MPF, governo do estado da PB e atingidos pela barragem de Acauã discutem proposta de reassentamento

Reunião foi realizada nesta terça-feira (25) com presença do governador e representantes de oito secretarias de Estado

Procuradoria da República na Paraíba

Em reunião ocorrida na manhã desta terça-feira (25) na Granja Santana, com a presença de representantes do Ministério Público Federal (MPF) e de oito secretarias de Estado, integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) na Paraíba ouviram do governador João Azevedo (PSB) que o estado “não arredará o pé” de solucionar o problema dos atingidos pela barragem de Acauã, especialmente a comunidade do Costa, que se encontra em local de difícil acesso e vive em situação de extrema vulnerabilidade.

O principal encaminhamento definido na reunião foi a elaboração de projeto de assentamento envolvendo a aquisição de propriedade rural pelo governo do estado, disponibilidade de água e instalações de moradia. Até o fim de julho deste ano, a Empresa Paraibana de Pesquisa e Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer) e a Companhia Estadual de Habitação Popular (Cehap) deverão apresentar ao governador a concepção do projeto. A proposta também será apresentada à comunidade do Costa em reunião com o objetivo de ouvir as pessoas que serão envolvidas no projeto.

A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (Sedh) fará levantamento social das famílias da comunidade do Costa com aptidão para o desenvolvimento da área a ser assentada e, já no dia 2 de julho próximo, haverá visita dos secretários de Estado, de representantes do MPF e da Empaer à agrovila em Araçagi para coleta de dados que subsidiarão o projeto de assentamento das 120 famílias do Costa.

O governador João Azevedo deixou claro que a solução para a comunidade do Costa já está tomada e será encontrada “a melhor alternativa que atenda aos interesses da comunidade e, evidentemente, dentro das possibilidades que o Estado tenha de implantar [a solução]”, afirmou. “O governo vai resolver o problema da comunidade do Costa, isso é uma determinação”, reiterou o governador. “Numa reunião como essa, nós tivemos a participação de oito secretarias de Estado, o que já demonstra, claramente, a importância que estamos dando à questão. Vamos resolver em definitivo aquela situação que foi criada por um erro de concepção há muito tempo, que não cabe aqui colocar”, garantiu. “A comunidade [do Costa] pode ter a certeza de que vamos encontrar a solução em parceria e, acima de tudo, respeitando a decisão da própria comunidade. É o que vamos fazer e tenho certeza que vamos alcançar êxito naquilo que estamos propondo aqui, junto com o Ministério Público Federal e o governo do Estado”, finalizou o chefe do Executivo.

O procurador da República (MPF) José Godoy Bezerra de Souza destacou a necessidade de uma solução efetiva e definitiva para a situação dos atingidos por barragens, especialmente da comunidade do Costa, “que vive uma situação de extrema vulnerabilidade. Por meio de uma atuação articulada entre órgãos públicos, Ministério Público e movimento social [MAB], está sendo construída essa solução de aquisição de terras para reassentamento das famílias que se encontram num local de dificílimo acesso e inviável”, esclareceu. José Godoy ressalta que “após a análise de vários órgãos públicos, inclusive do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, de que é inviável levar à comunidade do Costa uma estrutura que dê uma vida digna às pessoas no local onde se encontram, a alternativa de realocação das famílias se apresenta como a opção viável nesse momento”.

O agricultor Amaury Silva, integrante da comunidade do Costa, participou da reunião com o governador e falou da impressão que teve com o resultado das discussões. “A gente que já vem de uma luta que dura mais de 16 anos, e em grande parte não deu certo, tinha uma esperança e depois ela acabava. Hoje, eu senti mais firmeza do que em todos os momentos que já passamos. A gente vive um momento bem diferente e vê que há realmente um compromisso do governo no momento em que ele fala que não vai arredar o pé, que decidiu que vai resolver o problema do Costa. Também contamos muito com a força do Ministério Público que é mais uma garantia junto com a gente”, afirmou o agricultor.

