Pesquisadores da Universidade Federal falam sobre importância de investimentos para evitar interrupção dos estudos
Ana Carolina Caldas, Brasil de Fato
Você já imaginou ter em casa um reagente para descobrir se um alimento que você vai consumir contém agrotóxico? Pois esta é uma das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na Universidade Federal do Paraná (UFPR). No Brasil, 80% das pesquisas em ciência e tecnologia estão ligadas a programas de universidades públicas. Porém, com o corte de recursos federais que acontece desde 2017, esta e outras pesquisas estão em risco.
De 2010 a 2018 o orçamento para Ciência e Tecnologia passou de 10 bilhões para 1,4 bilhão. Coordenadora de estudos voltados para diminuir o uso de agrotóxicos, a professora. Elisa Orth, do curso de Química, da UFPR, diz que “as pesquisas envolvem recursos públicos para alunos de iniciação científica à pós-graduação com bolsas para que possam se dedicar. Sem este tempo, sem autonomia dos pesquisadores, as descobertas não seriam possíveis.” Para ela, os cortes que vêm acontecendo trazem um quadro preocupante. “A atual realidade nos assusta muito. Estamos tentando nos preparar, mas podem destruir a ciência brasileira.”
Para Elisa, sua missão é contribuir com a vida do brasileiro. Uma de suas linhas atuais de estudo é voltada para estoques de agrotóxicos. “Por exemplo, anualmente agrotóxicos vêm sendo proibidos. E o que foi comprado e está em barris? Tem que destruir aquilo. Nós queremos ajudar com reagentes para que aquele barril que é tóxico possa ser neutralizado”, explica.
Sensores para detectar contaminações em alimentos
Já o professor Ivo Hummelgen, do curso de Física da UFPR, realiza e coordena pesquisas com sensores eletrônicos que podem ser utilizados para detectar agrotóxicos nos alimentos. “Fizemos trabalhos em parceria com o setor de Patologia Básica da UFPR, em que começamos a trabalhar com morangos e descobrimos que através de um arranjo de sensores e uma análise da resposta deles é muito fácil de descobrir se um morango está contaminado com o fungo específico ou não. O mesmo se um morango é orgânico ou tem agrotóxico”, explica.
Essa linha de pesquisa vem sendo desenvolvida há cinco, com financiamento público voltado para alunos, infraestrutura e parcerias com Universidades da África do Sul.
Incentivos no governo Lula
A professora Elisa Orth recebeu, em 2015, o Prêmio L’Oréal para mulheres em Ciência, que faz parceria com a Academia Brasileira de Ciência e a Unesco. São escolhidos oito cientistas destaques no Brasil. “Fui uma das escolhidas e atribuo este e outros prêmios que recebi a todo o investimento público que tive durante o governo Lula”, destaca Elisa.
“Tínhamos aumentos dos valores das bolsas, peguei essa época em que tudo deslanchou, pude viajar para outros laboratórios para poder terminar parte da minha pesquisa. Não tenho dúvida que sem esses investimentos não teria sido premiada internacionalmente.
Só universidades públicas fazem pesquisa
Segundo pesquisa divulgada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), produzida pela Clarivate Analytics – ligada à multinacional Thomson Reuters, praticamente só há produção de pesquisa científica em universidades públicas e, nas empresas, apenas Petrobras e indústrias farmacêuticas realizam investimento relevante nessa área.
Edição: Laís Melo