A Parte Podre da Igreja Católica

O candidato fascista à Presidência da República, falando a um grupo de latifundiários que não querem a demarcação de áreas indígenas, ataca o Conselho Indigenista Missionário, CIMI, organização da Igreja Católica que atua junto aos povos indígenas em defesa de seus direitos.

Mas não se atém ao CIMI. No vídeo que chegou ao público brasileiro pelas redes sociais, o candidato da extrema direita vai mais longe: diz que a CNBB é a parte podre da Igreja Católica.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é um colegiado episcopal que representa o conjunto da Igreja do Brasil. É a cabeça de todo o corpo.

A Colegialidade sempre houve no cristianismo em sua tradição católica, desde o tempo dos primeiros apóstolos que se reuniram em Jerusalém depois da Ressurreição de Jesus e decidiam em conjunto como fazer para viver e anunciar o que aprenderam do Mestre.

Mas as formas modernas de Colegialidade, como as Conferências Episcopais nacionais ganharam força com o Concílio Vaticano II realizado entre 1962 a 1965.

Dom Helder Câmara ajudou a criar a CNBB e foi seu primeiro Secretário Geral.

Por sua Presidência passaram bispos de enorme envergadura, como Dom Aloísio Lorscheider, Dom Ivo Lorscheiter, Dom Luciano Mendes de Almeida, já falecidos, além de Dom Jaime Chemello, hoje emérito da diocese de Pelotas.

Hoje é presidida pelo Cardeal de Brasília, Dom Sérgio Rocha, homem terno e sereno, homem de escuta e diálogo e de uma espiritualidade forte que transparece a todos que com ele se relacionam.

A CNBB é uma das instituições mais respeitadas pelo povo brasileiro, sempre ao longo da história recente do Brasil, com posições firmes e claras, mas equilibradas, coerentes e solidárias com o povo brasileiro. Não esqueçamos que o grande movimento para a superação da fome e da miséria, que resultou em ações de governo e de estado, nasceu numa Semana Social da CNBB, depois com desdobramentos intensos com Betinho e Dom Mauro Morelli.

O que fez o candidato ao chamar de “parte podre” a CNBB?

Desrespeitou e ofendeu a todos os católicos. Feriu a memória dos grandes que já partiram e presidiram a Conferência e que fizeram pela Nação muito mais que o deputado à trinta anos na Câmara. Ofendeu a honra de todos os ex-presidentes da entidade-cabeça da Igreja do Brasil. Mostrou falta de respeito com o Cardeal atual presidente.

Chamou a CNBB de “parte podre” porque se destaca defendendo os pobres e seus direitos.

Os ataques ao CIMI, à Pastoral da Terra, aos religiosos e religiosas que atuam junto ao povo pobre deste país em defesa de seus direitos, já vem de tempos. Somos vítimas de agressão, desprezo, perseguição e violência há décadas. Muitos testemunharam sua coerência com o Martírio, como Padre Josimo, Irmã Adelaide Molinari, Padre Exequiel Ramim, Padre Burniê, Irmã Doroty, Santo Dias da Silva, só para citar alguns.

O CIMI é o maior testemunho de uma pastoral de risco, evangelicamente solidária com os mais pobres entre os pobres, sinal real do Senhor Crucificado e Ressuscitado entre nós.

Temos casca grossa e sabemos que somos atacados e por que o somos, às vezes até por católicos, que pensam que religião é só rezar para aliviar a consciência sem se envolver com a dor dos pobres de hoje. Ou católicos ricos que usam da Igreja para defender seus interesses de classe e excluir dela os pobres, que então buscam Jesus em outras denominações.

Mas quando se faz um ataque deste quilate à Cabeça da Igreja, é sinal de que o conservadorismo violento deu um passo à frente. Quer intimidar toda a Igreja de Cristo no Brasil.

Lembro uma frase de Jesus: “ se fazem isto ao lenho verde, o que farão com o seco?”

O lenho seco somos nós das pastorais sociais, misturados com as dores, as alegrias e esperanças dos pobres, os preferidos de Jesus. Se for eleito – luto para que não seja – tristes dias espera o povo e nós com ele.

Responderemos com as atitudes de sempre. Perdoar, mesmo sabendo “que sabem o que fazem” e que interesses defendem. Jesus pediu até o perdão aos inimigos, reconhecendo que o Evangelho do Reino tem inimigos. O perdão cristão pessoal não significa ceder um milímetro na defesa dos pobres e dos perseguidos.

Por que isto, além de amor e paz como referenciais para a vida e a convivência, encontrarão em nós solidariedade com os pobres e destemor e firmeza em sua defesa, mesmo com as todas as implicações que daí virão. Não nos intimidarão, pois Jesus nos diz: “tenham coragem, eu venci o mundo”.

E dirijo humildemente minha prece ao Pai para que os atuais bispos do Brasil se inspirem no nosso único Mestre Comum, Jesus de Nazaré e na memória sempre viva de Hélder, Aloísio, Ivo, Luciano, e tantos outros, nestes tempos difíceis de nossa história nacional.

Imagem: Samuel Bono /Repórter Brasil

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