Veículos da empresa estão proibidos de passar pela estrada da comunidade há quinze dias
Fernanda Couzemenco, no Século Diário
A comunidade indígena de Areal, em Linhares, bloqueou, há quinze dias, o trânsito de veículos da Petrobras sobre a estrada que atravessa a localidade. O objetivo é pressionar a empresa a realizar melhorias na estrada e outros benefícios, como forma de indenização pela ocupação do território para exploração de petróleo há décadas.
De fato, a pequena Areal é inteiramente cortada por dutos de petróleo, instalados a poucos metros das residências. Moradores são obrigados a conviver com a presença ameaçadora das estruturas da Petrobras e suas subsidiárias. Crianças brincam sobre os dutos e já houve casos de explosão. A comunidade, no entanto, não recebeu nenhuma medida compensatória e os royalties pagos ao Município ainda não foram aplicados em equipamentos públicos essenciais. Há apenas uma escola de ensino fundamental 1 e nenhuma estrutura de saúde, sequer ambulância.
“É uma dívida de 45 anos! A Petrobras está na terra nossa terra todo esse tempo e não trouxe benefício algum, nem mesmo emprego!”, denuncia o estudante universitário e professor Rômulo de Barcelos Rosa.
Além da estrada, a pauta inicial de reivindicações inclui: doação de ambulância e de carro de apoio; criação de posto ou ponto de apoio para saúde; cursos de capacitação para moradores, principalmente jovens; fortalecimento dos trabalhos das mulheres; construção ou aprimoramento da área de lazer da comunidade; tratamento de água.
Segundo moradores ouvidos pela reportagem, funcionários da Petrobras estiveram na comunidade para conversar, mas não firmaram qualquer compromisso em atender as solicitações. “Nós só vamos liberar a estrada quando a empresa der garantias de que vai nos atender”, diz José Mobel.
Em um vídeo que circula nas redes sociais locais, um homem com macacão laranja alega que a empresa fez a sua parte, ao marcar uma reunião dos manifestantes com a prefeitura, sendo retrucado por uma moradora que afirma não ter chegado ainda qualquer melhoria para a comunidade.
“Tem toda uma riqueza extraída daqui, sem nenhum retorno”, conta o professor Rômulo. Além da Petrobras, o estudante menciona a omissão da Prefeitura de Linhares. “O município também tem uma dívida histórica com a comunidade. Areal tem mais de 150 anos, é muito mais velha que muitos bairros da cidade”, argumenta. Município e empresa, informa Rômulo, atribuem responsabilidades um ao outro há anos “É um jogo de empurra”, reclama.
Botocudos
A Areal está em processo de reconhecimento como comunidade indígena botocuda com ramificação Tupinikim. Eduardo Carlos (Elson), conta que os estudos iniciais foram feitos, ao longo de cinco anos, pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e estão com o Ministério Público Federal de Linhares (MPF/ES).
Os estudos indicam sítios arqueológicos e uma relação dos botocudos de Areal com as famílias de Comboios e outras aldeias Tupinikim de Aracruz, que foram separadas de forma forçada durante o início da formação dos atuais municípios. Nessa configuração, as famílias que ficaram em Linhares foram excluídas do processo de reconhecimento como aldeia indígena que ocorreu em Aracruz. “Ficamos esquecidos na história”, diz Rômulo.
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Imagem: Leonardo Sá