No Panamá, jovens indígenas brasileiros denunciam realidade de violência contra os povos originários

Durante Encontro Mundial da Juventude Indígena, a delegação do Brasil relatará a espinhosa realidade dos povos frente a invasões de seus territórios tradicionais pelo agronegócio e as violações dos direitos constitucionais do atual governo

Cimi

Em encontro que inicia hoje (17) na cidade de Soloy, no Panamá, jovens indígenas no Brasil se reunirão com outras representações indígenas para debater a situação dos povos tradicionais no mundo. A delegação brasileira de 10 jovens indígenas integrará o grupo de aproximadamente uma centena que se reúne no Encontro Mundial da Juventude Indígena. O evento antecede a Jornada Mundial da Juventude, que reunirá aproximadamente 200 mil jovens de 150 países com o papa Francisco.

Desde a Carta Encíclica Laudato Si, documento papal sobre o cuidado com a Casa Comum, Francisco tem direcionado atenção especial para a Amazônia e para os Povos Indígenas. Frequentes são as denúncias do Latino Americano sobre as “forças de destruição” presentes nos “pulmões do planeta” (cf. LS 33), como as várias formas de violência e abuso, no abandono dos mais frágeis, nos ataques contra a natureza (cf. LS 66). Em 2015, quando esteve na Bolívia, o bispo de Roma, em crítica ao capitalismo o qual nominou como “ditadura sutil”, convocou os movimentos sociais a trabalharem “pela união dos povos e preservação da natureza”.

O papa escuta os clamores dos povos e o protagonismo da juventude indígena fará chegar ao líder católico, novamente, as “culturas de morte” que ameaçam sua vida e território. A invasão das terras indígenas pelo agronegócio e as ameaças de exploração dos recursos minerais, desmatamento indevido e a violência e atuação de fazendeiros nos territórios tradicionais estarão em pauta no encontro que segue até 21 de janeiro. Será momento para refletir, também, a presença da Igreja na atuação junto aos povos e comunidades tradicionais.

Representando o Brasil, participam do encontro jovens indígenas dos povos Tukano, Baré, Tikuna, do AM; Pataxó Hã-Hã-Hãe, da BA; Guajajara, do MA; Guarani Kaiowá, do MS; Macuxi, de RR e Karipuna, de RO.

“Estaremos levando as riquezas ancestrais e a força da espiritualidade e da resistência, em garantir o cuidado da Mãe Terra, dos rios, das florestas e guardiões e cuidadores da Casa Comum”, discorre documento redatado pelo grupo. “A casa comum, morada de todos os seres vivos, está sendo ameaçados e atacados pelos projetos de morte em nome da capital econômico”, denunciam. Os indígenas levarão para a esfera internacional os as violências sofridas recentemente pelos povos Arara, no Pará, Guarani no Rio Grande do Sul, Uru Eu Wau Wau e Karipuna, em Rondônia.

“Será uma oportunidade de responder ao convite do papa Francisco feito a juventude, de sermos agradecido pela história dos nossos povos e valente frente aos desafios que nos envolvem para seguir adiante cheios de esperança na construção de outro mundo possível”, afirma a carta convocatória do encontro.

Delegação Brasileira

A delegação do Brasil terá como eixos de participação o debate pelo respeito a cultura e as diversidades étnicas; a proteção dos territórios indígena, para que se evite novos mártires e mortes; a lutar pela demarcação das terras indígenas. Os jovens brasileiros apresentarão as seguintes realidades em encontro de cinco dias:

  1. Invasão do agronegócio nas terras indígenas e as ameaças de exploração dos recursos minerais. São práticas que ameaçam as terras tradicionais preservadas pelos indígenas
  2. Ameaça e criminalização de lideranças indígenas
  3. Poluição e envenenamento dos rios
  4. Crescente desmatamento devido a invasão dos fazendeiros, grileiros e madeireiros em terras indígenas.
  5. A preocupação em relação ao decreto do presidente Jair Bolsonaro, que facilita a compra de armas de fogo no Brasil. Os indígenas serão mais vulneráveis pela violência alimentada pelo agronegócio
  6. A proliferação do alcoolismo, drogas, tráfico humano, prostituição nas comunidades indígenas.
  7. Violação dos direitos constitucionais e a insegurança de comunidades indígenas que estão a mercê da extinção e redução das terras tradicionais

1º Encontro da Juventude Xakriabá, agosto de 2017. Foto: Guilherme Cavalli/Cimi

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