Níquel e arsênio são detectados na água do Rio Paraopeba, entre Pará de Minas e Pompéu

Metais pesados foram encontrados durante análises do Instituto Mineiro de Gestão das Águas em janeiro deste ano; elementos não foram localizados na época do rompimento da barragem em Brumadinho.

Por G1 Centro-Oeste de Minas

Os metais pesados níquel e arsênio foram detectados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) na água do Rio Paraopeba, no trecho entre Pará de Minas e Pompéu, em janeiro de 2020. A confirmação foi enviada pelo Instituto ao G1 através de nota, nesta sexta-feira (14). Os elementos não haviam sido encontrados na água na época do rompimento da barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Nesta semana, o Igam divulgou que o uso da água bruta do Rio Paraopeba, entre Brumadinho e Pompéu, continua suspenso. O Instituto intensificou o monitoramento da qualidade da água bruta do Rio, além de ter determinado à Vale que reforce as análises.

De acordo com o Igam, atualmente, são 16 pontos monitorados no Rio Paraopeba no trecho impactado. Seis deles estão entre Pará de Minas e Pompéu. Com a chegada do período chuvoso, desde novembro o Igam monitora os pontos semanalmente, incluindo os localizados no Centro-Oeste de Minas.

Os resultados já eram esperados pelo Instituto por conta do período chuvoso e do revolvimento do material que ainda se encontra depositado no leito do rio, sobretudo nas áreas próximas ao rompimento.

Monitoramento

Em nota à reportagem, o Igam explicou que o aparecimento dos elementos tóxicos foi detectado no dia 16 de janeiro, quando foram registradas extrapolações do limite de classe para os parâmetros níquel e arsênio na estação de amostragem localizada em Paraopeba.

“O níquel e o arsênio não haviam sido detectados na água à época do desastre durante a passagem da pluma de rejeitos, no trecho do Rio Paraopeba entre Pará de Minas e Pompéu”, diz a nota.

O Igam ressalta que é preciso considerar que o mês de janeiro deste ano apresentou um acumulado maior de precipitação, comparado com o mesmo período do ano anterior. Por isso, o Instituto associa os resultados encontrados com as chuvas intensas, aumento das vazões e o revolvimento do material que ainda se encontra depositado no leito do rio, sobretudo nas áreas próximas ao rompimento.

No trecho de monitoramento entre Pará de Minas e Pompéu, foram registradas desconformidades, durante o mês de janeiro, dos limites de classe 2 para os seguintes parâmetros: turbidez, manganês total, ferro dissolvido, alumínio dissolvido e chumbo total em todos os pontos de amostragem avaliados neste trecho do Rio Paraopeba.

Segundo a resolução nº 357, de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), as águas doces têm quatro tipos de classificação. A classe 2 define que são águas que podem ser destinadas:

  • Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional
  • À proteção das comunidades aquáticas
  • À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução Conama no 274, de 2000
  • À irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto
  • À aquicultura e à atividade de pesca

O Igam explica ainda que o chumbo, que esteve abaixo do limite de classe durante o período seco de 2019, desde de dezembro do ano passado passou a registrar violações do limite de classe, em todos os pontos monitorados ao longo da calha do Rio Paraopeba, desde de Brumadinho até o ponto localizado a montante da UHE Retiro Baixo (região de Pompéu).

Contudo, a Instituição ressalta que os valores mais expressivos, e com o maior número de violações, foram observados nos pontos localizados nos primeiros 60 km (até Juatuba) do Rio após a barragem B1. Neste trecho, os dados medidos na última semana de janeiro indicaram que a turbidez variou entre 578 NTU a 832 NTU (limite legal = 100 NTU).

Entre Pará de Minas e Pompéu, os valores de turbidez estiveram entre 414 e 791 NTU. O trecho que não teve interferência dos rejeitos, logo a montante do desastre, registrou 348 NTU de turbidez. O número também aponta desconformidade ao limite legal, mas menores em relação aos apresentados nos trechos impactados.

Análises intensificadas

Nesta semana, o Igam divulgou que intensificou o monitoramento da qualidade da água bruta do Rio, além de ter determinado à Vale que reforce as análises. A suspensão do uso da água bruta do Rio Paraopeba permanece entre Brumadinho e Pompéu.

O trecho tem aproximadamente 250 km de distância do rompimento da barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, que completou um ano em janeiro deste ano. A tragédia vitimou 270 pessoas, 259 já foram identificadas por peritos, outras 11 vítimas seguem desaparecidas.

Em nota enviada ao G1 na sexta-feira, a Prefeitura de Pompéu esclareceu que o Município não tem recursos próprios para realizar análises periódicas da qualidade da água e segue as recomendações do Igam. A última recebida pelo Município foi Boletim Informativo do Cidadão nº 7, de janeiro de 2020. O Executivo enviou à reportagem o texto da recomendação, leia abaixo.

