Nós os veremos em breve, aquelas crianças esqueléticas com barriga inchada, olhos sem lágrimas cobertos de moscas e o passo cambaleante. Quem sabe, talvez veremos também o olhar mais atento de um abutre, como em uma famosa e terrível foto de alguns anos atrás. A fome está de volta. Se os primeiros dez anos do novo milênio deixaram vislumbrar o sonho de finalmente ver a humanidade livre da necessidade mais básica, o despertar é como um balde de água gelada. Para eliminar qualquer ilusão, são os dados do Relatório 2018 sobre segurança alimentar e nutrição, editado pela FAO em colaboração com Ifad, Wfp, Unicef e OMS.
A informação é de Giampaolo Cadalanu, publicada por La Repubblica, 11-09-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O documento das agências da ONU deixa pouco espaço para interpretações otimistas. O número de pessoas sem acesso a uma nutrição adequada tem aumentado tanto em percentual como em valor absoluto: em 2017 eram cerca de 821 milhões, ou seja, 10,9% da população mundial, um ser humano em cada nove. Esta é a confirmação de uma tendência já evidenciada com os dados de 2016, pela primeira vez em “alta” global, após anos de declínio.
Os primeiros a serem afetados, como sempre, são os mais jovens: 151 milhões de crianças menores de cinco anos registram um crescimento irregular e 50 milhões são desnutridas. Os números indicam que a situação mais preocupante é, como sempre, na África subsaariana e nos países mais pobres da Ásia. Mas entre os dados sobre os menores, há também uma referência a 38 milhões de crianças com excesso de peso.
Obviamente não é uma contraposição entre famintos e obesos, mas é o sinal de uma distribuição desigual, injusta e desordenada de recursos. As leis do mercado sozinhas, podemos ler nas entrelinhas, não garantem uma alimentação correta nem para quem tem pouco nem para quem tem algo a mais, mas não tem os instrumentos para administrá-lo. E se orienta para alimentos de baixa qualidade, baratos e cheios de gorduras, com muitas calorias e baixo valor proteico.
A obesidade dos adultos também está aumentando, diz a FAO: 672 milhões de pessoas estão gravemente acima do peso, ou seja, um em cada oito adultos. Os números mais impressionantes são, como esperado, aqueles registrados na América do Norte, mas os aumentos na Ásia e na África também são preocupantes.
Entre as razões para a dramática inversão de tendência, as guerras, mas principalmente as mudanças ambientais. O documento da ONU indica um aumento geral nos fatores climáticos extremos, da seca às inundações, aos ciclones e às temperaturas extremas. E as consequências dos desastres são sempre sofridas pelos mais fracos, isto é, pelas nações pobres e mais dependentes da agricultura. Se não houver um empenho geral para o controle do clima, destaca o relatório da FAO, o projeto para erradicar a fome até 2030 estará fora de alcance.
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O Mapa da Fome deste ano tende a apontar uma piora no cenário brasileiro / Agência Brasil