Procuradores do MP do B se reúnem para defender Escola sem Partido e incentivam estratégia de gravação de professores por alunos

Grupo do Ministério Público se reuniu nesta quinta em Brasília em congresso “Pró-Sociedade”

Por Natália Portinari, na Época

Na manhã desta quinta-feira, sexo oral, orgias, pênis eretos e homossexualidade foram o tema de uma palestra de Guilherme Schelb, procurador regional da República, para cerca de 40 colegas de Ministério Público. Com o auxílio de imagens, ele mostrou conteúdo que, segundo ele, foi exposto a crianças e adolescentes. “A situação é grave. Você acha que uma menina de 14 anos está consciente para fazer sexo?”, questionou.

Era a primeira edição do “Congresso Nacional do MP Pró-Sociedade”, planejado por ativistas conservadores brasilienses da corporação. Entre as presenças ilustres estavam a deputada federal eleita Bia Kicis (PRP-DF), ex-procuradora e ativista da página Revoltados On Line, com centenas de milhares de seguidores, e o advogado Miguel Nagib, fundador do movimento Escola sem Partido.

A palestra de Schelb, brevemente cotado para o ministério da Educação na semana passada, se chamava “Pornografia infantil X arte. Manifestação cultural ou crime?”. Enquanto ele falava, Kicis usava pequeno um tripé no celular para transmitir a palestra em rede social.

Sorridente e articulado, Schelb não economizou nas ilustrações de seus pontos. Discursou na frente de uma imagem de um homem com ejaculação sobre seu rosto e, depois, exibiu um pênis ereto para a plateia. As duas cenas foram expostas a crianças, disse, sem explicar como, nem onde. (Questionado depois, o procurador disse que são imagens da exposição “Queermuseu”).

Depois, Schelb passou um vídeo com uma cena de sexo oral e pediu para algum dos presentes subisse ao palco e lesse um trecho de um livro organizado por Ana Maria Machado, autora conhecida por seus trabalhos para o público infantojuvenil. Disse que, sendo o texto pornográfico, tinha vergonha de lê-lo em voz alta. Uma procuradora aceitou o desafio e pegou o microfone.

“Estão me devendo xarope, meia, cinema, filé mignon e buceta, anda logo. Dei-lhe um murro na cabeça. Ela caiu na cama, uma marca vermelha na cara. Não tiro. Arranquei a camisola, a calcinha. Ela estava sem sutiã. Abri-lhe as pernas. Coloquei os meus joelhos sobre as suas coxas. Ela tinha uma pentelheira basta e negra. Ficou quieta, com olhos fechados. Entrar naquela floresta escura não foi fácil, a buceta era apertada e seca. Curvei-me, abri a vagina e cuspi lá dentro, grossas cusparadas. Mesmo assim não foi fácil, sentia o meu pau esfolando. Deu um gemido quando enfiei o cacete com toda força até o fim. Enquanto enfiava e tirava o pau eu lambia os peitos dela, a orelha, o pescoço, passava o dedo de leve no seu cu, alisava sua bunda. Meu pau começou a ficar lubrificado pelos sucos da sua vagina, agora morna e viscosa.”

Durante a leitura, procuradores ficaram chocados e se queixavam. “Já dá pra parar”, se ouvia. Alguns perguntaram o nome do livro. Era o “Leituras de Escritor”, uma antologia de textos com nomes como Mário de Andrade, Virginia Woolf e Julio Cortázar. O nome da escola? “Poderia estar em qualquer lista recomendada pelo MEC”, argumentou. Para os presentes, ficou no ar que a autora seria Machado, mas na verdade o trecho é do conto “O Cobrador”, escrito por Rubem Fonseca, que retrata a mente de um psicopata. Procurada, Machado disse que a coletânea é para adultos.

“Esse livro é como iogurte, tem um prazo de validade. Nós vamos mudar as diretrizes de livros didáticos nas escolas”, afirmou Schelb, frisando que o trabalho de Bia Kicis como parlamentar seria essencial. Ativistas de direita de diversos setores lutam para interferir na curadoria do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), responsável por decidir quais são títulos para o próximo triênio escolar.

Depois, o procurador exibiu uma reportagem da TV Record sobre uma escola localizada em Contagem (MG), em que crianças de 10 a 12 anos receberam uma lição de casa com a pergunta “O que é sexo oral?”. Schelb também fez uma exposição sobre Herbert Marcuse, filósofo e sociólogo alemão associado à Escola de Frankfurt, de pensadores marxistas.

“Vem de Marcuse a ideia de qualificar todo mundo que pensa diferente como fascista. Ele disse que é preciso respeitar a opinião de todos, exceto dos fascistas”, disse. A ideia citada por Schelb está no ensaio “Tolerância Repressiva”, publicado originalmente em 1965.

O objetivo final da palestra era expor como o direito pode ser uma ferramenta para ganhar a guerra cultural contra os esquerdistas nas escolas. Ele frisou o crime de importunação sexual, em que pode se enquadrar, segundo ele, a exposição de atos obscenos a crianças e adultos em momentos indesejados. Mostrar o pênis a um adulto no ônibus é equivalente a exibir pornografia para crianças, o que ocorre “até nas melhores escolas”, afirma.

Schelb argumentou, ainda, que é importante que as professoras usem jalecos em sala de aula para não exibirem os peitos para os alunos,  o que distrairia os meninos, e que criminalizar a homofobia pode ser como “aplicar uma vacina de febre amarela onde não existe registro da doença há 20 anos”.

Schelb instruiu, também, a incentivar alunos a gravar aulas de professores que façam “doutrinação política” ou exponham crianças a sexualidade. Segundo ele, o objetivo é entrar com ações por danos morais baseadas nessas gravações. “Tudo é dano moral”, brincou. “O promotor pode arquivar a representação (penal), mas a ação por danos morais continua.”

“Esse evento é importante para lembrar à sociedade que o Ministério Público está atento aos direitos das vítimas, não só dos réus”, afirmou o organizador, Renato Barão Varalda, promotor do Ministério Público do Distrito Federal. “Os direitos humanos também são para as vítimas, e temos que reafirmar isso sempre.” Entre os promotores e procuradores,o clima era de otimismo com o futuro governo, com esperança de que os futuros ministros serão aliados da causa conservadora nas escolas.

Destaque: Cena do filme Fahrenheit 451

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