Pedro Calvi / CDHM
Na última sexta-feira (26), o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), Helder Salomão (PT/ES), enviou para Michele Bachelet, Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, e a E. Tendayi Achiume, Relatora especial sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada, um relato sobre o crescimento do neonazismo na sociedade brasileira. O documento reporta ainda manifestações de caráter neofascista e racista por parte de autoridades. O ofício de hoje entra no contexto de outro, enviado no último dia 16, quando parlamentares e entidades da sociedade civil denunciaram à ONU o recrudescimento do racismo institucional através do aumento da letalidade policial da população negra. O ofício pede que Bachelet e Achiume se manifestem sobre quais os parâmetros internacionais devem ser obedecidos e quais estão sendo desrespeitados no Brasil e solicita medidas que possam ajudar o Brasil neste momento.
A presidência da CDHM informa que, segundo mapeamento realizado pela antropóloga Adriana Magalhães Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), existem 334 células nazistas no Brasil, com cerca de 5 mil membros ativos e 200 mil simpatizantes. A pesquisadora destaca que, se houvesse uma conspiração neonazista no Brasil hoje, seriam pelo menos 600 pessoas dispostas a cometer crimes graves. Os grupos brasileiros professam ideias ultranacionalistas, racistas, xenófobas e discriminatórias com apologia, em maior ou menor grau, ao uso da violência. Concentram-se no Sul e Sudeste, mas já se expandem para o Centro-Oeste, e usam a internet para divulgar os ideais do sistema.
Um exemplo, foi o grande aumento das denúncias de crimes cibernéticos com manifestações neonazistas durante a eleição de 2018. De acordo com o levantamento da ONG SaferNet, cresceram cinco vezes em outubro, entre o primeiro e o segundo turnos. E no último ano, a expansão do número de alertas desse tipo foi de 253%, passando de 87 denúncias e 46 páginas da internet em abril de 2019, para 307 denúncias e 109 páginas em abril de 2020.
O documento reporta uma série de situações, dentre as quais a ocorrida no dia 30 de maio, quando o grupo “300 do Brasil” marchou com tochas, roupas pretas e máscaras para frente do Supremo Tribunal Federal (STF), “copiando uma estética da Ku Kux Klan”.
O documento enviado à ONU destaca ainda que, em 10 de junho, uma reunião virtual que discutia estratégias de combate ao racismo com mais de 70 convidados do Instituto Comunitário Grande Florianópolis, a maioria mulheres, foi interrompida por imagens de cabeças sendo cortadas, um homem se masturbando, pedidos de morte a mulheres e a figura de uma suástica. A imprensa descreve mais seis ataques similares em diferentes estados.
Jair Bolsonaro
Helder Salomão informa ainda para o Alto Comissariado da ONU que o Presidente da República, Jair Bolsonaro, coleciona uma série de declarações racistas. Por exemplo, em relação ao deputado Helio Lopes, que é negro, disse “o Helio deu uma “queimadinha” ao demorar dez meses para nascer. Em relação aos indígenas, que “o índio é um ser humano igual a nós, não é para ficar isolado em uma reserva como se fosse um zoológico”. Em relação aos governadores do nordeste, chamou-os de governadores da “Paraíba”. Também é de Bolsonaro a frase “fui num quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”. Em 2011, questionado: “Se o seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”, ao que Bolsonaro respondeu: “Ô Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados, e não viveram em ambientes como, lamentavelmente, é o teu”.
“Na sociedade brasileira existe um aumento de adesão a formas contemporâneas de fascismo e nazismo, tanto para extermínio da esquerda, quanto ao racismo e supremacia racial. Além dos discursos por parte de altas autoridades, que também manifestam expressões racistas”, pondera Salomão no documento enviado à ONU.
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Foto: Reprodução/Twitter