Soldado indígena Karipuna faz tropa vencer obstáculos feitos para militares da OTAN

Na Sputnik

Durante um treinamento do Exército realizado na Guiana Francesa por um pelotão do Comando de Fronteira Amapá, um soldado de ascendência indígena se destacou por ajudar a tropa a cumprir os obstáculos de treinamento usando os hábitos de sua tribo, obtendo resultados que surpreenderam a equipe de instrutores franceses.

Arilson Batista dos Santos, da etnia Karipuna, engajado na Companhia Especial de Fronteira de Clevelândia do Norte, AP, demonstrou, de acordo com o Exército Brasileiro, capacidades acima da média durante o estágio realizado no Centro de Adestramento em Floresta Equatorial no período de 16 a 26 de julho.

Segundo seus superiores, com sua expertise natural, o soldado alimentou todo o pelotão, obtendo alimentos em diversidade e quantidade relevantes. Na atividade de orientação, serviu de “homem-ponto”, navegando, na verdade, como guia da fração em meio à floresta da Guiana, contribuindo para a conclusão das pistas e deslocamentos em tempo muito curto.

“Nas pistas de progressão, do alto dos seus 1,60 metros, com suas habilidades, obteve excelentes índices, superando obstáculos feitos para soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)”, afirmou o Exército.

Arilson, militar de 25 anos da companhia que integra o 34º Batalhão de Infantaria de Selva, está na corporação desde março de 2014. Até esse ano, ele morava na aldeia Karipuna do Espírito Santo, que fica a 50 minutos de barco do Manga, mas, desde que foi incorporado ao Exército, passou a morar em Oiapoque. Seus pais ainda moram na aldeia no Espírito Santo.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o soldado explicou que seu desejo de se tornar membro do Exército surgiu durante uma ação social em sua comunidade, na Amazônia. Segundo ele, sua entrada no Batalhão de Infantaria de Selva foi também uma forma de trabalhar permanecendo próximo a suas origens. Ele conta que começou a se deslocar na selva com quatro anos de idade, para buscar lenha para fazer fogo e mandioca para fazer farinha.

“Eu comecei a pescar com o meu pai com seis anos. A gente pescava para comer e para vender. Aí, comecei a usar também arma de fogo para caçar, com dez anos de idade. Aí comecei a caçar com meu pai, comecei a matar também caça com arma de fogo. Só que minha avó não gostava, porque eu era muito criança. Só que meu pai deixava”, revelou o soldado, que ouviu da equipe de instrução francesa, na Guiana, que se um batalhão tiver dez soldados como ele, dificilmente será abatido.

“O que eu aprendi desde criança na aldeia eu trouxe para o Exército e o que eu aprendi no Exército eu levo para minha aldeia”, comentou, agradecendo o reconhecimento nacional e internacional do seu papel na defesa do país.

Arilson demostra aos colegas como usar a corda para ultrapassar obstáculos. Foto: CEFE/3º REI/Guiana Francesa. Fornecidas ao CFAP/34º BIS

Também em declarações à Sputnik, o tenente-coronel Gelson de Souza, comandante do 34º Batalhão de Infantaria de Selva, explicou que o treinamento do qual Arilson participou faz parte de um processo de integração com os componentes do Exército de Terra Francês que operam na Guiana Francesa, departamento ultramarino da França.

“Eles nos convidaram a participar de uma instrução, que é um estágio de combate na selva, que dura 30 dias. E pediram que nós enviássemos um dos nossos pelotões, para que houvesse essa integração de instrução, digamos assim”, disse o oficial.

Sobre o desempenho de Arilson nos exercícios realizados no país vizinho, o comandante também destacou a bravura e a destreza do soldado, dizendo que ele superou, principalmente na questão do tempo, os militares da OTAN.

“Por fim, o grande aspecto que foi referenciado pelos instrutores foi a capacidade que ele tem de se orientar dentro da selva.”

Soldado Arilson com os colegas da Cia Especial de Fronteira de Clevelândia do Norte, no AP. Foto: CEFE/3º REI/Guiana Francesa. Fornecidas ao CFAP/34º BIS

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