Barragem da Vale evolui para nível de rompimento em Barão de Cocais, MG

Por Rafael D’Oliveira, em BHAZ

“Pode romper agora, amanhã, ou pode não romper”. Essa é a situação da barragem de rejeitos Sul Superior da Vale, em Barão de Cocais, na região Central de Minas Gerais, nas palavras do tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador de Defesa Civil. Após a estrutura passar para o nível três (o que representa risco iminente de rompimento) na noite de sexta-feira (22), as autoridades se preparam para evitar um desastre como o de Brumadinho e Mariana.

Cerca de três mil pessoas que moram na região do Centro de Barão de Cocais passarão por um treinamento de evacuação, para o caso de rompimento. Segundo Godinho, se houver o colapso, a lama chegaria ao Centro do município em pouco mais de uma hora.

“Se essa lama chegar ao Centro de Barão de Cocais, ela tem sim potencial de destruição. Por isso, haverá um treinamento com essas pessoas, pois nós teremos 1h12 para tirar a população do local”, afirma. “Mas é importante ressaltar que nós vamos salvar vidas e não bens materiais. Essas três mil pessoas serão orientadas a sair de forma ordeira da cidade e se deslocar para vários pontos de encontro”, explica. O treinamento pode acontecer ao longo desta madrugada ou durante o sábado (23).

No dia 8 de fevereiro, 452 moradores das comunidades de Socorro, Tabuleiro, Vila Congo e Piteiras, em Barão de Cocais tiveram de sair às pressas, depois de alarme emitido na cidade pela Vale S.A.

Alerta de rompimento

Na noite desta sexta-feira (22), a barragem entrou em nível de alerta três, que significa que a ruptura é iminente ou está ocorrendo, de acordo com o relatório do Departamento Nacional de Produção Mineral (confira definição na íntegra abaixo).

A decisão foi tomada após uma reunião entre Ministério Público, Vale, Polícia Militar, Defesa Civil, diretores da Vale, Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Agência Nacional de Mineração e Bombeiros.

De acordo com Godinho, há duas situações possíveis para reverter o quadro de instabilidade da barragem da Vale neste momento, ambas delicadas. “O que pode ser feito é o descomissionamento ou a descaracterização da barragem, o que demora muito tempo. Outra opção é fazer intervenções para que a estrutura volte ao nível dois e um. Mas qualquer ação pode acionar um gatilho de ruptura. Por isso, tem de ser algo feito ao seu tempo, de maneira coordenada e técnica”, afirma.

O tenente-coronel disse ainda que trabalhos preliminares já estão sendo realizados na região para evitar que o possível rompimento deixe vítimas na cidade. Além disso, autoridades estão se deslocando para o município.

“A literatura de nível três aponta para um rompimento iminente ou ruptura. Quer dizer que ela pode se romper agora, amanhã ou não se romper. Os trabalhos já começaram e amanhã, na parte da manhã, novas informações serão repassadas para a população e as pessoas serão informadas da real situação da barragem e os locais de autossalvamento”, disse.

Segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), a barragem Sul Superior da Vale, em Barão de Cocais, tem 85 metros de altura e mais de 6 milhões de metros cúbicos de rejeito. Além disso, de acordo com o órgão, o potencial de destruição da barragem, em caso de rompimento, é alto.

Em nota (confira abaixo), a Vale informou que acionou o protocolo para início do nível três do Plano de Ação de Emergência de Barragens em uma ação de prevenção.

“Essa medida preventiva se faz necessária tendo em vista o fato de o auditor independente ter informado a condição crítica de estabilidade da barragem. Com o nível 3, foi acionada a sirene de alerta que cobre a Zona de Autossalvamento (ZAS), como reforço de medida preventiva, já que a evacuação da área próxima à barragem foi realizada em 8 de fevereiro”, diz trecho da nota.

Nota da Vale na íntegra:

A Vale acionou o protocolo para início do nível 3 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) para a Barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), nesta sexta-feira (22/3).

Essa medida preventiva se faz necessária tendo em vista o fato de o auditor independente ter informado a condição crítica de estabilidade da barragem. Com o nível 3, foi acionada a sirene de alerta que cobre a Zona de Autossalvamento (ZAS), como reforço de medida preventiva, já que a evacuação da área próxima à barragem foi realizada em 8 de fevereiro.

A Vale reitera que continua adotando uma série de medidas preventivas para aumentar a condição de segurança de suas barragens.

Importante lembrar que a Barragem Sul Superior é uma das dez barragens a montante inativas remanescentes da Vale e faz parte do plano de descaracterização anunciado pela empresa.

Nível de classificação de risco

Confira o que diz o trecho do relatório do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) sobre os níveis de segurança nas barragens:

I. Nível 1 – Quando detectada anomalia que resulte na pontuação máxima de 10 (dez) pontos em qualquer coluna do Quadro 3 – Matriz de Classificação Quanto à Categoria de Risco (1.2 – Estado de Conservação), do Anexo V, ou seja, quando iniciada uma ISE e para qualquer outra situação com potencial comprometimento de segurança da estrutura;

II. Nível 2 – Quando o resultado das ações adotadas na anomalia referida no inciso I for classificado como “não controlado”, de acordo com a definição do § 1º do art. 27 desta Portaria; ou

III. Nível 3 – A ruptura é iminente ou está ocorrendo.

Tenente-coronel Flávio Godinho e barragem da Vale em risco. Colagem: Defesa Civil + Google Maps /BHAZ

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