Agrotóxicos: rede de supermercados sueca pede boicote para os alimentos brasileiros

Na Suécia, uma cadeia de supermercados lançou um boicote a todos os produtos agrícolas brasileiros, em consequência dos cerca de 250 pesticidas que foram liberados no país desde a eleição de Jair Bolsonaro. Uma iniciativa que está ganhando força nas redes sociais.

Por Alice Pouyat, do We Demain, no IHU*

Nem café, nem manga, nem água de coco. Na Suécia, o dono da maior cadeia de supermercados ecológicos tomou uma decisão radical: no dia 3 de junho, o diretor da rede de supermercados Paradiset pediu aos seus funcionários que retirassem todos os produtos brasileiros das prateleiras. Além disso, Johannes Cullberg pede um boicote global a esses produtos, relata Novethic.

Uma iniciativa sueca que está progressivamente ganhando força, especialmente nas redes sociais, através da hashtag #boycottbrazilianfood.

E por um bom motivo: a iniciativa ocorre enquanto o governo do presidente Jair Bolsonaro aprovou, desde que assumiu em janeiro, 239 novos agrotóxicos, a maioria proibido na Europa.

Na página de uma campanha intitulada “We don’t have time” [“Não temos tempo”] o dono do supermercado escreve: “Como pai e dono, não posso aceitar essa atitude que põe em perigo a saúde da população brasileira, do meio ambiente e do nosso planeta em seu conjunto!”

Sua iniciativa encontra também um eco particular em pleno debate sobre os polêmicos acordos de livre comércio que poderiam abrir ainda mais o mercado europeu aos produtos do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). O Greenpeace, por sua vez, acaba de tentar bloquear o descarregamento de uma carga de soja brasileira na França

Corrida aos pesticidas no Brasil

Assim que chegou aos ouvidos da embaixada do Brasil na Suécia, a iniciativa foi condenada por esta última, antes que a ministra da AgriculturaTeresa Cristina, denunciasse uma “campanha de difamação” na imprensa de seu país.

Mas esse contrafogo é difícil de convencer. A ministra, apelidada em seu país de “musa do veneno”, destacou-se na Câmara dos Deputados, na época em que era deputada, a favor de um projeto de lei, o pacote dos agrotóxicos, que facilita a liberação de agrotóxicos.

Os pesticidas, e especialmente o glifosato, foram amplamente difundidos no país com o desenvolvimento dos organismos geneticamente modificados (OGMs) nos anos 2000. Eles são jogados de avião sobre as plantações e, às vezes, sobre as casas vizinhas. Com a eleição do cético em clima Jair Bolsonaro para presidente, esta corrida aos pesticidas se acelerou ainda mais.

E isso acontece justo quando o país já é o maior consumidor mundial de produtos fitossanitários.

Responsabilidade europeia

Com consequências perturbadoras. Vários estudos já relatam um aumento significativo de cânceres e malformações em regiões agrícolas brasileiras. No longo prazo, esse modelo agrícola também esgota solos, ecossistemas e contribui para o desmatamento da Amazônia.

Um problema do qual o Brasil não é o único responsável: “Ele é uma vítima das grandes empresas ocidentais. Os agrotóxicos são cada vez mais proibidos nas economias desenvolvidas, por isso as indústrias estão realocando os riscos para as economias periféricas!”, denuncia a pesquisadora Aline Gurgel no Le Monde.

Para mudar a situação, o fundador do Paradiset convoca cada consumidor para imitá-lo. “Assim como nós interrompemos o apartheid há vários anos, tomando uma posição contra o governo sul-africano, podemos fazer o mesmo agora”, acredita Cullberg.

Difícil, mas a ação tem o mérito de alertar sobre essa louca disputa por agrotóxicos.

*A tradução é de André Langer.

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