Bradesco, Mitsui, BNDES, fundos de pensão: saiba quem são os donos da Vale

Bradespar, Litel Participações (Previ, Petros, Funcef), BNDESpar e a japonesa Mitsui controlam 38% das ações; outros 48% estão com investidores estrangeiros da Bolsa de Nova York e da Bovespa

Por Alceu Luís Castilho e Leonardo Fuhrmann, em De Olho nos Ruralistas

Quem são os principais acionistas da Vale? Ou, em outras palavras, os beneficiários dos lucros obtidos em empreendimentos como o de Brumadinho (MG)? A composição acionária no dia 28 de dezembro, segundo documento divulgado pela empresa, era a seguinte:

Litel e Litela Participações S/A: 20,99%

Quem é?

Empresa reúne fundos de pensão, em especial Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Petros (Petrobras).

Total de ações da Vale: 1.075.773.534.

Valor das ações em dólares: US$ 14 bilhões.

BNDESPar: 6,68%

Quem é?

Holding do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Total de ações da Vale: 342.484.176.

Valor das ações em dólares: US$ 4,46 bilhões.

Bradespar: 5,78%

Quem é?

Administradora das participações acionárias do Bradesco.

Total de ações da Vale: 296.009.366.

Valor das ações em dólares: US$ 3,85 bilhões.

Mitsui & co: 5,59%

Quem é?

Multinacional japonesa com atuação no sistema financeiro e no agronegócio, entre outros setores. Marcas conhecidas: Sharp e Café Brasileiro.

Total de ações da Vale: 286.347.055.

Valor das ações em dólares: US$ 3,73 bilhões.

As quatro empresas listadas acima – as quatro acionistas principais – somam US$ 26,05 bilhões em ações da Vale S/A. Isso significa 38,03% do total.

INVESTIDORES ESTRANGEIROS POSSUEM 48% DAS AÇÕES

O documento do Departamento de Relações com Investidores da mineradora informa ainda que 47,74% pertencem a investidores estrangeiros, por meio da Bolsa de Nova York e da Bovespa, com um total de US$ 31,86 bilhões em ações. Esse percentual não inclui a Mitsui. São quase 2,5 bilhões de ações.

As ações da Vale caíram 24% nesta segunda-feira, diante da repercussão da tragédia em Brumadinho. O recuo do índice Bovespa foi de 2,29%. A Bovespa compõe 24,11% do total de ações da Vale. A Bolsa de Nova York, 23,63%.

O balanço de 2017 da Vale, divulgado em abril do ano passado, mencionava 8,1% de ações com a empresa Capital Research and Management Company. Ela pertence ao estadunidense Capital Group, que administra US$ 1,7 trilhão de investimentos pelo mundo.

O mesmo balanço cita outra empresa dos Estados Unidos, a Blackrock, com 6% do total das ações. Dados deste mês da Econodata, com base em informações da Bovespa, confirmam o nome da Blackrock e a mesma participação de 6%, mas trazem algumas variações no percentual dos demais grupos.

PRESIDENTE DA EMPRESA APARECE MAIS QUE OS DONOS

Os investidores brasileiros compõem outros 13,24% da cartela acionária da mineradora. Esse subtotal está dividido entre “investidores institucionais”, com 6,48%; pessoas físicas, com 6,76%.

O rol das pessoas físicas possui uma nova subdivisão: uma genérica para pessoas físicas, com 5,65% do total das ações da Vale; outra mais específica, para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), com 1,07% do total. Os Papéis de Índice Brasil Bovespa (PIBB) entram com 0,04% do total.

Esses números não incluem as participações de BNDESPar, Bradespar e dos fundos de pensão. A divisão interna na Litel Participações é a seguinte: BB Carteira Ativa, ou seja, Previ, 80,6%; Carteira Ativa II Fia, ou seja, Funcef, 11,5%; e Petros, 6,94%. (Ou seja, a Previ controla quatro entre cinco ações da Litel na Vale, cerca de R$ 11 bilhões.)

Os dados acima se tornam mais relevantes na medida em que, após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG), pouco se falou nos controladores da empresa. No máximo ficou em evidência seu principal executivo, o presidente Fabio Schvartsman. Foi ele quem apareceu para falar sobre o crime ambiental que já deixou, desde o sábado (26/01), um saldo de 65 mortos e 292 desaparecidos.

Schvartsman, no entanto, é apenas um acionista individual da empresa. Ele presidiu duas gigantes da celulose no Brasil, a Klabin e a Duratex.

BNDES PARTICIPA DE MAIS DE 120 EMPRESAS

O BNDES Participações tem 7,6% das ações com voto da Vale, conforme o levantamento da Econodata. Segundo dados de setembro de 2018, divulgados em dezembro, tinha participação em mais de 120 empresas, de diversos setores. Entre elas, gigantes públicas e privadas como Klabin, Gerdau, Odebrecht, Suzano, Eletropaulo, Transnordestina, Suzano Papel e Celulose, Petrobras, JBS, MRV Engenharia, Fibria, Cyrela, Eletrobrás e Cosan.

