Você concorda com a Reforma da Previdência proposta por seu candidato? Por Leonardo Sakamoto

no blog do Sakamoto

A discussão sobre a Reforma da Previdência, proposta por Michel Temer, acabou abortada quando o governo teve que destinar todas suas energias para garantir a própria sobrevivência após as gravações de Joesley Batista virem a público, comprometendo o presidente.

Nos últimos dois anos, defendi que os atuais governo federal e Congresso Nacional não contam com legitimidade para levar adiante essa discussão porque a agenda não foi eleita nas eleições de 2014. Sua aprovação forçada seria, portanto, um estelionato eleitoral. Até maior que o do governo Dilma – que, após criticar duramente as políticas de austeridade durante a campanha, adotou essa cartilha ao começar seu segundo governo.

Além disso, não houve debate com a sociedade para a realização dessa reforma. Pelo contrário, governo e setores da política e da economia tentaram passar por cima de todos feito um rolo compressor. E só não conseguiram porque o governo gastou todos os recursos e tempo que tinha para livrar seu pescoço da guilhotina das denúncias criminais. Ao entrarmos em no ano eleitoral, os deputados federais paralisaram o trâmite considerando as altas taxas de impopularidade da reforma. Afinal, desejam se reeleger.

A Reforma da Previdência deveria fazer parte da discussão ampla sobre o projeto de país que queremos. Isso significa que os candidatos precisam apresentar o tema da forma mais clara e detalhada possível para que seja entendido e amplamente debatido.

Em algumas sabatinas e entrevistas realizadas com candidatos, houve algumas explicações. Mas poucos foram os momentos em que se ouviu uma tentativa de explicar ao povão, e não apenas a empresários e banqueiros, como vão mexer na aposentadoria.

Vão propor uma Reforma da Previdência? Quanto tempo a mais as pessoas terão que trabalhar? Com qual idade mínima elas se aposentarão? Quanto tempo de contribuição para obter a pensão mínima e quanto para o teto? Haverá mudança no benefício social dos idosos pobres? E na aposentadoria especial rural? Como funcionará uma regra de transição? Quais serão os sacrifícios ampliados dos que ganham menos? Quais serão os privilégios mantidos dos que ganham mais? Haverá debate público antes de tudo isso?

Tudo deveria ser explicado em português claro e não em economês empolado – que, para a maioria dos trabalhadores, não é muito diferente do sânscrito. Os debates eleitorais na TV seriam um excelente momento para discutir o tema, caso contassem com um formato que privilegiasse o aprofundamento de questões de interesse da população ao invés de uma fórmula voltada à produção de memes e a geração de piadas para as redes sociais.

Com o formato batido – de perguntas, respostas, réplicas e tréplicas curtíssimas, insistindo em debates não-temáticos que repetem os mesmos assuntos em diferentes emissoras, com mediadores que servem para controlar o tempo e o direito de resposta ao invés de cobrarem duro os candidatos que fugirem das questões – fica difícil construir algo sólido com o eleitor. Poderia haver um debate inteiro apenas sobre Geração de Emprego e Reforma da Previdência, por exemplo. O problema é que essa proposta certamente seria barrada por algumas candidaturas.

Há quem vote em candidatos sem conhecer seus projetos para áreas sensíveis. Preferem acreditar que ele ou ela fará tudo ao seu alcance para garantir qualidade de vida e ponto. Entregam, portanto, um cheque em branco. Encaram-se como fãs, não cidadãos. Um erro que, mais cedo ou mais tarde, cobra seu preço.

Foto: Bruna Prado/UOL

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