Tomaz Amorim reproduz em sua coluna a resposta de uma senadora boliviana ao comentário racista feito por um deputado carioca do partido de Bolsonaro. “Tragam-no para que nós, as ‘índias’, o ensinemos sua própria história, tragam-no para que veja como um país de ‘índios’ dá aulas de humanidade, humildade, honestidade e sacrifício”
Na Fórum
O deputado estadual recém-eleito do PSL do Rio de Janeiro, Rodrigo Amorim, com a truculência infantil típica que se tornou comum nos noticiários do Brasil, acreditava ofender os bolivianos quando disse: “Quem gosta de índio, que vá para a Bolívia, que, além de ser comunista, ainda é presidida por um índio”. O deputado, atento ou não para o risco de criar um incidente diplomático muito distante de sua alçada de deputado fluminense, disse a frase ao defender, entre outras coisas, que a Aldeia Maracanã, espaço onde funcionou o Museu de Índio e onde hoje vivem famílias de indígenas, fosse transformada em “estacionamento ou shopping”.
O racismo expresso é evidente e característico de um país sem história, de um país com “as ideias fora do lugar”, que fala e pensa como se morasse em algum outro lugar, neste caso, em um lugar em que não há índios, em que não se gosta de índios. O problema é que o Brasil e o Rio de Janeiro, especificamente, são territórios extremamente indígenas.
A psicanálise ajuda a explicar este ódio ao outro dirigido a si – odiar o índio em si, odiar-se por não ser branco, europeu o bastante, odiar para expurgar de si o índio. Pois bem, nossos irmãos e camaradas bolivianos têm muitíssimo a nos ensinar em questão de conhecer e valorizar a própria história, reconhecer e amar a diversidade de seus próprios povos. A afirmação do deputado não passou batido e Adriana Salvatierra, senadora boliviana de 29 anos, respondeu o comentário do deputado com uma postagem em seu Facebook que traduzimos e reproduzimos abaixo. A elegância de quem convida um adversário raivoso para conhecer aquilo que ele ignora e odeia é uma das qualidades da réplica curta, mas incisiva. É a raiva contra si mesmo respondida com uma lição de orgulho.
*
Sim, venham!
Venham para que vejam como uma sociedade promove a integração, o respeito às identidades e luta abertamente contra a discriminação e o racismo.
Venham para que vejam como uma mulher “índia” pode ser deputada, senadora ou presidenta. E aqui, na Bolívia, é respeitada e sua voz é ouvida.
Venham! Por favor! Para que aprendam como o estado tem por lei o compromisso de respeitar os territórios e não os asfixia com pobreza para promover as plantações transgênicas em posse de apenas cinco famílias.
Venham. Conhecerão um povo que valoriza suas origens e sua história, um povo que despreza a exploração e a opressão. Aqui aprenderão o que é a verdadeira autoestima de um povo que não esconde suas cores.
Mas tragam-nos este deputado. Para que ele percorra os territórios indígenas e veja também como lutam todos os dias nas cidades para manter sua cultura e avançar junto com o país. Se o trouxerem, lhe ensinaremos como os índios governam, não para uma classe, para um grupo de famílias, mas para todo um país. Tragam-no para que nós, as “índias”, o ensinemos sua própria história, tragam-no para que veja como um país de “índios” dá aulas de humanidade, humildade, honestidade e sacrifício. É assim que são as bolivianas e os bolivianos, e nos sentimos orgulhosos!”
–
Adriana Salvatierra, senadora boliviana de 29 anos. Foto: Reprodução El Deber
Ela foi precisa. Ela me representa ??