Projeto Memórias Indigenistas lança disco e filme etnográfico sobre a história da resistência indígena no NE

Evento de lançamento ocorreu ontem (5), em Recife. Os materiais audiovisuais poderão ser acessados de forma gratuita no site do projeto

Cimi

A história da resistência indígena no Nordeste, a partir da década de 1970, ganha uma sistematização inédita. Na terça-feira (6), às 18h30, o disco “Memórias Sonoras” e o filme etnográfico “O Corte dos Arames” serão lançados durante evento na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), localizada na capital Recife. Os conteúdos audiovisuais são frutos das pesquisas no acervo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Nordeste, restauros dos materiais levantados e trabalho de curadoria realizado pela coordenação do projeto Memórias Indigenistas.

O lançamento contará com a exibição do filme O Corte dos Arames e os participantes poderão levar de forma gratuita o álbum Memórias Sonoras. Haverá uma roda de conversa com a coordenação do projeto e as produtoras do material, integrantes do Cimi, bem como com indígenas que participaram de todo o processo de pesquisa, restauro e curadoria.

No dia do evento também será lançado o site do projeto, que já pode ser acessado AQUI . Todos os materiais ficarão disponíveis no portal, que será uma janela para a história recente do movimento indígena no Nordeste. A seleção das publicações envolve os povos indígenas retratados e o resultado da curadoria visa levar às aldeias este importante acervo indigenista.

O filme e o álbum Memórias Sonoras são o resultado de ações que têm por objetivo desenvolver processos de salvaguarda, pesquisa e divulgação do acervo Cimi Regional Nordeste. Nesta linha de divulgação do acervo, os materiais buscam levar aos povos indígenas, e também ao público mais amplo, parte da história construída por eles no Nordeste com a divulgação de um recorte do acervo.

Segundo a coordenação do projeto, “em um momento em que nosso país vive constante ameaça de retrocessos no tocante aos direitos indígenas, que põem em risco a própria existência física dos povos, a elaboração de materiais em formatos de álbuns sonoros, filmes e livros tem o intuito de retomar itinerários de resistência, que possibilitaram a conquista de uma série de direitos na Constituição de 1988”.

O CD Memórias Sonoras compõe uma coletânea de cinco álbuns com as gravações  das Assembleias Indígenas que ocorreram no Nordeste, nos anos de 1981 e 1983, bem como de áudios captados entre os povos Kapinawá, Truká e Pankararu. O filme, por sua vez, aborda conflitos fundiários ocorridos no território Kapinawá, em fins de 1970 e início dos anos de 1980. A narrativa é tecida a partir do encontro dos indígenas deste povo com fotografias do acervo do Cimi regional Nordeste.

O evento de lançamento é uma parceria entre o projeto Memórias Indigenistas no Nordeste, o NEPE e o Cimi Regional Nordeste e a Cátedra de Direitos Humanos Dom Helder Câmara UNESCO/UNICAP.

O projeto

O projeto Memórias Indigenistas no Nordeste, iniciado em 2013, tem o intuito de recuperar e organizar acervos documentais a respeito das trajetórias do movimento indígena e do indigenismo nesta região do Brasil, tais ações foram incentivadas desde o início pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE).

A empreitada é o desdobramento do trabalho de salvaguarda, pesquisa e divulgação do acervo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Nordeste, construído a partir da década de 1970.

A articulação política e o processo de tratamento técnico do acervo foram realizados através da coordenação das/os antropólogas/os Lara Erendira de Andrade, Manuela Schillaci e Alexandre Gomes, todos/as pesquisadores/as do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Etnicidade da Universidade Federal de Pernambuco (NEPE-UFPE).

Os álbuns

Memórias Sonoras é o conjunto de álbuns que são parte da Coleção Retomada – a coletânea de materiais publicadas pelo projeto. O material organiza e apresenta uma seleção de sonoridades captadas pela ação indigenista do Cimi junto aos povos indígenas do Nordeste.

Nas aldeias e retomadas, missionários e missionárias fizeram os registros em gravadores de áudio enquanto vivenciavam toda a dimensão do dia a dia dos povos. São registros inéditos aos próprios indígenas, fazendo do projeto um importante mecanismo de recuperação do passado recente para o conhecimento das novas gerações.

Os áudios organizados no CD Memórias Sonoras abrangem o final da década de 1970 e início da década de 1980, capturando em fitas momentos de importância histórica aos povos indígenas e ao Brasil. Se trata de um conjunto de registros das primeiras Assembleias Indígenas que ocorreram no Nordeste, nos anos de 1981 e 1983, ainda sob a ditadura militar.

Há entrevistas, cantos, reuniões, histórias de vida de indígenas e de seus povos, além de rituais e festejos com toantes, sambas de coco, benditos, banda de pífanos. Neste primeiro momento, compartilhamos as gravações realizadas junto aos povos indígenas Kapinawá, Truká, e Pankararu – do Agreste e Sertão de Pernambuco.

O filme

O “corte dos arames” se refere à forma como o povo indígena Kapinawá chama o período de sua história no qual tiveram que resistir às invasões sucessivas ao seu território. Na época retratada pelo filme, os fazendeiros confrontavam os Kapinawá cercando as terras do povo com arame farpado. Os indígenas, em franca luta pelo território, cortavam e queimavam as cercas.

O filme narra essa luta pela terra contra os grileiros. Os fatos são apresentados a partir de uma série de fotografias, áudios e vídeos não editados e ainda inéditos. Este material foi coletado junto ao acervo do Cimi, que desde a década de 1970 teve uma série de missionários e missionárias atuando pelo Nordeste.

Baseado neste itinerário, a ideia do filme é retratar o encontro desses dois sujeitos políticos, sejam eles os Kapinawá em sua luta pela terra, seja o Cimi no apoio a esta luta.

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