Em luta por direitos, atingidos pela Samarco realizam feira da saúde em Barra Longa

No MAB

O frio da madrugada chuvosa do dia 18 de agosto na cidade de Barra Longa (MG), não desanimou a população da cidade de participar da I Feira da Saúde de Barra Longa. O sol, ainda preguiçoso na manhã do sábado (18), fazia com que aos poucos os moradores fossem chegando com suas plantas e ervas utilizadas por gerações como remédios naturais, e quitutes como bolos, café, chás e biscoitos, colaborando para o café coletivo na Praça Manoel Lino Mol, para debater ali o tema importante para o bem-estar de todos: a saúde.

A I Feira da Saúde de Barra Longa, realizada pelos atingidos pela barragem da Samarco (Vale/BHP), organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), e pela assessoria técnica da AEDAS, teve como objetivo fazer uma reflexão dobre os adoecimentos que a população tem enfrentado após o crime e oferecer momentos de cuidados estruturados nas práticas integrativas e comunitárias.

A chegada da lama na cidade provocou um grande desequilíbrio ambiental que refletiu na saúde dos moradores de Barra Longa nos mais variados aspectos. “É importante a realização desta feira na cidade, pois os problemas que vieram com a lama da Samarco, nem todo mundo está atento para isso. A Feira vem com esse objetivo, despertar nas pessoas o cuidado com saúde”, comentou Maria das Graças, atingida na comunidade rural de Gesteira e integrante do Coletivo de Saúde.

Na parte da manhã, houve roda de conversa, quando todos os participantes puderam se inscrever e relatar um pouco da sua experiência com saúde na cidade.  Casos como problemas respiratórios, coceiras e manchas na pele, enfraquecimento dos músculos do corpo, apareceram no debate coletivo.

O procurador da república, Hélder Magno, esteve presente e colocou a importância de além dos adoecimentos físicos, os adoecimentos mentais também estão presentes na população ao longo da bacia do rio Doce. “O adoecimento mental transparece na população, pois são quase três anos deste crime e os atingidos estão à espera de alguma solução. Isso provoca grandes distúrbios, pois mudou o modo de vida das pessoas”, pontuou o procurador.

“A atuação da Fundação Renova é de ignorar que não existem problemas de saúde em Barra Longa. A saúde para nós do MAB é uma grande questão em toda a bacia do Rio Doce. É um direito que deve ser constantemente reivindicado, apesar da entrega das casas e indenizações a saúde dos atingidos ainda vai precisar de cuidados”, comentou Letícia Oliveira, da Coordenação Estadual do MAB.

Na parte da tarde, com grande participação dos atingidos, voluntários ofertaram oficinas de massoterapia, reiki, auriculoputura, benzeções e troca de plantas medicinais. A médica pediatra, da Rede de Médicos e Médicas Populares Aline Bentes, enalteceu a importância de atividades sobre a saúde e a construção do Coletivo na cidade. “É saudável estar junto de forma coletiva. Esses espaços fortalecem a luta pela saúde de toda a comunidade”, enalteceu a iniciativa dos atingidos e da assessoria técnica da AEDAS.

No final, apresentações culturais de músicos da região também abrilhantaram o evento. Estiveram presentes atingidos pela Samarco das cidades de Sem Peixe e Santa Cruz do Escalvado. Voluntários massoterapeutas do Instituto São Rafael, além da presença do Deputado Federal, Padre João.

A ineficácia da Fundação Renova

A Fundação Renova, em resposta a solicitação dos atingidos para realizar o transporte dos moradores da zona rural de Barra Longa para a Feira da Saúde, informou, no dia que antecedeu a Feira da Saúde, por meio de ofício que “O referido evento da I Feira de Saúde não se encontra dentro do escopo de ações desenvolvidos pelo Programa PG14 Saúde Física e Mental da População Impactada e PG05 Proteção Social”, assinado por Wagner Elísio.

“Esse senhor que assina este documento, nunca deu as caras em Barra Longa. Ele está fazendo um programa e nunca nos ouviu nesses três anos de caos. Esses programas estabelecidos de gabinete, estão distantes da realidade de Barra Longa. Os problemas estão aqui e as soluções tem que sair de perto também”, comentou no fim da reunião Simone Silva, atingida da cidade.

No outro dia a Fundação Renova voltou atrás e disponibilizou o transporte e os moradores da zona rural puderam estar na Feira. “Mais uma vez a Renova demonstra despreparo e ineficácia dos programas instituídos dentro de um acordo ilegítimo. Sabemos que a vida dos atingidos está sendo decidida em portas fechadas e sem a participação do povo. Este é um exemplo do que está acontecendo na bacia do Rio Doce, a Renova nega a auto-organização dos atingidos”, disse Letícia Oliveira.

Imagem: Município Barra Longa-MG, atingido pela lama da barragem de mineração da Vale/BHP Billiton. Foto: Joka Madruga

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