Escritório de entidade criada para reparar os danos das vítimas, está ocupado por famílias que reivindicam reassentamento e o reconhecimento de pessoas contaminadas por metais tóxicos
por Redação RBA
A lama de rejeitos da barragem do Fundão, da empresa Samarco, cujo rompimento em 2015, em Mariana (MG), matou 19 pessoas, destruiu comunidades vizinhas, devastou o meio ambiente ao longo de 670 quilômetros na bacia do rio Doce e atingiu o Oceano Atlântico, segue fazendo estragos. Mais de três anos depois da tragédia, cerca de 50 atingidos ocupam, desde segunda-feira (3), o escritório da Fundação Renova, em busca de respostas para reivindicações cobradas há muito tempo. Criada em março de 2006, a Fundação tem como único objetivo reparar os danos das famílias atingidas por barragens.
Entre as reivindicações, os atingidos das cidades de Mariana, Acaiaca e Barra Longa exigem o reconhecimento de Acaiaca como município atingido pelo rompimento, o reassentamento de todas as famílias que já indicaram terreno de interesse, em Mariana, e o reconhecimento de 11 famílias com exames que apresentam intoxicação por metais tóxicos, com pagamento de auxílio financeiro emergencial.
“A atuação da Renova é um processo de exclusão de direitos. Dinheiro não vai comprar nunca a nossa história, o nosso sonho. Tivemos o meio ambiente destruído, nosso universo destruído, nossas terras estão todas contaminadas com metais pesados”, diz o produtor Marino D’angelo Junior, em reportagem de Beatriz Drague Ramos, na Rádio Brasil Atual.
Ele conta que uma vizinha levou amostras de cabelo do seu filho para exame nos Estados Unidos e foi constatada a presença de metais pesados. “Antes desse processo, eu era uma pessoa saudável. Hoje tomo três antidepressivos. A Renova vai matando a gente aos poucos, é humilhante”, lamenta, ele que perdeu sua casa e foi realocado em outra residência. Além do filho intoxicado por metais pesados, sua filha passa por depressão. Marino D’angelo Junior até hoje não recebeu o pagamento de auxílio financeiro emergencial.
Assim como o produtor rural Marino, Simone Silva, moradora de Barra Longa, também sofre com a intoxicação de familiares. Ela, o marido e os dois filhos estão contaminados pelos metais pesados da lama da Samarco.
“Feridas na pele, queda de cabelo, dor nas pernas, problema de visão, problema respiratório, diarreia, febre. São três anos e sete meses de luta, de busca pelo reconhecimento, de luta pela justiça, de luta pelo cartão emergencial, mas até hoje, nada. A única coisa que eu tenho da Fundação Renova é a perseguição”, afirma Simone Silva.
De acordo com Letícia Oliveira, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens, os pescadores e garimpeiros também foram prejudicados pela tragédia, uma vez que perderam sua fonte de renda e trabalho devido a intoxicação do rio.
“Há pessoas que garimpavam nos rio por onde a lama passou e perderam a principal fonte de renda, que é o garimpo, e até hoje não receberam nada da Fundação Renova”, critica. Ela explica que a Renova começou, em novembro de 2018, o cadastramento de mais de 600 garimpeiros, porém, o processo não teve sequência e não foi concluído. “A Fundação Renova tem um critério de que todos as pessoas que perderam renda devem receber um cartão mensal, com um salário mínimo, e mais 20% para cada dependente da família e um valor de cesta básica.”
Sem diálogo com a Fundação, os atingidos afirmam que continuarão ocupando o escritório até que a Renova apresente propostas e estabeleça prazos para uma resposta definitiva sobre o tema.
Ouça a íntegra da reportagem.
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Foto:©Yuri Barichivich /Greenpeace.