Na Folha
O fascismo tá na moda no mundo todo, dizem os analistas de tendências, atribuindo o crescimento de Bolsonaro a um fenômeno global. Acho que existe um certo ufanismo nessa análise. Nenhuma moda chega no Brasil assim tão rápido. Esses analistas não perdem a mania de querer participar de algum fenômeno global.
Se tá rolando lá fora, no Brasil deve chegar daqui a uns trinta anos. Tem um delay. Foi assim com as calças skinny e o cavalão da Ralph Lauren. Com o fascismo não teria por que ser diferente.
A abolição da escravatura, por exemplo, chegou com um atraso de décadas, quando lá fora já era “tããão 1863”. A independência já chegou por aqui caquética, cansada da viagem e atordoada com o fuso horário. A república só veio atracar por aqui depois que já tinha dado errado no mundo inteiro.
Esse fascismo recém-chegado não deve ser o mesmo do Trump, por uma questão de logística: ele ainda tem que conseguir visto, vacina pra febre amarela, pegar uma baldeação no Panamá, extraviar as malas. Demora.
Tenho indícios que nosso fascismo foi produzido por aqui mesmo. Por uma razão: ninguém no mundo tem nossa capacidade criativa.
Bolsonaro diz que não confia na urna eletrônica mas já foi eleito cinco vezes por ela mas diz que é contra tudo o que tá aí mas já foi filiado a oito partidos diferentes mas é o candidato do novo mas diz que quer estado mínimo mas foi funcionário público a vida toda e capitão do Exército mas o vice é general do mesmo Exército o que faz do candidato um subalterno do próprio vice, enfim, nada faz sentido. Igualzinho o resto do país.
Tudo indica que esse fascismo é nosso, como as jabuticabas, o Gurgel e a esposa do Matthew McConaughey. Viva o nosso fascismo, que faz tanto sentido quanto os outros, só que não paga roaming de dados e dá pra consumir sem pagar IOF.