Goiânia, Mariana e Brumadinho Nunca Mais! Segurança Nuclear e Segurança das Barragens de Rejeitos Radioativos
O International Uranium Film Festival do Rio de Janeiro – o festival de filmes da era atômica – é dedicado este ano à segurança nuclear e aos rompimentos de barragens de rejeitos de minérios como aconteceu tragicamente em novembro de 2015, em Mariana, e recentemente, em janeiro de 2019, em Brumadinho, ambos em Minas Gerais.
O Uranium Film Festival vai acontecer de 25 de maio a 2 de junho de 2019, na Cinemateca do MAM Rio. Além de exibir mais de 20 filmes, o festival também planeja um debate sobre „Segurança nuclear e barragens de rejeitos radioativos“ com especialistas e representantes de Brumadinho, Mariana, Poços de Caldas e da mina de urânio de Caetité.
A barragem de Brumadinho contém rejeitos da mineração de ferro igual a de Mariana que destruiu o Rio Doce e a vida ao longo de 600 quilômetros até a sua chagada ao mar. As consequências dos dois rompimentos foram catastróficas e, por décadas, o meio ambiente e a população brasileira nas regiões afetadas vão sofrer.
No entanto, as consequências poderiam ser ainda mais graves se as lamas contivessem não apenas metais tóxicos, mas também elementos radioativos. Este é o caso da antiga mina de urânio em Poços dos Caldas, no sul de Minas Gerais. A exploração da mina terminou em 1995, mas os rejeitos com elementos radioativos, como urânio, tório e rádio, da extinta mina de urânio ainda ocupam uma área de cem Maracanãs. São mais de 12 mil toneladas de resíduo radioativo.
Desde o colapso da barragem de Brumadinho, a população abaixo da antiga mina de urânio vive em estado de medo. Em fevereiro de 2019, o Ministério Público Federal recomendou às Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e à Comissão de Energia Nuclear (CNEN) a criação de um plano emergencial para a barragem de rejeitos radioativos ou nucleares em Caldas, no Estado de Minas Gerais. O alerta do MPF se baseou em um estudo da Universidade Federal de Ouro Preto que apontou que o sistema de escoamento da barragem está comprometido. Um vazamento com a lama radioativa de Caldas pode contaminar os rios Paraná e Grande, com reflexos para Argentina, Paraguai e Uruguai.
Rejeitos radioativos estão também sendo produzidos, desde 1999, nas minas de urânio em Caetité / Lagoa Real, no Estado da Bahia, onde já aconteceram vários vazamentos e irregularidades nos anos de 2000, 2002, 2004 e 2009.
Mas nem só as minas de urânio criam resíduos radioativos, porque elementos radioativos como urânio ou tório se encontram associados com vários outros minérios como nióbio, cassiterita, chumbo ou fosfato. Por isso, varias minas não-nucleares em todo o Brasil geram rejeitos radioativos que são empilhados ou depositados em barragens e pela lei são controlados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Até a exploração de petróleo gera rejeitos radioativos, que representam um risco permanente para a população e o meio ambiente, como foi revelado no final de janeiro de 2019 num acidente no Espírito Santo. Um incêndio de grandes proporções destruiu um depósito da Petrobrás perto da capital Vitória. Segundo a CNEN, o local onde ocorreu o incêndio, o Terminal Intermodal, armazenava temporariamente tambores e contêineres contendo borras oleosas e radioativas provenientes da produção de petróleo offshore.
Um episódio mais grave com rejeitos radioativos aconteceu no dia 29 de abril de 1993, no Estado do Amazonas, na Mina do Pitinga, da Mineração Taboca, na reserva indígena Waimiri Atroiari, no município de Presidente Figueiredo, a cerca de 330 km de Manaus. Segundo o jornal A Crítica, neste dia rompeu uma barragem de rejeitos radioativos de lavagem de cassiterita e contaminou os recursos hídricos.
Estes são alguns exemplos do risco nuclear com que a sociedade brasileira está vivendo diariamente. Desde o acidente do Césio-137 em Goiânia, em 1987, foram registrados mais de 15 ocorrências com materiais radioativos no Brasil. A tragédia de Brumadinho, que ainda não esta resolvida, só não foi ainda mais grave e declarada como um acidente nuclear, porque os medidores nucleares com fontes radioativas, como Césio-137, usados na Mina Córrego do Feijão já haviam sido recolhidos em 2014 e 2015. Os medidores nucleares estavam fora de uso e foram armazenados no Depósito de Rejeitos do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Belo Horizonte.
Por isso, a segurança nuclear e o conhecimento dos riscos nucleares têm uma grande importância. Somente quando você conhece os riscos, você consegue se proteger contra eles. Segurança nuclear não é so uma questão para uma comissão nuclear, é uma questão de todos nós! Da dona de casa ao jornalista esportivo, do pescador ao cineasta, do estudante secundarista ao médico, do gari ao físico nuclear.
Os diretores do Uranium Film Festival esperam um grande público e interessantes discussões na Cinemateca do MAM Rio. Todos são convidados, de 25 de maio a 2 de junho de 2019. Entrada franca.