‘É preciso nova bibliografia para escolas’, diz general da equipe do capitão que coordena estudos para o MEC

Contrário à política de cotas, defende a “prevalência do mérito” e diz que, se a ideia for aceita por Bolsonaro, serão estudadas medidas “não traumáticas” para substituir as regras

Do Estadão, no EM

À frente do grupo que elabora propostas para o Ministério de Educação de um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL), o general Aléssio Ribeiro Souto diz que “é muito forte a ideia” de se fazer ampla revisão dos currículos e das bibliografias usadas nas escolas para evitar que crianças sejam expostas a ideologias e conteúdo “impróprio”. Ele defende que professores exponham a verdade sobre o “regime de 1964”, narrando, por exemplo, mortes “dos dois lados”.

Ex-chefe do Centro Tecnológico do Exército, foi chamado a coordenar debates de ciência e tecnologia, mas acabou acumulando Educação “por afinidade”. Contrário à política de cotas, defende a “prevalência do mérito” e diz que, se a ideia for aceita por Bolsonaro, serão estudadas medidas “não traumáticas” para substituir as regras. “Querem atribuir a Bolsonaro condição ditatorial. É chamado até de nazista. É mentira deslavada”, disse.

Qual será o desenho do MEC?

Preconizamos que Esporte e Cultura devam estar dentro do Ministério da Educação. Ah, mas o pessoal da cultura é contra. Isso é besteira. O Estado pode ser pequeno. O importante é funcionalidade e gestão.

Qual é a mudança prioritária?

Levantamos 14 “ideias básicas” para Educação. Elas incluem valorização dos professores, motivação dos alunos, alteração da formação das licenciaturas, revisão completa dos processos educacionais da base curricular, efetivo emprego dos recursos. Há dinheiro indo para o ralo da corrupção e há má gestão pura e simples. Você não pode dobrar o recurso para a Educação, mas pode, a cada ano, aumentar 0,5% mais do que a média do orçamento.

Preveem reorganização na destinação dos recursos?

Em um País razoável, 30% ou 40% dos recursos são destinados ao ensino superior. Aqui, a matriz deve ter chegado a 70% para ensino superior. Precisamos alterar, mas não se faz facilmente. Teria de mandar metade das pessoas embora. Não é assim que as coisas acontecem, não queremos regime ditatorial. Na democracia é diferente, tem de ser pactuado, aos poucos. Para ter transformação efetiva da sociedade, como ocorreu no Japão e na Finlândia, precisamos de 60 anos. Mas tudo tem de ser desencadeado agora. Valorizar professor tem de começar agora.

Melhorarão a remuneração?

A remuneração é quinto ou sexto tópico a se considerar. Pagar muito bem é uma absoluta impossibilidade agora. Antes disso, precisa do discurso de que o magistério é importante, dar formação aos que já estão, e resgatar autoridade do professor. Tem de ter a ideia de que, depois dos pais, reverenciamos os professores. É absolutamente inaceitável a agressão ao professor e aos pais. Tem de ser reprimido.

Como fazer isso?

Dentro dos meios democráticos e legais. Aquele que ameaçar agredir o professor, aquele que dirigiu uma palavra mal dita ao professor, tem de haver repressão. Democrática.

E como é?

Tem de ser retirado da sala. Se agredir, polícia. A polícia leva as crianças e atua através do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Para adultos, polícia pura e simples. Delegacia. Não pode haver dúvida.

Como fica a política de cotas?

Uma das ideias é a prevalência do mérito. O País deve chegar ao momento que não precisará de cotas. É remendo. Mas eliminar agora? É preciso equilíbrio. Que tal ensino complementar aos desassistidos? Pobre branco de olhos azuis não tem direito? Se a ideia da prevalência do mérito for acolhida, estudaremos soluções não traumáticas. Querem atribuir ao Bolsonaro a condição ditatorial. É chamado até de nazistas. É mentira deslavada.

Como ficam Prouni e Fies?

O financiamento precisa continuar. Os mais talentosos entre os pobres têm de ter acesso ao nível superior. O Prouni requer estudo, mas não vejo razão para pensar em acabar.

Por que revisar o currículo?

É muito forte a ideia de revisão dos processos curriculares, das bibliografias. Isso precisa ser muito cuidado para não termos absurdos que vimos na TV, como a distribuição de livros que deixam qualquer mãe estupefata. Determinadas coisas são responsabilidade dos pais. A escola não tem de influenciar para uma direção ideológica. Estamos colocando revisão completa dessas questões curriculares.

O senhor se disse a favor de retirar livros sem “a verdade” sobre 64.

A única coisa que vou falar sobre 64 é que só aceito ler e debater aspectos do regime à luz da liberdade e de praticar a verdade, a coragem e a ética.

O senhor entende que os livros erram ao tratar como golpe?

A questão de golpe é a menor. Há quem diga que o afastamento da Dilma, feito no âmbito do Congresso, foi golpe. Mas sonegar para crianças o que ocorreu? Não concordo. Quando você trata dos problemas e das mortes – e guerra traz mortes -, tem de tratar dos dois lados. Existe a verdade. Ela nem sempre tem sido retratada.

Como pensa em atacar isso?

Orientar toda a cadeia de gestão, até o professor na sala de aula, que nós buscamos a paz e a harmonia através da democracia e de praticar a verdade. E não usar mentira e canalhice. E aí é a mudança que o Bolsonaro ofereceu ao povo e que foi acolhida majoritariamente.

Parada de crianças em uniforme da Mocidade Portuguesa, durante o salazarismo.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

5 − quatro =