A comunicação é uma arma. Apontada para as nossas cabeças

O dia 18 de outubro se tornou, internacionalmente, o dia da democratização da comunicação. No Brasil, uma desonesta campanha dos tradicionais meios de comunicação equivaleu a expressão “democratização dos meios de comunicação” a “controle”

Por Miguel Stédile, da Página do MST

O dia 18 de outubro se tornou, internacionalmente, o dia da democratização da comunicação. No Brasil, uma desonesta campanha dos tradicionais meios de comunicação equivaleu a expressão “democratização dos meios de comunicação” a “controle” ou “censura” dos meios.

Porém, basta uma breve leitura nos documentos do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), que reúne centenas de organizações da sociedade civil, para que a verdade se revele: a informação e a comunicação são direitos imprescindíveis para construir uma sociedade democrática e mais justa.

Vejamos, por exemplo, algumas das propostas do “Carta – compromisso em defesa da Democracia e por uma Comunicação e Democracia no Brasil”, divulgado pelo FNDC: construir um amplo debate na sociedade sobre a comunicação; respeitar o dispositivo constitucional que determina a complementariedade entre o sistema público, privado e estatal; o processo de outorga da radiofusão deve ser pautada pela transparência; desenvolver políticas de universalização da internet. “Debater”, “Respeitar a Constituição”, “Transparência” e “Universalização”. Estas não são palavras que remetem ao autoritarismo, à opressão e a cassação de direitos como querem fazer pensar os opositores da democratização. Ao contrário, são medidas fundamentais para aprofundar a democracia como um todo.

Por outro lado, o cenário que temos vivenciado nestas eleições demonstra a necessidade e a urgência da sociedade brasileira debater e construir esta democratização dos meios de comunicação. A alta concentração dos meios de comunicação privados no nosso país permitiu a difusão de um discurso uníssono, ou seja, unânime e homogêneo de incentivo a apolitização, de reafirmação do senso comum, ao invés de aprofundar as grandes questões nacionais (o que é a corrupção? A classe política é corruptível, mas quem é o corruptor? Quais as causas dos problemas de segurança? E da crise econômica?).

Isto se tratarmos apenas dos movimentos sutis e desconsiderarmos as chamadas ao vivo e a cobertura da rede Globo para atos pelo golpe. Bem como, pelo protagonismo dado a movimentos beligerantes como aqueles que agora apoiam o deputado carioca Jair Bolsonaro, sem contar a defesa aberta da Rede Record à campanha, incluindo o constrangimento moral aos jornalistas, como revela reportagem do The Intercept.

Ainda assim, não é apenas o apoio claro ou colateral dos grandes conglomerados de mídia que tem movimentado esta campanha. Se Trump se elegeu graças ao Facebook – máquina de venda de dados privados para campanhas eleitorais – Bolsonaro tentará se eleger graças a difusão de mentiras (o asséptico fake news) distribuído por redes sociais e, em especial, pelo Whatsapp. Não se trata de nenhuma esperteza de marketing.

O jornalista Andrew Kobytko detalhou em seu livro “Guerras Híbridas” (Expressão Popular, 2018) como os Estados Unidos alimentam a combinação de “revoluções coloridas” e guerras não convencionais para desestabilizarem e substituírem governos, através das redes sociais. Partindo do estudo de caso da Síria e da Ucrânia, o autor constrói um novo conceito, cujo modo de operação pode ser facilmente identificado em outros conflitos no Oriente Médio e na América Latina. A Guerra Híbrida é o modelo de intervenção para o século XXI.

Não é surpresa que muitos números da campanha de Bolsonaro sejam de telefones nos Estados Unidos.

Um sistema de comunicação plural, com interesses públicos e dirigido pelo compromisso com a verdade, seria fundamental para combater e dissuadir estas mentiras propagadas pelas redes sociais. Um sistema democrático e plural, como propõe o FNDC, seria determinante para impedir mandatos autoritários e para defender a sociedade de devaneios fascistas. A democracia é um sistema de participação, e participa melhor quem tem mais acesso à informação e pode decidir o que fazer diante do que conhece. Sem a democratização da comunicação, corremos o grave risco de mergulharmos no obscurantismo. Em muitos e nos piores sentidos.

Divulgação: CUT.

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