Estão tirando Haddad à força do campo democrático. Por Gregorio Duvivier

Ao tentar expulsar um dos candidatos, nossos articulistas acabam por mostrar que não pertencem ao campo democrático

Na Folha

Articulistas e formadores de opiniões estão desesperados com o resultado das recentes pesquisas de intenções de voto. Pra isso, afinal, servem os articulistas: pra se desesperar com o voto da população, essa classe de despreparados. O povo não chega a ficar chateado com eles, porque uma das coisas que une os formadores de opinião do país é que, por sorte, ninguém os lê.

Ontem uma dúzia de articulistas lamentavam a mesma coisa: os dois primeiros colocados no Datafolha estão fora do campo democrático.

Que Bolsonaro esteja fora, vá lá, é impossível discordar. O candidato do PSL já afirmou não acreditar em direitos humanos, direitos civis, na Constituição ou na urna eletrônica —basicamente, está pro jogo democrático assim como o rato do estádio de São Januário está pros jogos do Vasco ou como o padre irlandês está pras maratonas. Entrou em campo, mas não significa que entendeu as regras do jogo e menos ainda que vai respeitá-las.

Mas e Haddad? O candidato do PT estaria fora do campo democrático por defender a inocência de um homem preso. E não pode?

Pelo jeito, na democracia dos articulistas perde-se o direito de advogar pela inocência de um condenado. Esta parece ser a única transgressão praticada por aquele que é o membro mais moderado do partido que chegou ao poder mais vezes pela via democrática na história recente.

Ao tentar expulsar à força um dos candidatos do campo democrático, nossos articulistas acabam por mostrar que eles mesmos não estão no campo democrático.

Pra combater as urnas, propõem, em uníssono, uma puta solução: todas as candidaturas do centro (sic) democrático deveriam abdicar da sua candidatura pra apoiar Geraldo Alckmin, o quarto colocado nas pesquisas.

Por que fariam isso? Fica a dúvida. Mas que conceito estranho de democracia.

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