, já em termos morais, se Bolsonaro não explicou aquisições imobiliárias, Ana Amélia tem no seu prontuário o recebimento de salários no Senado, muito antes de eleita, por cargo que não exercia.
Em termos institucionais, a condição de vice dá a Ana Amélia a possibilidade de ocupar a Presidência da República sem ter merecido dos próprios conterrâneos, apesar do intenso apoio jornalístico e financeiro, os votos para mais do que um terceiro lugar na eleição de governador gaúcho, em 2014.
Sua escolha para possível substituição de Alckmin, se eleito, é tão debitável ao candidato quanto ao partido, cuja cúpula se mobilizou para convencê-la. Inclusive com apelos de Fernando Henrique Cardoso, como noticiou o jornal do qual é colaborador, “O Globo”.
Como jornalista, por três décadas Ana Amélia defendeu e fez propaganda da ditadura, com coluna em jornal e programas de TV e rádio, no Rio Grande do Sul.
Chefiava uma sucursal gaúcha em Brasília quando, em 1987, foi nomeada secretária do gabinete do senador biônico (não eleito, apenas nomeado pela ditadura) Octavio Omar Cardoso. Seu marido. As 40 horas semanais de trabalho ficaram só no ato de nomeação, Ana Amélia ocupando-se apenas de sua atividade na sucursal e em receber no Senado o salário do fácil dinheiro público.
O despudor dos que falam em moralidade pública, se dizem liberais, e se acumpliciam para as vantagens é o propulsor do triste percurso brasileiro no tempo.
Os outros
As primeiras e apressadas impressões sobre o acordo PT-PSB e o direitismo explicitado pelo PSDB, quase unânimes, viram prejuízos demolidores para Ciro Gomes e Álvaro Dias, respectivamente.
O primeiro, impedido de obter o apoio do PSB. O segundo, ao perder votos carreados por Ana Amélia para Alckmin, nos estados do sul. Talvez não seja assim. E, se for, o provável é que não seja tão grave.
O PSB prejudicará Ciro ao negar-lhe mais segundos no horário gratuito. O compromisso de neutralidade, porém, não tem firmeza. Pode ser neutralidade oficial do partido, mas nada mudará no eleitorado, deixado à própria escolha.
Álvaro Dias não era o preferido da direita influenciável por Ana Amélia: seu candidato lógico é Jair Bolsonaro, e Dias é o mais autêntico concorrente de e do centro.
Marina Silva viu em Eduardo Jorge a escolha coerente. Foi mesmo.
–
Foto: Marcos Oliveira /Agência Senado