Também presente na reunião de hoje, a agricultora Albertina Nobre da Silva, da comunidade do Costa, conta que este ano plantou sozinha cerca de três quadras de milho, feijão e fava, mas perdeu tudo. “O sol veio e acabou tudo”, relatou. A roça de Albertina fica distante 1h20 de caminhada da casa dela. Na reunião, a agricultora ouviu atentamente tudo o que foi discutido e acredita que a situação da comunidade vai ser solucionada. “Desde a primeira reunião [com o governador] que eu já saí daqui com uma certeza muito boa de que vai dar tudo certo”, afirmou esperançosa. 

O coordenador local do Movimento dos Atingidos por Barragens, Osvaldo Bernardo da Silva, conta que, desde o início da obra, a dificuldade era grande para o movimento ter visibilidade e reconhecimento dentro do estado para negociar, porque tinham que mobilizar toda a população. “Em 2002, quando iniciamos a luta, a gente teve que fechar BR, fazer caminhadas em Campina Grande, e, mesmo assim, a gente não conseguia sentar com o governador”, relata. “A gente tinha que fazer muita pressão popular e colocar, no mínimo, 500 pessoas na rua, atingidos e atingidas pela barragem. Tinham crianças, idosos, mulheres, muita gente mobilizada para chamar a atenção da sociedade e [fazer] o Estado reconhecer publicamente que havia um problema com os atingidos. Naquela época, a gente só conseguia chegar ao governo do estado quando fechava uma BR”, relembra Osvaldo. 

“Hoje, a gente está aqui sentado com João [o governador] e a imprensa nem está sabendo porque a gente não precisou fazer pressão popular, nem ter aquele trabalho todo de mobilização [nas ruas]”, celebra Osvaldo Bernardo. O coordenador do movimento dos atingidos credita essa abertura de negociação “à legitimidade que o MAB construiu ao longo da história, à parceria que existe com o Ministério Público Federal e ao governo que tem essa sensibilidade e reconhecimento. Se não fossem esses três elementos, a gente não conseguiria avançar, até mesmo por causa da conjuntura nacional que está muito complicada”, ressalta o coordenador.

Para Bernardo, o que a comunidade do Costa quer é que o Estado desaproprie uma área agricultável, com infraestrutura como estrada, energia elétrica, água e moradia. “Nós não queremos comprar as terras, mas sim, que o Estado devolva o que nos tomou”, reivindicou o líder do MAB. Também presente à reunião, o professor de Economia Rural da UFPB, aposentado, Fernando Garcia, que acompanha a luta dos atingidos pela barragem de Acauã desde o início, observa uma mudança de fase na negociação dos atingidos com o poder público. “Antes, todas as ações do movimento, seja fechar BRs, sejam manifestações públicas, eram para [o movimento] chegar mais forte no enfrentamento com o governo”. Antes, [as ações] eram para enfrentar o governo; nessa nova fase, aponta o professor, “estão todos reunidos, inclusive o governo, para enfrentar os problemas”.

“Essa segunda audiência que tivemos com o governador é a confirmação da mudança de fase, porque antes nunca tinha acontecido isso. Havia uma audiência e [o assunto] encerrava-se ali. Jamais houve uma segunda audiência dando seguimento ao que tinha sido discutido na primeira. Hoje, houve uma segunda audiência, há passos concretos bem definidos e o governador fixou uma meta até o fim de julho, para que esse processo dê um passo mais significativo que será a concepção do projeto [de realocação da comunidade do Costa]”, comemora o professor.

Barragem de Acauã – O início da construção da barragem remonta aos anos 1980. Sua fase final somente ocorreu por volta de 1999, sendo efetivamente concluída em agosto de 2002. Devido a fortes chuvas, após dois anos de construída, a barragem encheu em seu nível máximo, causando danos para os moradores que ainda se encontravam dentro da área a ser alagada e provocando o deslocamento de cerca de 5 mil pessoas que viviam às margens do Rio Paraíba. Estudos realizados indicavam que demoraria, pelo menos, cinco anos para a cheia ocorrer.

Inquérito Civil nº 1.24.000.000523.2014-72

Imagem: André Lucio/Secom Estadual

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