A carta de megainvestidores internacionais à diplomacia brasileira cobrando mudanças na política do governo Bolsonaro para o meio ambiente e a proteção dos Povos Indígenas está causando dores de cabeça em Brasília.
No Ministério da Economia, teme-se que a fuga de capital se intensifique. Membros da equipe de Guedes defendem que o governo seja mais claro sobre seus compromissos ambientais, além de evitar bate-bocas desnecessários com autoridades e instituições do exterior.
Rodrigo Maia disse que o Brasil deveria dar mais atenção ao meio ambiente para não afastar investidores no momento econômico mais delicado da história recente do país: “Isso [a falta de prestígio ambiental do Brasil no exterior] pode ter um custo muito grande na retomada do investimento, que é exatamente a credibilidade do Brasil em relação à independência das nossas instituições e o tema do meio ambiente, que são temas certamente muito importantes para aqueles que investem, principalmente para aqueles que estão na Europa e nos Estados Unidos.”
Como O Globo destacou em seu editorial de ontem (24/6), o “risco Bolsonaro” vem se confirmando para o “segmento de gestão de grandes negócios com alimentos e matérias-primas em geral, cada vez mais pressionado por seus acionistas a ter um comportamento responsável do ponto de vista ambiental e de Direitos Humanos”. Tudo isso coloca em risco não apenas a imagem política do Brasil no exterior, mas a posição de competitividade e atratividade dos produtos e do mercado brasileiro no exterior.
“É responsabilidade do governo do país X restabelecer e manter um quadro de ambiente favorável ao investimento em todos estes aspectos, incluindo o meio ambiente”, comentou o embaixador alemão Georg Witschel em entrevista à Daniela Chiaretti no Valor. “Porque muitos fundos internacionais e também empresas têm interesse em explicar aos investidores e seus acionistas o que fazem fora da Alemanha, se seus passos estão alinhados na luta contra a crise climática”. Para Witschel, que representa o governo da Alemanha nas negociações sobre o futuro do Fundo Amazônia, o Brasil precisa reduzir o desmatamento e levar a sério a crise climática caso queira receber investimentos internacionais e firmar acordos de livre comércio, como aquele assinado pelo Mercosul com a União Europeia no ano passado – que, por sua vez, vem enfrentando sucessivos problemas políticos na Europa desde a crise das queimadas na Amazônia.
Resta saber se toda essa pressão interna e externa será suficiente para forçar Bolsonaro a dar um reboot em sua política ambiental. A narrativa ensaiada pelo Itamaraty até agora indica que isso ainda está distante, como destaca Míriam Leitão n’O Globo: “Os argumentos são atrasados, na linha do ‘vocês desmataram no passado, nós podemos também’. É a ideia de que há um conflito entre desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente”.