“A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) recomendaram que a população não fizesse uso da água bruta do Rio Paraopeba, no trecho que abrange os municípios de Brumadinho até Pompéu, para nenhuma finalidade e determinou, ainda, que a empresa responsável pela barragem suprisse a população com água em condições seguras para os mais diversos usos. Essa recomendação vigora até os dias atuais, e foi respaldada pelo monitoramento executado pelo Igam, Copasa e CPRM/ANA”.

Água imprópria para consumo

No dia 25 de janeiro de 2020 o rompimento da barragem em Brumadinho completou 1 ano. Na data, o G1 conversou com o biólogo José Hermano Oliveira Franco sobre a qualidade do Rio Paraopeba, um dos locais atingidos pela lama da barragem.

O rio é um dos afluentes do Rio São Francisco e era utilizado como principal fonte de captação de água para abastecimento de Pará de Minas, deixando outros municípios banhados pelo rio em estado de atenção.

De acordo com José Hermano, a água do rio continua imprópria para consumo, pois ainda há lama da barragem alojada em boa parte do Rio na parte que passa por Pará de Minas.

“Não sabemos o tanto de lama que está dentro do rio, porque veio descendo ao longo de vários quilômetros e foi se alojando no fundo do Rio. O Paraopeba recebeu uma carga muito grande destes rejeitos, eles continham diversos tipos de metal, isso foi constatado por laudos emitidos IGAM [ Instituto Mineiro de Gestão das Águas] na época”, destacou o biólogo.

O biólogo disse também que apesar de ainda haver vida no rio, em boa parte dele a situação não é favorável.

“A mortandade inicial de peixes se deu por causa do arraste que ela lama foi fazendo. Contudo, esses metais pesados contaminam os animais ou quem os ingere de forma mais lenta, então como ainda temos lama dentro do Rio e temos peixes, é provável que estes peixes estejam contaminados. E isso é dramático porque vira uma loteria ao contrário, o rio vai tem peixe e as pessoas vão ver como aparentemente era antes, mas não vamos poder consumir nada”, declarou o especialista.

Análises na qualidade da água

Na terça-feira (11), o Igam divulgou ter intensificado as análises na qualidade da água e orientou que a Vale fizesse o mesmo. Para a empresa, a indicação é a ampliação imediata e avaliações diárias em três novos pontos do Rio Paraopeba, próximo à confluência com o Rio São Francisco, no reservatório de Três Marias e na região Central de Minas Gerais.

Conforme o Instituto, os três novos pontos que devem ser monitorados ficam no braço do reservatório, a montante da confluência do Ribeirão do Peixe; no braço do reservatório, a jusante da confluência do Ribeirão do Peixe; e dentro do reservatório de Três Marias, a jusante do encontro dos rios Paraopeba e São Francisco.

Em nota divulgada no site, o Instituto explica que “desde o início de novembro, com a chegada do período chuvoso, o Igam intensificou o acompanhamento sistemático dos resultados do monitoramento da qualidade da água da sua rede própria, incluindo a região do reservatório de Três Marias. O trabalho visa verificar quaisquer anomalias que possam indicar, na água, a presença de partículas do rejeito, provenientes do rompimento da barragem B1, em Brumadinho”.

O Igam afirmou que no período chuvoso, entre os meses de dezembro e janeiro, houve um acúmulo de água das chuvas na bacia do rio Paraopeba, o que ocasionou no aumento das concentrações de turbidez e manganês a jusante da Usina Hidrelétrica (UHE) Retiro Baixo e no braço de entrada do Rio Paraopeba no reservatório de Três Marias.

“As alterações não apresentam limites que levam à necessidade de suspensão dos usos”, destaca a nota divulgada.

No trecho da UHE Retiro Baixo ao reservatório de Três Marias há 63 usuários de água regularizados pelo Igam; sendo 13 de captação subterrânea e 40 de captação superficial. Entre estes últimos, 39 são de uso insignificante, ou seja, de pequenos usos.

Monitoramento dos peixes

Ainda na mesma nota divulgada, o Igam reforçou que o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) também acompanha a situação dos peixes na Bacia do Paraopeba, monitorando os resíduos de metais pesados na criação de peixes em cativeiro na barragem de Retiro Baixo e no lago de Três Marias.

Desde fevereiro de 2019, mais de cinco mil amostras de filé e fígado de tilápias criadas em tanques foram analisadas.

Nos levantamentos feitos não foram encontradas alterações que indicassem o risco no consumo do pescado. As análises continuarão, por tempo indeterminado, por conta das alterações ambientais ocasionadas pelo período chuvoso.

O que diz a Vale

A Vale enviou uma nota ao G1 sobre a situação. Leia na íntegra.

