SP: Os parques da cidade à venda

Dória segue onda privatizadora: é a vez do Parque do Estado, que abriga o Zoológico, Zoo Safari e Jardim Botânico. Concessão pode comprometer inúmeras pesquisas, de preservação, da Mata Atlântica. Moradores protestam, nesta sexta

Outras Palavras

A Associação de Moradores e Amigos da Água Funda (AMAAF), bairro paulistano localizado na zona Sul, e o Movimento Lute pela Floresta estão organizando um ato nesta sexta-feira, às 11 horas, em frente ao Jardim Botânico de São Paulo. O objetivo da atividade é protestar contra o projeto, proposto pelo governador João Dória (PSDB), de privatização do Zoológico, Zoo Safari e Jardim Botânico. 

De acordo com a liderança da AMAAF, Izabel Graciliana Ramos, é necessário a mobilização popular para barrar esse projeto. “É triste falar, mas o Água Funda é um bairro esquecido pela autoridade. Nossa única riqueza é o Parque. Dizemos ‘não’ a esta privatização de um pedaço da Mata Atlântica”, afirma.

Pesquisas ameaçadas

O Zoológico, que completou 60 anos no ano passado, tem transformado sua concepção inicial de espaço de lazer para um importante centro de educação ambiental, conservação de espécies silvestres e pesquisas científicas.

Atualmente, possui parcerias com cinco institutos de pesquisa (IQ/USO; ICB/USP; IAL; UNIFESP; AC Camargo). Desde 2013, mantém um curso de Pós-Graduação em Conservação da Fauna com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com financiamento pela CAPES. 

A Fundação Parque Zoológico de São Paulo, que administra além do Zoológico a Zoo Safari e a Divisão de Produção Rural, mais conhecida como Fazenda do Zoo, emprega efetivamente cerca de 400 trabalhadores. No projeto, não há garantias da manutenção desses funcionários.

Já o Instituto de Botânica, localizado dentro do Jardim Botânico, mantém o programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente, credenciado como nível 5 no CAPES/MEC, com a oferta de cursos de Mestrado e Doutorado, além de programa de iniciação científica financiado pelo CNPq. No total, esses programas captam R$ 1,8 milhão anualmente, e formaram nos últimos anos 400 alunos de iniciação científica, 270 de mestrado e 140 de doutorado.

Entretanto, toda essa produção de conhecimento está em risco.

Projeto de lei

Aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) em junho, o Projeto de Lei 183/2019 pretende conceder essas instituições à iniciativa privada por 35 anos para exploração comercial de lazer. Atualmente, o Jardim Botânico é administrado pelo Instituto de Botânica, e o Zoológico e o Zoo Safari pela Fundação Parque Zoológico de São Paulo.

O governo justifica essas privatizações pela necessidade de economia dos R$ 4 milhões investidos nessas localidades, o que representa menos de um milésimo (0,0017%) dos 230 bilhões previstos para o orçamento anual do Estado. Além disso, o governo argumenta que esses espaços estão subutilizados, apesar do zoológico receber um milhão e trezentas mil visitas por ano em média.

As três instituições estão inseridas dentro do perímetro do Parque Estadual Fontes do Ipiranga, que é maior fragmento de Mata Atlântica da região metropolitana de São Paulo. Para a AMAAF, a privatização da área pode causar um impacto ao meio ambiente pelo aumento do descarte indevido de lixo e crescimento do fluxo de carros. A Associação denuncia que não houve nenhum estudo de impacto que a privatização poderá ocasionar na região, além das possíveis consequências para a fauna e a flora inseridas no Parque.

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