Em Roraima, Operação Quíron deflagra investigação da PF sobre desvios de verbas da saúde indígena

De acordo com o inquérito, empresa teria recebido cerca de R$ 600 mil para a compra de medicamentos e produtos hospitalares, mas apenas R$ 16 mil chegaram ao Dsei

por J. Rosha, em Cimi

Na manhã da última quinta-feira (1) a sede do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Leste, na cidade de Boa Vista (RR), passou a maior parte da manhã fechada. O motivo foi a deflagração da Operação Quíron, da Polícia Federal, em cumprimento a mandado expedido pela 1ª Vara da Justiça Federal de Roraima para cinco buscas e apreensões. As investigações se desenrolaram desde abril passado e tinham por finalidade apurar denúncias de corrupção, organização criminosa, lavagem de dinheiro e outros casos apontados por servidores do órgão.

As investigações revelaram que a empresa contratada para fornecer e receber produtos hospitalares teria realizado supostos desvios de recursos, juntamente com um ex-coordenador do Dsei, e contado com a participação de uma farmacêutica do órgão. De acordo com as informações do inquérito, a empresa teria recebido cerca de R$ 600 mil para a compra de medicamentos e produtos hospitalares. Os servidores, porém, ao conferir a quantidade do material recebido, constataram a falta da maior parte dos produtos indicados na lista de aquisições; apenas R$ 16 mil em produtos chegaram aos estoques do Dsei.

Indígenas de aldeias no interior da Amazônia têm denunciado com frequência as dificuldades no tratamento da saúde. Falta medicamentos, maior presença de profissionais nas aldeias e muitas vezes falta combustível para os veículos que fazem remoção dos doentes. Diante disso, lideranças e representantes nos Conselhos Distritais – instância de controle social – gritam por providências que nem sempre são ouvidas pelo governo federal.

As denúncias se tornaram públicas no último mês de fevereiro. Em maio, lideranças indígenas, juntamente com funcionários do Dsei, ocuparam a sede da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) em protesto contra a falta de medicamentos e denunciavam a imobilidade do órgão e os casos de corrupção como resultado de interferência política.

Indicações políticas

Não são apenas os indícios de corrupção, agora em investigação pela Polícia Federal, que prejudicam a saúde indígena em Roraima. O atual coordenador do Dsei, Victor Paracat, é uma indicação do deputado federal Chico Rodrigues (DEM), substituindo o que fora indicado anteriormente por Édio Lopes (PL). Empossado no dia 14 de maio, Paracat entrou em choque com as lideranças indígenas desde o momento de sua posse. Nos últimos dias, ele não tem respeitado as diretrizes determinadas pelo controle social, conforme aponta o vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Pereira.

Em nota, o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Dsei Leste, Adelinaldo Rodrigues da Silva, elogiou a atuação da Polícia Federal na deflagração da Operação Quíron e afirmou que “este Conselho não compactua com nenhum tipo de irregularidade que venha causar prejuízo ao serviço da atenção básica nas comunidades indígenas atendidas”. Silva enfatiza que irá continuar fiscalizando a prestação dos serviços “e denunciando irregularidades quando for necessário para os órgãos competentes para que possam tomar as devidas providências”.

O vice-coordenador do CIR também elogiou a ação da Polícia Federal, mas acrescentou que é necessário que as investigações se estendam a outras empresas prestadoras de serviços para a Sesai. “É preciso ir até a raiz dos problemas”, destacou Edinho Pereira.

PF cumpriu cinco mandados de busca e apreensão no dia 1 de agosto. Crédito da foto: Roque Neto/Rede Amazônica Roraima

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