Ruralistas lamentam demissão de Moro: ‘Sempre foi solícito às demandas da FPA’

Pelas redes sociais, líderes da Frente Parlamentar da Agropecuária expressaram consternação pela saída do ex-juiz; Sergio Moro já buscou apoio de ruralistas para escapar de CPI da Vaza Jato e para aprovar “pacote anticrime”

Por Bruno Stankevicius Bassi, em De Olho nos Ruralistas

O pedido de demissão do ex-juiz Sergio Moro, agora ex-ministro da Justiça, rapidamente repercutiu entre lideranças da bancada ruralista no Congresso. Fiadora política da eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, quando decretou apoio ao candidato da extrema-direita ainda no primeiro turno, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) replicou publicação de seu presidente Alceu Moreira (MDB-RS) lamentando a saída do ex-juiz da Lava-Jato.

No tweet, publicado alguns minutos depois do pronunciamento de Moro, afirmou que suas ações representam a “reconstrução do tecido da integridade do Brasil”. Segundo Moreira, o ex-ministro “sempre foi muito solícito” às demandas da FPA.

Durante o ano de 2019, Moro participou duas vezes como convidado especial nas reuniões-almoço com congressistas da FPA, realizadas semanalmente na sede da bancada, em uma mansão no Lago Sul de Brasília. A primeira, em 18 de junho, ocorreu um dia antes de o ex-ministro comparecer perante a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado para prestar esclarecimentos sobre as trocas de mensagens com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, reveladas pelo The Intercept Brasil na série que ficou conhecida como Vaza Jato.

Questionado se Moro teria pedido apoio da bancada ruralista para evitar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na época, o presidente da FPA negou. “Ele está absolutamente tranquilo para prestar esclarecimento sobre o que ele sabe e sobre o que ele acha que é correto”, disse.

Na segunda oportunidade, em 3 de dezembro, a pauta incluiu a Medida Provisória 897/2019, a MP do Agro, aprovada em março pelo Senado e sancionada por Bolsonaro no dia 8 de abril, e o apoio da bancada ruralista ao chamado “pacote anticrime” defendido pelo então ministro da Justiça e da Segurança Pública.

LÍDERES DA FRENTE DECLARAM APOIO A MORO

Alceu Moreira não foi o único líder ruralista a se pronunciar sobre a saída de Moro do Ministério da Justiça. Em tweet acompanhado por uma foto ao lado do ex-juiz, o deputado Pedro Lupion (DEM-PR), coordenador institucional da FPA, apontou uma grande perda: “Temos que reconhecer o trabalho do ministro Moro no governo e no Ministério da Justiça, depois de ser juiz da Lava Jato. Junto aos secretários de segurança pelo país, trouxe credibilidade e resultados”.

Pelo Twitter, o coordenador de defesa agropecuária da frente, deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), considerou a saída de Sérgio Moro uma perda para “todos os cidadãos de bem deste país”. “A Justiça deve ser para todos e o agora ex-ministro já provou competência e seriedade”, complementou. Opinião parecida com a do senador Lasier Martins (Podemos-RS), que afirmou considerar Moro um “idealista“.

Partidária do presidente Bolsonaro, a deputada Aline Sleutjes (PSL-PR) afirmou ter sido pega de surpresa com o pronunciamento, mas reafirmou seu apoio ao governo. “Tenho absoluta certeza que o trabalho da Polícia Federal seguirá forte e imutável e que o novo Ministro indicado pelo @jairmessiasbolsonaro continuará sua missão com responsabilidade e eficiência”, afirmou, em sua conta no Instagram. Responsável pela secretaria da FPA, Sleutjes recebeu uma advertência escrita do PSL em novembro, na ocasião do rompimento entre Bolsonaro e a cúpula do partido.

O deputado Giovani Cherini (PL-RS) foi mais contundente. Ele considera que a saída de Moro “pode representar, para muitos, o afastamento do governo Bolsonaro do sentimento popular e do combate à corrupção”. No que foi seguido pelo deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) que, em entrevista ao Valor, afirmou que as acusações de Moro são “gravíssimas” e colocam em xeque “todo e qualquer movimento de Bolsonaro nessa seara”, referindo-se à nomeação do novo coordenador da Polícia Federal.

A senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu (PDT-TO), que não pertence à Frente Parlamentar da Agropecuária, mas já presidiu a Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), foi mais sucinta: “Moro acaba de fazer uma ‘delação premiada’”, afirmou, no Twitter. “Ao vivo, em coletiva”.

Ex-ministro Sergio Moro em almoço da Frente Parlamentar da Agropecuária. (Foto: Agencia FPA)

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