Educação e Relações Exteriores serão ministérios com a cara de Bolsonaro. Por Leonardo Sakamoto

No blog do Sakamoto

O presidente eleito Jair Bolsonaro está decidindo o seu programa de governo agora que ganhou a eleição montando seu ministério. Após idas e vindas, involuntárias ou propositais, alguns nomes escolhidos levantaram mais polêmica que outros, como os futuros ministros da Educação, o professor Ricardo Vélez Rodríguez, e das Relações Exteriores, o diplomata Ernesto Araújo.

Por conta disso, os dois temas estiveram em destaque na mídia nos últimos dias. Seja por causa de textos publicados por eles, seja pela insanidade coletiva das redes sociais, temos a impressão que essas áreas ganharam novas prioridades.

Diante disso, sugiro um breve teste:

1) Qual o principal problema na Educação no Brasil?

a) Formação precária dos docentes e alunos que saem do Ensino Médio analfabetos funcionais
b) Roubo, ausência ou baixa qualidade de merenda escolar
c) Baixos salários de professores e falta de estrutura nas escolas
d) Teto orçamentário restringindo investimentos na área
e) Doutrinação gayzista-globalista-político-partidária por militantes comunistas travestidos de professores

2) Qual o principal desafio do Brasil nas Relações Exteriores?

a) Ampliar acordos multilaterais e bilaterais para fomentar crescimento em nossa economia
b) Garantir uma relação pacífica com a maior quantidade possível de nações
c) Firmar-se como principal liderança em energia limpa e políticas contra mudanças climáticas
d) Concretizar uma integração regional na América do Sul profunda e condizente com os interesses brasileiros, nos âmbitos comercial, regulatório, migratório, e de infraestrutura
e) Promover o America First e Make America Great Again

Eu poderia dizer que se você escolheu a letra ”e” em qualquer uma das questões, está precisando conhecer um pouco mais a realidade de seu país para além de seu grupo de WhatsApp.

Jair Bolsonaro, repetidas vezes, atacou a ”ideologia” como um dos principais males do Brasil. Segundo ele, durante a campanha eleitoral, ”a questão ideológica é tão, ou mais grave, que a corrupção. São dois males a ser combatidos”. E, agora, escolhe profissionais que prometem erguer bandeiras ideológicas que ele defendeu na campanha.

O que nos leva a crer que o problema não é a ideologia, mas a ideologia do outro. Se assim for, o macarthismo à brasileira, cintilando com as purpurinas da hipocrisia, não vai ser algo bonito de se ver desfilar.

Um governo que prioriza o combate ao ”comunismo” como uma das principais chagas do país acaba deixando de lado os problemas reais que precisam de solução urgente.

Mas combater fantasmas é algo muito mais fácil do que problemas reais. Com a vantagem que você pode atribuir a eles tudo o que quiser, transformando algo insignificante em um inimigo terrível. Animando, assim, as turmas do fundamentalismo religioso e da extrema direita, aliados de primeira hora, cujo engajamento é peça-chave para um governo que pretende manter a campanha eleitoral acesa até o seu último dia.

Criar monstros para entreter a massa ultrapolarizada é coisa que, há tempos, sabemos fazer muito bem por aqui. O que me leva a uma terceira questão:

3) Qual o maior problema na Saúde do país?

a) Estrutura pública de atendimento insuficiente ou inexistente, como hospitais, postos de saúde, leitos, ambulâncias, remédios
b) Planos de saúde privados que entregam cada vez menos cobrando cada vez mais
c) Falta de saneamento básico e de uma política para universalizar o atendimento médico no nível da atenção básica
d) Falta de profissionais em todas as categorias da saúde, como médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, dentistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, biomédicos e agentes de saúde pública
e) Cuba

Hieronymus Bosch: detalhe de “O jardim das delícias”

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