Com decisão do STF só vai sobrar o pau da bandeira

Por Ribamar Fonseca, no Brasil 247

“A Justiça está do nosso lado”. A declaração do presidente Bolsonaro, feita logo após um encontro com o ministro Dias Toffoli, se confirma agora, com a decisão do Supremo Tribunal Federal de liberar a venda, sem precisar de licitação e autorização do Congresso, das subsidiárias da Petrobrás. O pacto entre os presidentes dos três poderes começa a funcionar, para desgraça do Brasil e do seu povo, diante da ausência de nacionalistas no Legislativo, no Judiciário e nas Forças Armadas. Inicia-se, assim, o cumprimento da promessa do ministro Paulo Guedes, feita aos americanos durante um evento nos Estados Unidos, de que ele e Bolsonaro vão vender tudo, até o Banco do Brasil e a Caixa. Recorda-se o que disse o então ex-presidente Itamar Franco quando o presidente Fernando Henrique Cardoso, em pleno processo de dilapidação do nosso patrimônio público, concluía a venda da Vale do Rio Doce: “Só vai sobrar o pau da bandeira”. FHC não conseguiu deixar apenas o pau da bandeira porque Lula foi eleito e acabou com a farra das privatizações, mas o capitão-presidente deverá agora completar o serviço iniciado pelo tucano.

Por que os governantes brasileiros, com honrosas exceções, se elegem prometendo o céu ao povo e, após empossados, lhes entrega o inferno? Por que, ao contrário dos governantes das outras nações, só trabalham para acabar com a soberania e destruir o seu próprio país? Enquanto o maluco Donald Trump revela um nacionalismo exacerbado e berra “primeiro a América”, brigando com todos para que o seu país seja o dono do mundo, aqui Bolsonaro também repete na surdina: “Primeiro a América”. Na verdade, a subserviência do Brasil aos Estados Unidos é antiga (houve até um presidente brasileiro que beijou a mão do presidente americano) mas se acentuou no governo Collor, que entregou a eles o nosso projeto atômico. Depois, FHC intensificou a tarefa insana de vender grandes estatais, como a Vale e as teles, por pouco não doando também a Petrobrás e iniciou o processo de entrega da Base Espacial de Alcântara, concluído agora pelo capitão. Temer entregou a Embraer. Moro deu a sua contribuição frustrando o projeto do submarino atômico. E Bolsonaro, se não for defenestrado do Palácio do Planalto, vai completar a obra.

Vai sobrar para os brasileiros o quê? Desemprego, miséria, fome, analfabetismo, dor, desesperança, morte. Depois de enganar o povo com sua massacrante campanha de fakenews, com o apoio da mídia familiar, empresários e militares, Bolsonaro em cinco meses de governo não fez absolutamente nada para solucionar os problemas nacionais e não tem agenda de governo, limitando-se a ações cosméticas que causam muita polêmica e não resolvem nada. Muito pelo contrário, agravam os problemas, como a dispensa de multas para quem não usa cadeirinhas para crianças no trânsito, a eliminação de radares nas estradas, a internação forçada de usuários de drogas, etc. Isso sem falar nas medidas destruidoras da Educação, da Saúde, do Meio Ambiente. Como disse o presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos, ele não tem noção de prioridade. A “Folha de São Paulo”, aliás, também disse que ele é um presidente “sem noção”. Apesar disso tudo, no entanto, continua recebendo o apoio da Globo que, mesmo humilhada por ele, divulga as coisas do seu interesse e esconde as negativas como, por exemplo, os protestos contra a sua visita à Argentina.

O projeto de reforma da Previdência, que ameaça ser aprovado pelo Congresso por conta do pacto firmado pelos seus presidentes, a exemplo da Suprema Corte, tem recebido da Globo o melhor tratamento em seus noticiários, ao mesmo tempo em que esconde a verdade sobre os verdadeiros objetivos da proposta e os males que causará aos trabalhadores. A deputada Jandira Feghalli, do Rio, por exemplo, desmascarou o ministro Paulo Guedes, de corpo presente, durante sua exposição à Câmara Federal, desmontando todos os seus argumentos, mas a Globo não divulgou uma linha sequer. A emissora só veicula em seus noticiários declarações favoráveis à reforma, levando ao povo a falsa ideia de que a proposta é boa. E muitos imbecis, que nunca leram o texto, só repetem o que dizem os representantes do governo. Se a reforma fosse realmente boa o governo não precisava gastar milhões de reais em propaganda, pagando altas somas para estrelas da televisão falarem bem do projeto. O apresentador Ratinho, do SBT, por exemplo, recebeu mais de R$ 200 mil para fazer propaganda da proposta.

Mais uma perguntinha: se a reforma é realmente boa, por que os militares, os magistrados e os parlamentares não foram incluídos nela? O povo, infelizmente, todos os dias é enganado pela mídia e pelas fakenews disseminadas nas redes sociais pelo exército de milicianos virtuais de Bolsonaro. Tem muita gente que ainda acha que o capitão está fazendo um bom governo, embora até agora não tenha feito absolutamente nada em benefício do país e do bem-estar do povo, a não ser posar de Presidente em viagens pelo exterior. E manifestar solidariedade a agressores de mulheres. Para sua tranquilidade, porém, não precisará se preocupar com a Justiça, pois será sempre inocentado pelos magistrados que, a exemplo da Suprema Corte, estão sempre do lado do poder. Que o digam os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 2ª. Região, que arquivaram o processo em que ele era acusado de ofender negros e quilombolas. Com ele ocorre exatamente o inverso do que acontece com Lula: enquanto o capitão-presidente recebe as simpatias e salamaleques do Judiciário, mesmo tendo o seu filho ameaçado fechar o Supremo com um cabo e um soldado, o ex-presidente petista é perseguido em todas as instâncias. Um sinal dos novos tempos de autoritarismo…

Foto: Luis Moura/Estadão

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