Acampamento São José: 17 anos de resistência nas Terras de Atalaia

Em Atalaia, interior de Alagoas, o acampamento organizado pelo MST produz alimento e resistência há quase duas décadas

Por Rafael Soriano, da Página do MST

Desde a primeira ocupação onde hoje se firma o território do acampamento São José já se vão 17 anos, de lutas, enfrentamento, plantio e partilha, organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na Zona Rural do município de Atalaia (a 45 km de Maceió), o acampamento abriga mais de 70 famílias que vivem da terra e dela tiram seu sustento, alimentando a cidade. Durante todo este tempo os camponeses organizados resistiram ao desejo de um consórcio de fazendeiros e políticos, ligados as oligarquias locais e estaduais, de reconcentrar a terra.

No lugar onde vivem, as famílias se organizam para a lavoura de itens básicos da alimentação como milho, batata doce, inhame, feijão de corda, macaxeira, abóbora, entre outros. Mas também ali, a organização visa o estudo, a cobrança por direitos perante o poder público e uma vida de prosperidade. As crianças estudam na Ciranda Dorcelina Folador e em outras escolas da vizinhança, e no acampamento tem aulas na modalidade Educação de Jovens e Adultos, para que todos tenham a oportunidade que lhes foi negada pelo Estado, de aprender a ler e escrever.

Durante essa história, as famílias já resistiram a mais de doze tentativas de despejo, num dissídio que antagoniza trabalhadores rurais e um consórcio de latifundiários, ligados a políticos regionais. Nas várias tentativas de expulsar os camponeses, o apoio solidário da sociedade civil de Alagoas sempre foi fundamental para a resistência dos camponeses e a sensibilização do poder público, agregando universidade, sindicatos, igreja e diversos outros setores.

Honra de sangue

Segundo os acampados, a área tem um significado que transcende a luta daqueles que ali vivem, é “honra de sangue”. O território se torna emblemático para o MST, pois neste solo tombou uma das grandes lideranças do Movimento na região, Jaelson Melquíades, assassinado em 2005 a mando dos fazendeiros e políticos locais.

“A luta dos que vieram antes de nós, como Jaelson, Chico do Sindicato e José Elenilson (todos assassinados em Atalaia em conflitos por terra) tem um valor que nos anima a resistir e mobilizar para que essa área vire um assentamento de Reforma Agrária”, sinaliza o MST.

Entre as propostas apresentadas no mês de junho para o Governo do Estado de Alagoas pelo conjunto dos movimentos populares agrários, no Plano emergencial por garantia da produção de alimentos e abastecimento popular, está a aquisição da área onde fica o acampamento São José, por seu teor emblemático para sanar conflitos por terra no estado.

Contexto

As terras da antiga Usina Ouricuri, em Atalaia (AL), são palco de um dos mais arrastados conflitos no campo alagoano. Após a falência da Usina no início da década de 1990, uma massa de trabalhadores rurais tinha na divisão das terras a esperança de uma compensação histórica  pela miséria e caos gerado no contexto social. Este interesse coletivo esbarra, entretanto, na ganância secular de uma classe agrária que concentra terra, renda e poder.

*Editado por Fernanda Alcântara

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