Os recursos são do próprio banco e tem as seguintes origens: empréstimos ou doações de entidades nacionais, internacionais ou estrangeiras; recursos colocados à sua disposição pelo BNDES e outras agências financeiras da União e dos Estados; recursos oriundos de captação realizada pela BNDESPar nos mercados interno e externo de capitais; rendimentos provenientes de suas operações, outras operações financeiras ou resultantes de prestação de serviços.

A Litel Participações (19,1% das ações com direito a voto, segundo a Econodata) e uma nova empresa formada a partir dela, a Litela (1,8% das ações com voto), representam os fundos de pensão estatais dentro da Vale desde a privatização.

O Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, o Petros, da Petrobras, o Funcef, da Caixa Econômica Federal, e o Funcesp, dos funcionários da Companhia Energética de São Paulo fazem parte do controle acionário. As duas empresas existem exclusivamente para tratar dos interesses dos quatro fundos na Vale.

Criado para a administração do Bradesco, o Bradescopar está com 6,3% das ações com direito a voto, ainda conforme a Econodata. Esse fundo inclui diferentes empresas ligadas à gestão do banco, inclusive a Fundação Bradesco. Entre os beneficiados estão Lia Maria Aguiar, filha do fundador do banco, Amador Aguiar, e Lázaro de Mello Brandão, sucessor de Aguiar na gestão do Bradesco.

MITSUI FOI FLAGRADA COM AGROTÓXICOS ILEGAIS

A multifacetada japonesa Mitsui – um dos maiores grupos empresariais daquele país – também possui atividade intensa no agronegócio brasileiro. Segundo a Econodata, ela possui 5,4% das ações da Vale com direito a voto. A empresa atua no Brasil na produção de grãos em pelo menos 87 mil hectares na Bahia, no Maranhão e em Minas Gerais e Mato Grosso. Na mineração, além da Vale, é sócia da Alunorte, no Maranhão.

Além de produzir soja, algodão e milho, a Mitsui tem duas unidades de beneficiamento de algodão e uma unidade de beneficiamento de semente de soja. A empresa também atua na fabricação e distribuição de alimentos, onde tem como principal marca o café Brasileiro. A empresa tem atividades no setor químico, inclusive com produção de agrotóxicos, nas áreas de construção, transportes, imobiliário, óleo e gás e energia.

A empresa já foi acusada de irregularidades no país. Em abril do ano passado, a Agrícola Xingu, uma de suas subsidiárias, foi multada, segundo o Ministério Público estadual da Bahia, em R$ 169 mil por armazenamento de agrotóxicos, na Fazenda Tabuleiro 5, em São Desidério. Os venenos não tinham registro na Agência de Defesa Agropecuária da Bahia.

No local foram interditados aproximadamente mil litros de benzoato de emamectina, “produto de uso controlado que não podia ser utilizado na propriedade” e apreendidos 20 litros de produtos “com suspeita de importação ilegal”. O produto comercializado pela Syngenta foi liberado em 2017, mas com restrições.

No setor de transporte de passageiros, a empresa foi implicada no cartel de trens e metrô, que teve sua principal base em São Paulo. Em dezembro, a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendou ao Tribunal da autarquia a condenação da Mitsui e de outras 15 empresas, além de 52 pessoas físicas por formação de cartel em licitações públicas de trens e metrôs realizadas em São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

A multinacional é citada como participante do conluio para participar do projeto da Linha 5 do Metrô de São Paulo, para a manutenção de trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e para a aquisição de 384 novos trens, entre 2007 e 2008. O grupo foi ainda mencionado no processo contra Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara.

A Mitsui também é sócia da Vale fora do Brasil. O deputado Luiz Nishimori (PR-PR), relator do PL do Veneno, promoveu a Mitsui em Moçambique, em 2012, quando chefiou delegação brasileira que divulgava as vantagens do ProSavana. O projeto – parceria entre Brasil, Japão e Moçambique – é considerado um exemplo internacional de land grabbing, quando grandes empresas internacionais se apropriam – mesmo que legalmente – de terras tradicionais.

Depois, o deputado seguiu para o Japão, onde relatou a viagem para Moçambique, na agência de cooperação internacional do país, e esteve na sede da Mitsui. Nishimori preside desde 2015 o Grupo Parlamentar Brasil Japão. E é o coordenador de Relações Internacionais da Frente Parlamentar da Agropecuária, o braço lobista institucionalizado – bancado por entidades do agronegócio – da bancada ruralista.

BLACKROCK ATUA EM MAIS DE CEM PAÍSES

A Vale também tem uma face na América do Norte: a empresa Blackrock tem 6% das suas ações com direito a voto. Ela é uma empresa de gestão de investimentos, risco e consultoria presente no Brasil desde 2008, quando formou seu primeiro fundo no país. Ao todo, possui escritórios em mais de trinta países e atua em mais de cem.

A Blackrock é responsável pela gestão de mais de 170 fundos e administrava, segundo o balanço de 2017, quase US$ 6,3 trilhões. No Brasil, o fundo da Blackrock tem ações de mais de 60 empresas, entre elas BRF, JBS, Marfrig (todas essas possuem também participação do BNDES), Ambev, Embraer, Cyrela, Estácio, Kroton Educacional, Raia Drogasil, Localiza, MRV Engenharia, Gol Linhas Aéreas e os bancos Itaú, Bradesco e Santander.

Foto: Fernanda Ligabue/Greenpeace

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