“A luta pela terra é uma luta coletiva e, diante disso, as conquistas também são”

O cooperativismo como bandeira na luta pela Reforma Agrária Popular

Da Página do MST 

Quando em janeiro de 1984 o MST é fundado, foram estabelecidos alguns objetivos que marcariam a história da luta pela terra no Brasil. Ao conquistador os primeiros assentamentos, o MST viu-se diante do desafio de estabelecer novas relações de produção.

Era preciso resistir ao processo expropriador do modelo vigente de desenvolvimento econômico. É nesse contexto que os Sem Terra passam a discutir a cooperação agrícola como forma de resistência. Mais que um modelo de negócios, o cooperativismo é uma filosofia de vida que busca transformar o mundo em um lugar mais justo, equilibrado e com melhores oportunidades para todos.

Este é um caminho que mostra que é possível unir desenvolvimento econômico e desenvolvimento social. Dentro dessa premissa, ao trabalhar o cooperativismo, os Sem Terra do MST trabalham em conjunto.

E como nos explica Milton Fornazieri, do setor de produção do MST, é assim, atuando juntas, que as cooperativas dão mais força ao movimento e servem de forma mais eficaz aos cooperados.

“A luta pela terra é uma luta coletiva e, diante disso, todas as conquistas também são. Após a conquista da terra, a mesma organização deve ser mantida para que essa terra possa se tornar produtiva fornecendo sustento para as famílias assentadas e contribuído para a economia local das cidades”, diz.

Fornazieri salienta que as cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas por seus membros, e nada deve mudar isso.

“A cooperação agrícola é parte de um processo intrínseco do Movimento Sem Terra. Isso faz com que nós possamos superar o individualismo que existe em todos nós. Além disso, as cooperativas são abertas para todas as pessoas que queiram participar, estejam alinhadas ao seu objetivo econômico e dispostas a assumir suas responsabilidades como membro. Em cooperação agrícola todas as formas de força são juntadas para a construção do trabalho coletivo, embora nós devemos reconhecer também os grupos de família e pequenas associações, é importante dizer que é nas cooperativas o local onde nós podemos construir meios mais robustos e consistentes”.

Contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades é algo natural ao cooperativismo. Ao levantar essa bandeira, o MST afirma que o processo de luta pela terra como norteador do desenvolvimento.

“Dentro dessa premissa sendo a cooperativa um instrumento que da capacidade para agir no campo da produção, armazenamento, industrialização e cooperação, não podemos esquecer que para que o processo produtivo de assentamento dê certo, nele precisa estar espírito cooperativista presente, finaliza Fornazieri.

Confira algumas cooperativistas do MST*

REGIÃO NORDESTE 

Pernambuco

Associação 21 de Novembro

A Associação 21 de novembro, criada no assentamento Frei Godinho, localizado no município de Gameleira. Os trabalhadores rurais do assentamento encontram meios de sobrevivência com o plantio de coco, graviola, banana, ingá da base grande e mandioca. Além disso, (existem duas casas de farinha artesanais coletivas – a produção é apenas para o consumo interno), bem como trabalham com a pecuária (criação de bovinos para a produção de leite e queijo).

Ceará

COPAGLAM

O assentamento Lagoa do Mineiro, localizado na zona rural da cidade de Itarema, é composto de 135 famílias assentadas e sete localidades: Barbosa, Corrente, Lagoa do Mineiro Velho, Córrego das Moças, Cedro e Sagüim. Grande parte das pessoas dessas localidades trabalham nas produções coletivas do assentamento Lagoa Mineiro. Destaca-se a produção de Coco (inatura), Farinha, Castanha de Caju e Mudas. O assentamento possui uma área coletiva de mais de 10 há para o plantio de coco.

REGIÃO CENTRO OESTE 

Mato Grosso

COOPAC

A Cooperativa de Produção Agropecuária Canudos – COOPAC, foi fundada em 15 de março de 1998. É fruto de um processo de discussões que começou na fase de acampamento (o 1º Acampamento organizado pelo MST no Mato Grosso). Estas famílias decidiram organizar a produção de forma coletiva, tendo como principal atividade a organização da produção com vistas ao desenvolvimento econômico e social das mesmas.

– Produção Agrícola: engloba todo o trabalho referente aos plantios de culturas como hortaliças e lavouras anuais.

– Pecuária: produção de animais sendo gado de leite, suínos, ovinos e gado de corte.

– Agroindústria: responsável pela transformação e agregação de valor a produção de mandioca e cana de açúcar.

– Apoio e serviços: serviços prestados a cooperativa como aluguel máquinas e veículos, refeitório, embelezamento e jardinagem, compras coletivas e construção e reforma de instalações.

– Administração: gestão administrativa e financeiros da cooperativa.

REGIÃO SUDESTE 

Espírito Santo

COOPRAVA

Na região norte do estado do Espírito Santo, a 220 quilômetros da capital Vitória, estão 11 assentamentos com 398 famílias e se constitui num importante pólo de produção de café conilon. Nessa região está a Cooperativa de Produção Agropecuária Vale da Vitória – COOPRAVA, um importante projeto de organização e de beneficiamento de café. Mais de 100 famílias são engajadas nessa cooperativa.

REGIÃO SUL

COOPEROESTE

Santa Catarina

Criada em 1996 por 120 assentados da Reforma Agrária, a Cooperoeste (Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste Ltda) é hoje uma das grandes produtoras de leite da região sul do país. Sediada em São Miguel do Oeste (SC), ela produz e comercializa cerca de 330 mil litros de leite diariamente.

Paraná

COPAVI 

Os trabalhadores acampados e assentados do estado comemoraram, em julho de 2008, 15 anos de fundação de uma cooperativa modelo em produção e trabalho coletivo na área de Reforma Agrária, a Copavi – Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória Ltda, localizada no assentamento Santa Maria, município de Paranacity, na região noroeste do Paraná. A Copavi foi fundada em 10 de julho de 1993, e conta com uma área de 106 alqueires, que fica à cerca de 1 km da cidade, onde o trabalho é feito de forma coletiva. A produção está organizada em grandes linhas como: leite e derivados; frangos, suínos e derivados; cana-de-açúcar e derivados; e produção de hortaliças agroecológicas.

Rio Grande do Sul

COOPTAR

A Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata – COOPTAR foi fundada em 08/02/1990, situa-se no assentamento Fazenda Annoni, no município de Pontão, estado do Rio Grande do Sul. A área total de terra da cooperativa é de 205 hectares, sendo 12% de mata nativa, 8 ha de banhados, 33 ha de pastagens (dos quais 8 ha de pastagem cultivada) e o restante utilizado com lavoura mecanizada.

Fazenda Anonni

Um bom exemplo dos resultados da Reforma Agrária trata-se da antiga Fazenda Anonni, no Rio Grande do Sul, área de 9 mil hectares que foi desapropriada em 1986. Foram assentadas 420 famílias no assentamento da Anonni, que produz, por ano, cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite, 150 mil sacas de soja, 35 mil sacas de milho, 45 toneladas de frutas, 800 cabeças de gado, 5 mil cabeças de suínos e 10 mil quilos de hortaliças.

* Com informações do setor de produção do MST 

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