Há 30 anos, a madeireira de Gladson Cameli briga na Justiça contra povo Ashaninka; seu primo, o pecuarista César Messias, é aliado dos irmãos Viana (PT) no estado
Por Luís Indriunas, em De Olho nos Ruralistas
Aos 40 anos, o senador Gladson Cameli (PP) traz um passivo ambiental que remonta a sua infância. O candidato ao governo do Acre é um dos sócios da Marmude Cameli, madeireira que briga na Justiça há cerca de 30 anos contra o pedido de indenização dos Ashaninka, população tradicional que vive na fronteira do estado com o Peru.
Os indígenas foram vítimas da empresa nos anos 1980, na chamada segunda ocupação do Acre. Segundo pesquisa do Instituto Socioambiental (ISA), mais de um quarto da Terra Indígena Ashaninka, identificada em 1994 e homologada em 2000, sofreu com a atividade madeireira intensiva, afetando profundamente a vida dos indígenas, que consideram essa época a de maior penúria e fome de sua história.
Desde os anos 1990, os Ashaninka correm atrás dos seus direitos judicialmente contra a Marmude Cameli. A madeireira foi condenada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a pagar multa de cerca de R$ 35 milhões como forma de indenização. No Supremo Tribunal Federal (STF), os Cameli tiveram o recurso negado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Cinco meses depois, o mesmo ministro voltou atrás. No novo posicionamento, Moraes alega prescrição do dano ambiental.
No Congresso, o senador é um crítico do que chama de “perseguição implacável” do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) contra os produtores rurais.
A SOMBRA DE ORLEIR CAMELI
Gladson é sobrinho de Orleir Cameli, ex-governador do estado, que morreu em 2013. Orleir não tinha pudor em misturar o público com o privado. Ao inaugurar uma balsa-hospital, em janeiro de 1997, ele discursou:
– Só tenho três pessoas para agradecer: a Deus, ao meu irmão, que construiu a balsa, e ao meu filho, que fez o projeto e comprou os equipamentos.
Madeireiro, dono de seringais, de uma empreiteira e de balsas, Orleir teve, na época, um avião de sua propriedade apreendido com contrabando no aeroporto de Cumbica (SP). O senador Romeu Tuma (PFL-SP), já falecido, acusava Orleir de fazer um empréstimo para o Acre junto a uma empresa ligada a traficantes do cartel colombiano de Cali.
Candidato a vice-governador na chapa de Gladson, o deputado major Rocha (PSDB) – integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária – passou por um problema ligado ao tráfico. Em 2016, sua assessora Erika Cristina de Oliveira foi presa, acusada de participação em uma organização criminosa que pratica roubo, homicídio e tráfico de drogas. O major a exonerou.
O passado do tio ainda assombra Gladson. O Ministério Público Estadual (MPE) resolveu tirar este ano da gaveta um inquérito que investiga as reformas do extinto Hospital de Base e do Pronto Socorro de Rio Branco, feitas sem o devido processo licitatório. As obras custaram US$ 1 milhão. Entre os envolvidos está o presidente do PP no Acre, José Bestene, na época secretário de Saúde de Orleir Cameli.
CONTATOS IMEDIATOS COM O AMAZONAS
Enquanto passa por dificuldades no seu estado, as empresas da família têm conseguido bons negócios fora. Assim que tomou posse como governador tampão no Amazonas, Amazonino Mendes (PDT), candidato à reeleição, liberou R$ 60 milhões para contratos com as empresas da família, velha amiga do político.
Dentro do estado, Gladson conta também com a amizade da deputada federal Jéssica Sales (MDB), que tenta a reeleição. O pai de Jéssica, Vagner Sales, é coordenador de campanha de Gladson no interior do estado. Dono de mil hectares de terra e 1.500 cabeças de gado, segundo declaração ao TSE de 2012, o ex-prefeito de Cruzeiro do Sul responde por vários processos.
Entre as acusações que pesam contra Sales está o desvio de R$ 60 milhões, descontados dos funcionários para a Previdência Social e não repassados para o órgão. Em outro caso, é acusado de criar contratos fictícios de R$ 600 mil para pagamento de barqueiros que faziam o transporte escolar, mas que não receberam os valores.
Por fim, outro assessor da campanha de Gladson tem problemas na Justiça. Coordenador de campanha na região do Alto Acre e ex-prefeito de Brasileia, Aldemir Lopes já foi preso pela Polícia Federal, acusado de fraudar licitações. Hoje ele caminha com uma tornozeleira eletrônica.
O apoio no interior é importantíssimo para vencer eleições no Acre. Por isso, os adversários políticos de Gladson, os Viana, do PT, tentam manter o apoio de outro lado da família. Os irmãos Jorge (senador) e Tião (governador) Viana são aliados do primo de Gladson, César Messias (PSB).
IRMÃOS VIANA TÊM APOIO DE SUSPEITO DE GRILAGEM
Ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, Messias foi vice-governador entre 2007 e 2014, nas gestões petistas de Binho Marques e Tião Viana. Ele é dono de 8.600 hectares de terra e 4 mil cabeças de gado, segundo declaração de 2014 ao TSE.
A depender do que declara à Justiça eleitoral, Messias aumentou seu patrimônio 25 vezes nos últimos 20 anos. Em 1998, tinha R$ 164 mil em bens, sem nenhuma fazenda. Este ano, o patrimônio declarado do pecuarista – candidato a deputado federal – soma R$ 4,1 milhões.
Em 2012, ele foi acusado por uma produtora rural de grilagem de terras por ter se apropriado de forma irregular de terras, para escapar de punições dos órgãos ambientais. A reação de Messias foi processar o jornalista que veiculou a denúncia.
Como prefeito, o candidato foi acusado de improbidade administrativa por irregularidades em um convênio com o Ministério da Integração Nacional, ao substituir o material do asfalto por um três vezes mais barato que o estipulado. O caso foi arquivado.
A esposa de Messias, Vanuza da Silva Lima de Messias, tornou-se assessora da Secretaria de Desenvolvimento Social do Acre, em 2016, durante o governo de Tião Viana.
Entre os outros integrantes da FPA que concorrem nestas eleições estão o senador Sérgio Petecão (PSD) e o deputado Alan Rick (DEM), apresentador de TV e pastor evangélico.
Petecão foi denunciado pela Procuradoria Geral da República, em 2017, por fazer contratação irregular com verba de gabinete da Assembleia. Ele pagaria cerca de R$ 100 para cabos eleitorais e ficaria com o resto. Rick usou sua cota parlamentar para vigiar internautas que falassem mal dele nas redes sociais, além de gastar R$ 82 mil para comprar espaços em jornais.