Pedro Cardoso: Não existe Brasil

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Não existe Brasil. Existe um amontoado de gente jogado no mesmo pedaço de chão, convivendo forçosamente, obrigados a se dizer pertencer à mesma nação. O Brasil é falso como a letra do seu hino, que, aliás, é feia e mal escrita. O Brasil nunca foi gigante porque ele nem sequer existe. Nenhuma nação surge de 350 anos de escravidão. Eu me recuso a compartilhar nacionalidade, e o consequente patriotismo, com pessoas que fazem baderna em tempos de necessário isolamento social.

Qdo um infectado entra num hospital ele expõe a risco médicas, enfermeiras e todos que forem cuidar dele. Fazer o impossível para não se infectar é uma obrigação para com os outros. Na minha opinião, quem se oferece ao vírus em aglomerações voluntariosas não deveria receber tratamento caso adoeça. Se o vírus é uma invenção, como dizem, que se curem sozinhos; e não venham arriscar a vida de quem, com sacrifício, está dedicado a salvar vidas. Eu não pertenço a mesma nação que essas pessoas.

Sou juridicamente brasileiro. 220 milhões de pessoas o são. Mas é mera formalidade. Não posso pertencer a um país que não existe. O que existe são grupos identificados por igualdade pretendida. Grupos de militares, de comerciantes, de artistas sertanejos, de latifundiários, de fundamentalistas de falsas religiões e por aí vai. Cada grupo chama a si mesmo de Brasil como se todos os nascidos nesses limites geográficos fossem iguais a eles. Não somos. Eu não faço buzinaço em porta de hospitais nem clamo por ditadura militar. Não pertenço à nação de quem o faz. É com pesar que sou obrigado a compartilhar com gente assim o mesmo espaço geográfico.

O País que eu nasci é o do sonho de Criolo, Mano Brown, Ruth de Souza, Pixinguinha, Chico Mendes, Leonardo Boff, Chico Buarque, Caetano Veloso, Fernanda Montengro, Amir Haddad, D. Ivone Lara, Catulo da Paixão Cearense, Dolores Duran e tantos a quem posso chamar de irmãos. Os outros, esse grupo abjeto de pessoas incivilizadas, sádicos agressores de indefesos, ocuparam a terra do país imaginado pela arte produzida pela minha gente. Roubaram até as cores da bandeira. Verde e Amarelo se tornou uma combinação repulsiva. Bandeira feita mortalha.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Emilia Wien

Comments (3)

  1. Tão bom quanto o texto do Pedro Cardoso foi a resposta do JOSÉ R. DA SILVA MARAMONHANGA. Parabéns! 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

  2. O problema, caro Pedro Cardoso, é que nos coube nascer nesse pedaço de chão. Realmente o Brasil, não é uma Nação. Está ainda em formação. Os Povos Originários, que já habitavam estas terras antes da invasão das caravelas do Cabral, continuam a ser espoliados e massacrados. Também a mentalidade escravagista e racista continua fortemente arraigada e posta em prática pelas crués classes dominantes.

    Os “capitães do mato” de hoje são as hordas que tem como símbolo o punhal cravado em uma caveira e, principalmente, os que bradam o bordão “Brasil acima de tudo” – cópia descarada da consigna de Hitler – o genocida Exército brasileiro do monarquista Caxias e os seus generais fascistas, norte-americanizados e anticomunistas. Agora, sob o comando do “Cavalão”, puseram em marcha a deflagração de um novo golpe militar. O “cavalão” – alcunha muito apropriada dada a Bolsonaro nos tempos dele de caserna – é o personagem psicopata sob medida, para a execução das medidas atuais anti-operárias e crimes que exige a burguesia do Brasil, principalmente a financeira, junto com os latifundiários, para tentar postergar o fim desse sistema parasitário e agonizante sistema imperialista de Trump e cia.

    Mas, cada lugar tem os que prestam e os que não valem nada. Perfilemos com os prestam, os explorados, os que hoje nada têm mas muito valem e lutemos contra as iniquidades e por mudar esse país e esse mundo.

    “Nem em deuses, reis nem tribunos, está o supremo salvador. Nós mesmos realizemos o esforço redentor. Para fazer que o tirano caia e o mundo servo libertar, sopremos a potente fornalha que o homem livre há de forjar! Agrupemo-nos todos,na luta final. O gênero humano é a Internacional! ”

  3. Excelente análise. Compartilho da mesma visão do articulista, no qual o dito “patriotismo” tupiniquim tornou-se uma palavra repulsiva, cínica e eivada de hipocrisia.
    Vivemos, desde bem antes da pandemia, em um país repleto de gente doente, de psicopatas egoístas sem um mínimo de empatia ou solidariedade para com o seu próximo.
    Sinto-me, em relação ao Brasil, sob uma sensação de não pertencimento, visto que não somos uma nação, mas sim um amontoado de pessoas sob um sistema caótico, injusto e desigual, onde uma pequena elite defende violentamente seus privilégios, a qualquer custo e sem qualquer pudor.
    Não isento da responsabilidade os pobres de corpo e de espírito. Sob o mesmo chão brasileiro, habita um “povão” ignorante, mal instruído e sem qualquer consicência de classe.
    A maior parcela da população brasileira transita entre aqueles que se deixam dominar pela preguiça mental alienante e os que se tornam marionetes da burguesia, reproduzindo atitudes de franca hostilização contra quem tenta defender seus interesses políticos e sócio-econômicos.

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