A entrevista de Lula a El País e à Folha de S. Paulo

Nota de Combate: depois de meses de idas e voltas, marcados ontem inclusive pela tentativa feita pela Polícia Federal de introduzir outros jornalistas na entrevista, este é sem dúvida um dos principais (senão o principal) assuntos do dia. Abrimos espaço aqui para as matérias de abertura dos dois jornais, assim como os primeiros minutos de vídeo liberados. Com eles, vão também os links para a leitura das reportagens completas, assinadas por Florestan Fernandes Junior e Carla Jiménez, no El País, e por Mônica Bergamo, para a Folha. (TP)

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El País:

Lula: “Quero sair daqui com a cabeça erguida”

EL PAÍS entrevista com exclusividade o ex-presidente Lula na sede da PF em Curitiba. Assista aos primeiros trechos da entrevista

Por Florestan Fernandes Jr. e Carla Jiménez

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra em um pequeno auditório da superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Lá dentro, é esperado pelos jornalistas do EL PAÍS e do jornal Folha de S. Paulo. Chega de tênis, camisa social, calça jeans e paletó cinza, e um calhamaço de papeis embaixo do braço. Senta-se numa mesa ao centro com alguns poucos microfones. Não está feliz nem triste. Nem tampouco envelhecido. Mas está diferente. “Tudo bem?”, diz ele aos presentes, ainda com o rosto um pouco fechado, e se dirige para uma mesa improvisada ao centro, onde fica de frente para o repórter do EL PAÍS e para Mônica Bergamo da Folha, que vão conduzir a entrevista. “Antes de vocês fazerem a primeira pergunta… quero fazer um micropronunciamento para tratar especificamente do meu caso, e depois do caso do Brasil”, diz ele, em tom grave.

Suas mãos tremem um pouco quando começa a ler. Seu rosto fica vermelho olhando para o texto que traz um rosário de críticas contra seus julgadores. “Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira.” Lula critica o ex-juiz Sergio Moro, responsável pela sua condenação, a Operação Lava Jato, e o procurador Deltan Dallagnol. “Reafirmo minha inocência, comprovada em diversas ações”. O silêncio é absoluto, apesar da presença de delegados da Polícia Federal e de três oficiais armados, todos a serviço da PF, que está sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça, conduzido por Sergio Moro.

Lula está engasgado e sabe que esta entrevista é a oportunidade para falar depois de um ano silenciado pela prisão em abril de 2018. A conversa tem início e o ex-presidente ainda mantém um semblante sério. Mas uma pergunta quebra a rigidez. Quando é questionado sobre a morte do irmão Vavá, em janeiro deste ano, e o neto, Arthur Araújo Lula da Silva, de 7anos, dois meses depois.  “Esses dois momentos foram os mais graves”, lembra ele, citando também a perda do ex-deputado Sigmaringa Seixas, morto no final do ano passado. “O Vavá é como se fosse um pai pra família toda. E a morte do meu neto foi uma coisa que efetivamente não, não, não… [pausa e chora]. Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Porque eu já vivi 73 anos, eu poderia morrer e deixar meu neto viver.”

“Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida. Quem não dorme bem é o Moro”

Lula diz que há outros momentos que o deixam triste, com uma mágoa profunda. “Quando vejo essa gente que me condenou na televisão, sabendo que eles são mentirosos, sabendo que eles forjaram uma história, aquela história do powerpoint do Dallagnol, aquilo nem o bisneto dele vai acreditar naquilo. Esse messianismo ignorante, sabe? Então eu tenho muitos momentos de tristeza aqui. Mas o que me mantém vivo, e é isso que eles têm que saber, eu tenho um compromisso com este país, com este povo”, completa.

Começa a entrevista, que virou caso de Justiça. Só foi realizada após a interferência do Supremo Tribunal Federal. Uma conversa que vai durar duas horas. E o ex-presidente começa a relaxar. É o Lula de sempre. Ele está igual. Quem esperava vê-lo envelhecido ou derrotado, se frustra. Ele tem fúria. E obsessão para provar sua inocência. “Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida. Quem não dorme bem é o Moro, Dallagnol e o juiz do TRF-4 [que confirmou sua condenação em segunda instância].”

Os detalhes desta conversa serão publicados ao longo do dia no site e nas redes sociais do EL PAÍS.

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O ex-presidente Lula, durante a entrevista desta sexta-feira, 26/04.2019, na superintendência da PF em Curitiba. Foto: Isabella Lanave /El País

Folha de S. Paulo:

Folha entrevista Lula na prisão 

O ex-presidente Lula afirmou nesta sexta (26), em entrevista exclusiva concedida à Folha e ao jornal El País, que o Brasil está sendo governado por um bando de maluco.

Depois de uma batalha judicial em que a entrevista chegou a ser censurada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), decisão revista na semana passada pelo presidente da corte, Dias Toffoli, o petista enfim recebeu os dois veículos, em uma sala preparada pela Polícia Federal na sede do órgão em Curitiba, onde está preso. 

Os agentes explicaram aos jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas presentes que ele seria colocado em uma mesa a uma distância de 4 metros de todos. Ninguém poderia se aproximar. 

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Nota de Combate: O texto da entrevista só está disponível para assinantes da Folha, AQUI. O jornal só disponibilizou a chamada acima, acompanhada dos minutos iniciais filmados, que mostram a chegada de Lula à sala e seu encontro com os entrevistadores, como pode ser visto abaixo.

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