Em nota, o desagravo coletivo denuncia também a publicização de falsas soluções à crise climática e promoção das árvores transgênicas.
Um conjunto diverso de organizações brasileiras e de diversas partes do mundo manifestaram repulsa, por meio de nota, à realização do XXV Congresso Mundial da IUFRO (sigla inglesa que significa “União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal”). A agenda ocorre em Curitiba (PR), nos dias 29 de setembro a 5 de outubro e deve reunir empresas, cientistas, órgãos governamentais e profissionais do setor florestal
No documento as organizações, entre elas a Terra de Direitos, manifesta que, ainda que se anuncie como “pesquisa florestal e cooperação para o desenvolvimento sustentável”, o desenvolvimento dos estudos objetivam dar validade científica à exploração e esgotamento dos recursos naturais. “Queremos expressar nosso repúdio à propaganda que esse primeiro Congresso Mundial da IUFRO no Brasil vem realizando sobre as monoculturas de árvores em grande escala”, destacam.
“A ‘pesquisa florestal’ que a IUFRO está promovendo se concentra no incentivo a plantações industriais de árvores, na promoção das árvores transgênicas e na publicização de falsas soluções para a crise climática, como o ‘armazenamento de carbono’ em monoculturas de árvores que serão cortadas em poucos anos de vida, quando o carbono será novamente emitido, voltando para a atmosfera”, aponta um trecho da nota.
O coletivo destaca os impactos ambientais, sociais, econômicos e culturais na adoção de práticas de monocultivo arbóreo e sublinha o papel brasileiro na emergência e protagonismo desde modelo. “As monoculturas de árvores representam um modelo nefasto para as comunidades e seus territórios. Seu avanço no Brasil tem destruído tecidos sociais e expulsado do campo populações camponesas, indígenas, povos e comunidades tradicionais – como quilombolas, geraizeiros, dentre outras”, aponta outro trecho.
“O Brasil foi o primeiro país da América Latina a autorizar o plantio comercial de um eucalipto transgênico. A aprovação foi obtida em 2015 pela Suzano, hoje a maior empresa de plantações de eucalipto e um dos maiores latifundiários do país”, cita o documento, em referência à relação direta entre medidas legislativas e interesses de mercado.
O documento ainda evidencia preocupação com as sinalizações do novo governo. “O Governo Bolsonaro evidencia sua cumplicidade com aquelas empresas ao anunciar, em junho deste ano, que o Ministério da Agricultura pretende apoiar a expansão da área ocupada com monoculturas de árvores em mais dois milhões de hectares até 2030”, denunciam.
Por fim, o documento ainda traz luz entre a relação entre as queimadas – que atingem, com força biomas localizados no cerrado e Amazônia, entre outros – a prática de monocultivos. “Denunciamos ainda que as queimadas, que têm horrorizado o planeta e ocultam a morte de comunidades, a extinção de espécies e a destruição de culturas, são passo consistente para o avanço do capital sobre a floresta, em especial das monoculturas de soja e milho, e também de eucalipto, antecedendo a desertificação da Amazônia Legal”, finalizam.
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Imagem: monocultura do eucalipto no norte de Minas Gerais – Foto: Paula Cavalcanti