A Vale já iniciou o monitoramento em três pontos adicionais do rio Paraopeba, conforme solicitado pelo Igam. Dois desses pontos estão localizados no braço do rio Paraopeba e um a jusante do reservatório de Três Marias.

A Vale monitora a água do rio Paraopeba desde janeiro de 2019. Atualmente, são cerca de 90 pontos de monitoramento, no rio Paraopeba, 10 de seus afluentes, incluindo o ribeirão Ferro-Carvão, e o São Francisco até sua foz no oceano Atlântico, além de sondas instaladas nos reservatórios das usinas de Retiro Baixo e Três Marias. Já foram realizadas cerca de 4,5 milhões de análises de água, solo e sedimentos em aproximadamente 40 mil amostras para análise de diversos parâmetros, como a presença de metais na água, pH e turbidez. A Vale segue monitorando a água do rio Paraopeba e reforça que as análises e medições são reportadas sistematicamente ao Igam.

Adicionalmente, a Vale firmou, no final de novembro do ano passado, Termo de Compromisso com o Ministério Público de Minas Gerais e Igam transferindo ao órgão ambiental as atividades de monitoramento. Conforme acordado, o trabalho será auditado e, depois, a Vale suportará o Igam na realização dos monitoramentos sobre a qualidade de água e sedimentos na Bacia do rio Paraopeba e no rio São Francisco durante 10 anos.

Rompimento Barragem

A barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, se rompeu em 25 de janeiro e vitimou 270 pessoas. Peritos já identificaram 259 mortos e 11 ainda pessoas ainda seguem desaparecidas. A Polícia Civil de Minas Gerais disse, em 28 de novembro de 2019, que havia concluído o laudo sobre o desastre.

Um estudo técnico, realizado por uma empresa contratada por um escritório de advocacia que atende a Vale, confirmou que a causa do rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho foi “liquefação” – situação que ocorre quando um material sólido passa a se comportar como fluido.

Em entrevista concedida pelo presidente da Vale, Fábio Schvartsman, na época, ele destacou que vazaram 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos – na tragédia de Mariana, há 3 anos, foram 43,7 milhões. A barragem que rompeu não era usada há três anos.

Ainda na época, o Governo de Minas Gerais enviou equipes até Brumadinho para um trabalho de força-tarefa que durou mais de 100 dias.

Obras em Pará de Minas

A Vale assinou em março de 2019 um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Prefeitura de Pará de Minas, assumindo a responsabilidade pela realização de obras que garantiriam o abastecimento de água do município.

O TAC previa que a Vale refizesse a captação de água para o município a partir do Rio Pará. Para tanto, era necessário a construção de uma adutora de 47 km de extensão. Além disso, o acordo previa que fosse feito um reservatório com, no mínimo, 50 milhões de litros d’água para suprir as necessidades de abastecimento do município durante o período de estiagem.

Em relação a essas obras, em nota a Mineradora informou ao G1 que já a construção da adutora está em andamento, e o projeto está com 45% de avanço físico.

Ainda em nota, a Vale destacou que “atualmente 445 trabalhadores, sendo 40% de mão de obra local e cidades vizinhas, atuam nas frentes de obras. Os investimentos no empreendimento são de cerca de R$ 130 milhões”.

A conclusão das obras estão previstas para julho desse ano, o empreendimento será entregue à Prefeitura de Pará de Minas e operado pela Concessionária Águas de Pará de Minas.

“Ações emergências previstas pelo TC já foram implementadas, como a construção de cinco poços artesianos e uma captação superficial para abastecimento do município.A companhia também fornece água potável e mineral para propriedades que captavam diretamente do Paraopeba e não possuem água encanada, ou ainda para quem captava em poços e cisterna a até 100 metros da margem do rio. Até 21 de janeiro, já foram entregues mais de 900 mil litros de água potável por meio de caminhões-pipa e fardos de água mineral para famílias de Pará de Minas elegíveis”, esclareceu a nota

A Prefeitura informou ao G1 que está acompanhando as obras, e até o momento, os prazos segue conforme ajustados no TAC.

Análises

No dia 4 de fevereiro de 2019, uma análise feita por uma equipe da Fundação SOS Mata Atlântica afirmou que o Rio Paraopeba estava morto no trecho que corta Pará de Minas.

Para tentar conter os rejeitos, a Vale instalou três barreiras de contenção ao longo do curso do rio na cidade. No entanto, a análise revelou que as barreiras continham apenas 95% dos rejeitos.

No mesmo dia, o prefeito Elias Diniz decretou situação de emergência em Pará de Minas devido aos prejuízos causados pela contaminação da água.

O relatório final das análises feitas pela equipe da Fundação, divulgado no dia 27 de fevereiro, revelou a presença de metais pesados na água do rio e afirmou que a água do rio estava imprópria para consumo em uma extensão de 305 km.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

nove − oito =