Ouça canções do Candomblé gravadas em 1940: etnomusicologia

Do Observatório Nacional de Cultura

Em 2002, Xavier Vatin, professor de antropologia na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), encontrou nos arquivos da Universidade de Indiana (EUA) uma vasta coleção de áudios gravados pelo linguista americano Lorenzo Turner durante uma viagem à Bahia. Tratava-se de um tesouro ainda inédito: mais de cem discos de alumínio (um total de 17 horas de áudio) contendo registros de sacerdotes e sacerdotisas de candomblés dos anos 1940.

Em áudio, vídeo e fotografia, captou, por exemplo, o babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim, o babalorixá Manoel Falefá, o sacerdote Joãozinho da Gomeia e a ialorixá Mãe Menininha do Gantois. Também foi descoberta uma reprodução da voz de Mário de Andrade, escritor que investigou o campo musical.

Xavier Vatin se juntou a Cassio Nobre, diretor da produtora audiovisual Couraça Criações Culturais, para trazer as gravações para o Brasil, estudá-las e divulgá-las. Nascia então o projeto Memórias Afro-Atlânticas, um riquíssimo material que pode ser acessado gratuitamente através da página soundcloud.com/memoriasafroatlanticas e do canal no YouTube.

Prevê-se ainda a distribuição, também sem custos para o público, do livro-catálogo, tanto impresso quanto digital, além da exibição do filme, cuja narrativa aborda a persistência do recordar.

Lorenzo Turner, o linguista que coletou o material

Lorenzo Turner foi um pesquisador da Universidade de Harvard, nascido em 1890 na Carolina do Norte. Neto de escravizados, se dedicou a compreender as intersecções linguísticas entre diferentes grupos das Américas.  Durante sete meses de pesquisas intensivas realizadas em Salvador e no Recôncavo da Bahia da década de 1940, o linguista Turner gravou áudios e imagens dos mais proeminentes sacerdotes e sacerdotisas dos candomblés da época.

O objetivo de Turner era comprovar a preservação de um fundo linguístico oeste-africano em locais e comunidades peculiares da diáspora africana nas Américas. Porém, de acordo com os autores do projeto Memórias Afro-Atlânticas, “os seus registros representam muito mais, na atualidade: este é, sem dúvidas, um dos mais importantes legados sobre a resistência das culturas de matrizes africanas no Brasil.”

Foto: Laura Marques /O Globo

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.

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