Sob ataque do Gabinete do Ódio, Tereza Cristina participa de ato contra a democracia

Ministra da Agricultura apareceu anteontem ao lado do presidente Jair Bolsonaro em ato fascista; líder da bancada ruralista, ela é alvo de ataques da milícia virtual governista por defender relação comercial com a China e não criticar isolamento social

Por Bruno Stankevicius Bassi, em De Olho nos Ruralistas

No governo de Jair Bolsonaro, quem não segue a cartilha do obscurantismo torna-se inimigo. E, consequentemente, alvo das milícias virtuais coordenadas por seu filho Carlos Bolsonaro, chefe do “Gabinete do Ódio“. Aconteceu com os ex-ministros da Justiça, Sergio Moro, da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e acontece agora com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM-MS).

Desde o início de abril, a ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) vem recebendo ataques nas redes sociais por não se posicionar publicamente contra o isolamento social. Discreta, ela usa sua conta no Twitter para divulgar ações do ministério e evita entrar nas polêmicas geradas diariamente pelo presidente e seus aliados mais próximos.

A postura mais pragmática, no entanto, caiu por terra neste domingo (17). Ao lado de Bolsonaro e de outros ministros, Tereza Cristina apareceu na rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, para saudar manifestantes pró-governo e anti-democracia que nas últimas semanas vêm desafiando as restrições a aglomerações estabelecidas por estados e municípios.

Aos gritos de “cloroquina” e “queremos trabalhar”, os apoiadores do presidente marcharam até o palácio, onde receberam ordens para guardar as dezenas de faixas e cartazes pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo e a volta da ditadura militar, do AI-5 e da tortura a opositores. A farsa foi louvada por Bolsonaro, que destacou o fato de não ver “nenhuma bandeira que atente contra nossa Constituição”.

Sinalizando ceder à pressão do núcleo ideológico, Tereza Cristina, em uma ação atípica, retweetou vídeo com a transmissão do ato postado no perfil do presidente.

A fritura da ministra da Agricultura é acompanhada de perto pelo secretário de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, inicialmente cotado para o cargo e sacrificado por Bolsonaro em detrimento do apoio da FPA. Amigo pessoal da família presidencial, Garcia compartilha com eles o histórico de envolvimento com milícias: em 2003, o líder da União Democrática Ruralista posou ao lado de fazendeiros armados para combater ocupações de camponeses no Pontal do Paranapanema, em São Paulo.

BANCADA SE MOBILIZA PARA DEFENDER MINISTRA

A fritura de Tereza Cristina no cargo começou após a ministra ir a público defender a relação comercial com a China, abalada após o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o filho 03 do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), postarem tweets de cunho racista, acusando o país asiático de disseminar propositalmente o novo coronavírus para obter supostos benefícios econômicos.

A filiação da ministra ao DEM, mesmo partido de Mandetta e de rivais políticos como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Rodrigo Alcolumbre, também foi um fator ressaltado por perfis governistas. Segundo o Estadão, Tereza Cristina teria se reunido no dia 20 de abril com Bolsonaro para cobrar sua intervenção junto ao filho Carlos, no intuito de cessar os ataques virtuais.

Ela é apoiada por líderes do agronegócio como o ex-ministro Blairo Maggi e o presidente da FPA, Alceu Moreira (MDB-RS), que reafirmou o “apoio integral” da bancada ruralista à ministra:

 Tenho certeza que ela é imprescindível no governo e estamos publicando, em todas as páginas, tudo que ela tem feito desde o dia que assumiu o Ministério da Agricultura. O país, em plena crise do coronavírus, vai produzir mais que o ano passado e ela continua abrindo portas de mercados internacionais.

Moreira se refere ao levantamento lançado pela FPA destacando as ações de abertura de mercado realizadas por Tereza Cristina. Segundo a frente, desde o início de 2019 foram 48 produtos introduzidos em 21 países, como a habilitação das exportações de melão, produtos lácteos e miúdos de suínos na China.

JORNALISTA É AGREDIDA POR BOLSONARISTA

Além da presença dos ministros, o ato do último domingo contou mais uma vez com agressões a profissionais da imprensa. Durante a movimentação, a repórter Clarissa Oliveira, da BandNews, foi atacada com o mastro de uma bandeira por uma apoiadora de Bolsonaro enquanto aguardava para entrar ao ar.

A agressora é uma servidora da Escola Nacional de Administração Pública, órgão vinculado ao Ministério da Economia. Segundo relatos de outros jornalistas, Angela Berger estava exaltada e dirigiu gritos constantes contra a imprensa, até ser retirada por seguranças.

Em nota, o departamento de Jornalismo da Bandeirantes informou ter feito boletim de ocorrência e definiu o caso como “um ato inaceitável de selvageria” e “desrespeito ao trabalho da imprensa”.

Foto (Divulgação): Tereza Cristina, Bolsonaro e outros ministros da República Federativa do Brasil

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

16 − 8 =