“Alto lá! Esta terra tem dono”: Cimi inicia sua XXIII Assembleia Geral

De 9 a 13 deste mês lideranças indígenas, missionários e apoiadores da causa indígena reúnem-se em Luziânia (GO)

por Adi Spezia, em Cimi

Com o lema “Alto lá! Está terra tem dono!” acontece, durante essa semana, a XXIII Assembleia Geral do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), onde reafirma a caminhada junto aos povos indígenas. Com a Constituição Federal desprezada pelo atual governo, o Cimi denuncia o roubo e a devastação dos territórios indígenas. Desse modo, relembrar Sepé Tiaraju, em sua célebre frase, nos dias de hoje, significa que o direito à terra envolve a defesa da Constituição, seus artigos 231 e 232 e o sentido de solidariedade impressa na lei maior.

“É fundamental a realização dessa XXIII Assembleia, que recorda os 273 anos, quando Sepé Tiaraju gritava junto com o povo Guarani ‘Alto lá, esta terra tem dono’ para que os direitos da Constituição sejam respeitados e, sobretudo, os povos indígenas possam viver sua alteridade e construir o seu futuro, sendo eles os sujeitos de sua história”, aponta o presidente do Cimi, Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO).

Realizada de dois em dois anos, esta edição conta com a presença de 100 delgados e delegadas, lideranças indígenas, organizações aliadas, apoiadores, missionários e missionárias, além de assessores do Cimi de todas as regiões do país. São aproximadamente 80 convidados representando entidades e instituições que apoiam as causas indígena e popular.

A Assembleia é um momento especial de reflexão sobre o atual contexto político, indigenista e eclesial em que o Cimi está inserido. Afinal, os povos indígenas estão entre os mais agredidos pelo projeto político em curso no Palácio do Planalto. “Por isso a participação dos povos indígenas e missionários e missionárias de todas regiões ajudam a iluminar os caminhos da resistência e também do enfrentamento de todas as forças de morte que o atual governo federal representa contra os interesses do Estado brasileiro, dos direitos da população brasileira e, de modo especial, contra a vida e o direito dos povos indígenas do nosso país e seus aliados”, aponta o secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto.

“Se não fizermos o enfrentamento, podemos ter uma situação pior daqui a dez anos. É fundamental esse processo e saímos daqui com o compromisso de multiplicarmos esses processos de luta. Avaliamos que os povos indígenas não deixaram de se mobilizar no decorrer da história, mesmo em governos mais populares, como os de Lula e Dilma. Continuou com Temer e podemos dizer que agora, em 2019, os povos indígenas são os que mais se mobilizam contra este governo autoritário”, aponta Buzatto.

Assim como no período da ditadura militar, nos primeiros anos do Cimi, hoje volta a perspectiva estatal de integração dos povos indígenas à sociedade envolvente por intermédio da negação de direitos e da paralisação das terras indígenas, bem como sua ocupação com o agronegócio, mineração, grilagem e esbulho. Os militares defendiam que até os anos 2000 não haveria mais povos indígenas, mas a resistência reverteu o quadro. Caminhos e estratégias foram encontrados incluindo a luta dos indígenas no processo da Constituinte e no período posterior.

“Nós entendemos que hoje também é possível fazer a superação por meio dos processos de luta neste contexto mais gravoso aos direitos e à vida dos povos indígenas. A Assembleia do Cimi pretende ser um momento, dentre tantos outros, para contribuir nesse processo de luta, resistência e enfrentamento contra esse projeto de morte para que os projetos de vida dos povos continuem firmes, fortes e tenham um futuro de longa data”, afirma Buzatto.

Durante os dias do encontro, debates terão como foco a Constituição Federal e sua defesa, buscando formação e com conhecimento e informação traçar estratégias para fazer a defesa do direito originário à terra. “Esperamos, como missionários e missionárias do Cimi, (…) que sejamos capazes de nos colocar sempre a caminho diante desta missão que em nome da fé nós assumimos”, assegura Dom Roque.

“É um momento de nos fortalecermos nessa conjuntura adversa, pois defender os direitos dos povos indígenas é defender a vida em sua plenitude”, afirma a vice-presidente do Cimi, Emília Altini. Ela ainda lembra dos ensinamentos de Dom Pedro Casaldáliga quando dizia que quanto mais difícil o tempo, mais forte deve ser em nós a esperança. “É com essa esperança, teimosa, com ousadia e resistência, é que vamos acolher todas as reflexões destes dias reforçando nosso compromisso junto a causa indígena, que é a ação missionária específica junto aos povos indígenas”, conclui.

No decorrer dos cindo dias da Assembleia Geral, além dos debates, trocas de experiências e deliberação, será realizada a eleição do novo Secretariado Nacional do Cimi para o mandato dos próximos quatro anos.

A participação dos povos indígenas e missionários de todas regiões ajudam a iluminar os caminhos da resistência e do enfrentamento de todas as forças de morte que o atual governo federal representa. Foto: Tiago Miotto/Cimi

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