Dois indígenas Xicrin morrem de covid-19 em Marabá e 41 testam positivo

Ulisses Pompeu, no Correio de Carajás

Neste sábado, dia 23, uma indígena da comunidade Oôdjã Xicrin, Ireiabeiti Xikrin, de apenas 21 anos de idade, morreu em um hospital particular de Marabá, vítima de covid-19. Um dia antes, outro indígena, Bemok Xikrin, de 72 anos, da aldeia Xicrin do Kateté, também faleceu com a doença na mesma unidade de saúde.

Uma liderança da Terra Indígena do Kateté, que pediu reserva de seu nome, contou à Reportagem do CORREIO que há vários casos de síndrome gripal nas quatro aldeias daquela TI, localizada no município de Parauapebas.

No caso da jovem, que era casada, ela já apresentava um quadro parecido com pneumonia havia mais de um mês, mas só recentemente foi trazida para o Hospital. Ao chegar a Marabá, foi feito teste rápido, que deu positivo para coronavírus. Não foi possível realizar exame mais preciso, o PCR, porque já havia passado o tempo máximo para coleta, desde o aparecimento dos sintomas.

Procurado pela Redação do Portal Correio de Carajás, o Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins, com sede em Marabá, enviou nota confirmando os dois óbitos dos Xicrin e um terceiro da etnia Assurini.

No caso do idoso Xicrin, segundo o Distrito, ele deu entrada no mês de maio na Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) apresentando sintomas de tosse, arritmia, cansaço e dispneia. A equipe multidisciplinar de saúde indígena prestou os atendimentos necessários e manteve o seu acompanhamento.

Em seguida, foi solicitada a remoção do paciente por voo, entretanto, os familiares recusaram a remoção. O quadro do paciente agravou e foi removido da aldeia Kateté para uma unidade hospitalar, porém não resistiu e evoluiu a óbito no dia 22 de maio, com Declaração de Óbito positivo para covid-19.

No caso de Ireiabeiti, também deu entrada na UBSI apresentando sintomas de síndrome gripal (tosse, mialgia, febre, falta de ar, cefaleia) e a equipe multidisciplinar de saúde indígena prestou os atendimentos necessários. Depois, isolou a paciente e encaminhou para avaliação médica de urgência, solicitando a remoção via aérea para atendimento hospitalar, entretanto familiares recusaram a remoção.

Com a piora do seu quadro de saúde, foi realizada a remoção da paciente com autorização da família. Em seguida, o caso foi encaminhado a uma unidade hospitalar (particular de Marabá) com estado grave em seu quadro de saúde. No sábado, não resistiu e faleceu com Declaração de Óbito positivo para covid-19.

A Reportagem do CORREIO apurou que, depois da morte de ambos, houve um contratempo, porque os indígenas queriam que os dois corpos fossem levados para a aldeia, para passar pelo ritual próprio de velório e enterro da cultura Xicrin, mas diante da recomendação do Ministério da Saúde, para que não haja velório, a orientação para as famílias era que fossem enterrados em Marabá mesmo.

As lideranças indígenas recorreram ao Ministério Público Federal (MPF), que recomendou ao Distrito Sanitário Guamá-Tocantins que fosse garantido o traslado, funeral e enterro dos corpos de Bemok Ireiabeiti em sua comunidade: “A cerimônia de sepultamento não deve contar com aglomerado de pessoas, respeitando a distância mínima de, pelo menos, dois metros entre elas, bem como outras medidas de isolamento social e de etiqueta respiratória, devendo participar somente os familiares próximos”, orientou o MPF.

TERCEIRO CASO

Na última sexta-feira, 22, em Tucuruí, uma liderança indígena Assurini morreu de covid-19. No município, há confirmação de sete indígenas da etnia infectados pelo novo coronavírus.

Ponakatu Assurini, de 73 anos de idade, era conhecida como uma guerreira dos povos indígenas na região. Ela estava internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Tucuruí, onde aguardava transferência para o Hospital de Campanha de Marabá.

Ela, segundo o Distrito de Saúde Indígena, teve contato com caso positivo no início do mês de maio na aldeia Trocará. Em seguida, começou a apresentar sintomas de síndrome gripal (febre, cefaleia, mialgia, coriza, e dificuldade para respirar) e a equipe multidisciplinar de saúde indígena prestou os atendimentos necessários, isolou a indígena e manteve o seu acompanhamento.

Em seguida, a encaminhou à UPA de Tucuruí. O caso foi encaminhado ao DSEI como suspeito de covid-19, para realização do teste, que constatou positivo para o novo coronavírus.

O marido de Ponakatu e mais quatro nativos estão internados na mesma unidade com os sintomas da doença. A Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa) lamentou a morte da liderança e informou em nota que o pedido de leito ao estado aconteceu três dias após a internação dela na UPA. Conforme a Sespa, o leito foi reservado no mesmo dia em que foi solicitado, mas a paciente faleceu antes da transferência.

ENTERRO SEGUE PROTOCOLO

Ainda segundo o Distrito de Saúde Indígena, os três óbitos seguiram os protocolos de manejo de corpos no contexto do novo coronavírus covid-19. As equipes multidisciplinares de saúde repassaram as orientações aos familiares e amigos sobre os protocolos do velório e funeral.

“O Distrito Guamá-Tocantins vem adotando todas as medidas de proteção junto aos seus usuários (indígenas) e profissionais para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da covid-19 no âmbito de suas unidades”.

PARAUAPEBAS TAMBÉM SE POSICIONA

Na noite de sábado e manhã deste domingo, a Reportagem do CORREIO procurou a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Parauapebas para saber que medidas estão sendo adotadas para conter a proliferação do coronavírus entre os Xicrin.

Às 12h50 deste domingo, a Ascom enviou a seguinte nota à Redação do Portal: “A Prefeitura de Parauapebas informa que é parceira da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do governo federal, órgão responsável pelo atendimento de saúde às comunidades indígenas.
Por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) os pedidos de apoio, especialmente de insumos, são sempre atendidos.

Um exemplo são as vacinas da H1N1 destinadas às aldeias, o Ministério da Saúde encaminha para Parauapebas e a equipe da Sesai busca na Semsa. Outro exemplo desse suporte foi o envio, pela Semsa, de testes rápidos da Covid-19 para as aldeias, o que possibilitou a confirmação de 41 casos positivos para o novo coronavírus.

Já o atendimento com a equipe multiprofissional, composta por médicos, odontólogos e técnicos de enfermagem, é realizado diretamente pela equipe da Sesai, que tem sua base em Marabá, por questões de logística”. 

Arte: Ascom/PRR5

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