Judeus pela democracia lançam nota de repúdio a Ernesto Araújo após ministro afirmar que ‘nazismo era de esquerda’

‘Um chanceler obscurantista que propaga mensagens perigosas e infames como essa não é digno do cargo que ocupa’, afirma a nota

Opera Mundi

O coletivo Judeus pela Democracia divulgou nesta segunda-feira (01/04) uma nota de repúdio às declarações do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que afirmou que o nazismo era uma ideologia de esquerda.

A defesa do chanceler, de que o nazismo e o fascismo são “fenômenos da esquerda” é “chocante” por “ignorância, má-fé e cinismo”, diz a nota do grupo que acusa Araújo e a tentativa do governo de Jair Bolsonaro de promover um “revisionismo histórico”.

Essa estratégia, lembram os judeus, é uma das “grandes responsáveis por fazer crescer o antissemitismo e outros discursos de ódio entre extremistas”, uma vez que o partido nazista “não hesitou em criminalizar, prender e matar, a começar por pessoas de esquerda”.

O coletivo ainda afirma que não é possível medir o alcance das declarações do ministro, “mas elas certamente ajudam a sedimentar mentiras mortíferas. Um chanceler obscurantista que propaga mensagens perigosas e infames como essa não é digno do cargo que ocupa”.

Leia a íntegra da nota:

NOTA DE REPÚDIO AO CHANCELER ERNESTO ARAÚJO

Integrantes do governo atual tentam adulterar a história mais uma vez. O ministro das relações exteriores Ernesto Araújo declarou e reiterou, em entrevista dada a um canal de youtube e depois em seu blog pessoal, que o nazismo e o fascismo seriam fenômenos de esquerda. Tal afirmação não é apenas chocante por sua ignorância, má-fé e cinismo, mas é também infame quando consideradas as responsabilidades de um ministro de relações-exteriores.

Como judias e judeus, preocupa-nos esse tipo de revisionismo histórico, pois é ele um dos grandes responsáveis por fazer crescer o antissemitismo e outros discursos de ódio entre extremistas. O partido nazista não hesitou em criminalizar, prender e matar, a começar por pessoas de esquerda. Como então poderia ser de esquerda? O discurso que cria a falsa imagem de um Hitler de esquerda, e não expressamente de extrema-direita, contribui com o revisionismo antissemita que enxerga o Holocausto como mentira ou exagero.

Que o atual governo Bolsonaro enxergue a esquerda como o grande mal de nossos tempos, visando à produção de uma paranoia generalizada, todos nós já sabemos. A essa visão redutora, simplista e perigosa da política, que caricaturar sujeitos sociais como inimigos a serem combatidos, acrescenta-se agora um revisionismo histórico do pior tipo.

Não se trata aqui de uma revisão balizada por pesquisa, reflexão crítica e debate. Trata-se de um dogmatismo autoritário que busca reescrever a história com uma narrativa de ódio a fim de demonizar qualquer oposição às visões e consequências históricas levadas a cabo por governos de extrema-direita.

Nosso posicionamento ético-político não nos levará a enaltecer todo governo de esquerda como positivo e nem a renegar todo governo de direita como nazista e/ou fascista. Também não nos levará, como levou ao ministro Ernesto Araújo, a inverter a história com o intuito de supostamente purificar a narrativa política. O nazismo nunca foi de esquerda, nem pertencia à direita conservadora ou liberal de sua época – à qual se opôs em muitos momentos. Hitler foi uma figura central dos movimentos de extrema direita de então e permanece sendo até os dias de hoje. É preciso não esquecer que o nazismo se fortaleceu por meio de táticas publicitárias e perigosas alianças com alguns setores da direita que na época abriam mão de seus ideais humanitários para obter incertas vantagens, lembrando, infelizmente, os tempos atuais.

Difícil medir o alcance das declarações do ministro Ernesto Araújo, mas elas certamente ajudam a sedimentar mentiras mortíferas. Um chanceler obscurantista que propaga mensagens perigosas e infames como essa não é digno do cargo que ocupa.

Judeus pela Democracia – SP

*Com Jornal GGN

Ernesto Araújo na cerimônia de assinatura dos contratos de concessão do leilão de transmissão de energia elétrica. Fátima Meira/Folhapress

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