Sabendo Quem Somos: livro que será lançado hoje (8) discute apagamento da memória familiar e descolonização

A obra “Sabendo Quem Somos: memória familiar e descolonização” propõe uma discussão sobre colonialidade e apagamento de origens não brancas

Cimi

A obra Sabendo Quem Somos: memória familiar e descolonização, publicada pela editora D’Placido, será lançada hoje, dia 8 de agosto, no Café Objeto Encontrado, em Brasília, um dia antes da primeira marcha das mulheres indígenas do Brasil. A data do lançamento foi escolhida em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas.

O trabalho, de autoria de Vanessa Rodrigues Araújo, é fruto da sua dissertação de mestrado em Direitos Humanos da Universidade de Brasília (UnB), sob orientação da antropóloga e professora emérita da UnB Dra. Rita Laura Segato. Conta ainda com o prefácio do filósofo Dr. Wanderson Flor do Nascimento e com a apresentação do Dr. Evandro Piza Duarte.

A autora e assessora jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) explica que a motivação para escrever o trabalho veio de dores e questionamentos sobre o apagamento da memória da sua avó indígena no seu seio familiar, que acabaram emergindo como uma pergunta política e uma demanda pelo direito à inscrição da sua memória.

“Minha família sempre privilegiou as memórias das linhagens do meu avô, descendente de portugueses. Já a memória da minha avó ficou condenada ao esquecimento. Isso interferiu na compreensão sobre quem eu sou”, explica.

Esta constatação levou-a a pesquisar sobre mecanismos de silenciamento presentes no seio familiar. “Por que no Brasil ninguém fala sobre as nossas origens não brancas? Seria o silenciamento um ato consciente ou inconsciente? Quem roubou nós mesmos das nossas próprias histórias, destruindo nossa concepção de ser dentro dela? O que interferiu no modo de construirmos nossas memórias familiares a ponto de branqueá-las? O que garante o sequestro permanente do nosso espelho?”, indaga Vanessa.

Ela explica que “o Brasil tem um problema de privação familiar e, assim como eu, inúmeras famílias brasileiras carregam silêncios cognitivos que interceptaram suas histórias de vida e apagaram os rastros de suas origens”.

Para a autora, falar sobre quem somos e de onde viemos é importante para “quebrar a pedagogia do silenciamento das nossas memórias familiares não brancas que foi instalada e naturalizada em nossas vidas. Além disso, não saber sobre as nossas origens cria um olhar colonizado sobre nós mesmos e sobre aqueles que carregam o signo da dominação histórica, falaciosamente vistos como diferentes de nós. A colonização do olhar, do sentir, do ser e do pensar, além de provocar sequelas subjetivas, esvaziar a nossa humanidade, facilitando a aceitação da morte do ‘outro’ como projeto político e não como um elo ancestral que deve ser restruturado”, salienta.

A reflexão evoca questionamentos sobre memória e solidariedade. “Se as pessoas soubessem sobre suas origens indígenas e negras, elas apoiariam projetos políticos que visam exterminar esses povos e grupos?  Elas se comoveriam com centenas de famílias indígenas sendo despejadas de suas terras e jogadas à beira da estrada sem comida e sem água, com massacres permanentes ou com o aumento do racismo em todas as suas esferas? Elas perceberiam que existe um genocídio em curso que vem desde a conquista e que isso não é um problema do ‘outro’, mas de todos nós?”, questiona Vanessa.

Conforme destaca a autora, trata-se de um debate que transcende a questão do resgate das origens pessoais. “A discussão sobre memória familiar e descolonização buscar devolver uma consciência história sobre quem somos, até mesmo para que não sejamos inconscientemente cúmplices de um projeto racista da nação, que deliberadamente decide que memória deve ser recordada e qual deve ser apagada. Com a conjuntura no país cada vez mais propensa ao ataque à memória e, consequentemente, à captura das subjetividades, considero oportuno trazer à tona esta reflexão”, destaca Vanessa.

A autora, Vanessa Rodrigues de Araújo

SERVIÇO:

O quê: Lançamento do livro Sabendo Quem Somos: Memória Familiar e Descolonização

Quando: 08 de agosto

Onde: Café Objeto Encontrado (CLN 102 Norte)

Contato: [email protected]

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