Governo brasileiro é cúmplice de ataques à Amazônia

Aumento no desmatamento e avanço de práticas ilegais foram reforçados e validados durante governo Bolsonaro

Por Zé Luís Costa, na Página do MST

A Amazônia está se desmanchando em cinzas. É o que mostram as estatísticas, as falas dos militantes contactados e de moradores da Amazônia, sobretudo, de militantes ligados ao Movimento pela
Soberania Popular na Mineração (MAM), lideranças indígenas e do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Pode-se dizer que a floresta Amazônica é o “pulmão” do mundo. É uma visão global e uma forma de dizer que Amazônia faz todos do planeta respirarem melhor planeta. Ou seja, engloba todos os países do mundo. Porém, o presidente Bolsonaro, sendo o grotesco e ignorante que é, não reconhece este fato e diz com todas as letras: “A Floresta Amazônica é do Brasil!”.

As razões de sua fala são no sentido de combater a interferência de outros países por seus chefes de Estado, quando estes reivindicam honestamente e
acertadamente a proteção desse bioma. E também para desqualificar o trabalho de ONGs sérias.

Durante a crise da maior queimada da história do Brasil, em 2019, por diversas vezes Bolsonaro trocou farpas com outros líderes, como por exemplo, com o presidente da França, Emmanuel Macron. Este ano não é diferente, pois a Amazônia volta a ser queimada, o governo brasileiro volta a esconder dados, as populações nativas da região voltam a sofrer com a realidade e o mundo continua no risco de perder o seu “pulmão”.

Nas pesquisas para esta matéria realizadas no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), há poucas informações sobre a realidade da floresta com as queimadas que já se espalham. Mesmo apesar de o INPE ser amparado por satélites de grande qualidade e estar subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e portanto, resguardando-se da tarefa de fornecer informações mais sólidas à sociedade brasileira com relação às denúncias de desmatamento e incêndios naquela região do país.

Com análise dos dados disponibilizados nas tabelas e mapas do INPE é possível perceber que o mês de julho e agosto, sobretudo na região do bioma amazônico, os focos de incêndios são muito maiores do que no ano anterior (2019). Ainda analisando a tabela, a situação se torna mais complicada quando as estatísticas refletem por biomas.

O Bioma Amazônico, por exemplo, é de cara o mais atingido, com um número elevadíssimo de focos de incêndio, chegando a 33.049 na data de 18 de agosto. Essa é uma realidade que tem como causa: invasões de terras por grileiros que vislumbram com os olhos a ganância e o lucro. Cresce a especulação de terras na Amazônia, sobretudo, por madeireiras
que derrubam a mata. Em seguida, chega o agronegócio com o pasto e outras culturas de formas predatórias, monoculturas de soja, arroz, milho e até eucalipto. Ainda existe a incidência do advento imobiliário.

A expansão desses grandes projetos traz uma realidade às avessas, como afirma a ativista Isabel Silva, do Movimento Tapajós Livre e do MAM. “Anteriormente, o MST não se instalou na cidade porque não tinha Sem Terra. Hoje, é o que mais se tem: pessoas sem terras nas periferias da cidade de Santarém, que fica no oeste do Pará”, conta ela. O Movimento Tapajós Livre luta pela defesa do Rio Tapajós, das culturas tradicionais da população que o cerca e contra a instalação das grandes hidrelétricas.

Silva conta ainda que este é o período de derrubada e de preparação para o plantio de muitas culturas, que vem logo com as chuvas. Mas antes deste processo é utilizada a queimada, que realmente se inicia em setembro. Esse processo de derrubada é feito por pequenos agricultores, que ainda usam esse tipo de técnica, e pelos grandes proprietários, muitos invasores.

Para Fabiano Bringel, um dos coordenadores do MAM na região, geógrafo e professor da Universidade Estadual do Pará (Uepa), com o governo Bolsonaro, a partir de 2019, se intensificou o processo de degradação da Floresta Amazônica. A ação é realizada principalmente por grandes latifundiários que já estão na região e foram respaldados pela proposta que o governo federal tem de desenvolvimento predatório daquela região.

Ele acrescenta ainda dizendo que o ano passado foi o período mais complicado com as queimadas, sobretudo quando, propositalmente, vários
latifundiários fizeram o que ficou conhecido como “o dia do fogo”. Na data, os criminosos atearam fogo em várias regiões nos estados do Pará e do Amazonas em uma ação coordenada de dois dias (9 e 10 de agosto de 2019), com muitos focos de incêndio ao mesmo tempo e em vários lugares.

A reportagem entrou em contato com a Ministério Público do Estado do Pará, onde está o promotor Igor Espíndola, que acompanhava o caso do “dia do fogo”, sobre às denúncias de facilitações por parte de policiais civis e militares em proteção aos acusados da ação. Não houve retorno até o
fechamento desta matéria. O que circula como informação entre os militantes e por mídias locais é de que houve um afrouxamento das investigações, com a não punição dos verdadeiros responsáveis pelo atentado.

Essa realidade da Amazônia é tão grave que, ainda segundo Bringel, a perspectiva dos grandes projetos é forçar politicamente as instituições do país para que se retire os estados do Maranhão e Mato Grosso do espaço geográfico conhecido como Amazônia Legal, possibilitando ainda mais a chegada de outros segmentos do agronegócio, principalmente, a cana.

“Então, o que se consegue perceber nos desmatamentos, nas invasões de terras indígenas, nas invasões das terras de populações tradicionais, é que há uma intencionalidade com o intuito da instalações de projetos muito maiores. É a expansão dos grandes projetos para dentro da Amazônia. Nós estamos aí desde o ano passado com a penetração da cana-de-açúcar na região, que até então era proibida por um código que visava proteger a Amazônia Legal”, denuncia ele.

Ayala Ferreira, do Setor de Direitos Humanos e da Direção Nacional do MST pelo Estado do Pará, reforça aquilo que já foi apresentado por outros
contactados nessa matéria: pelo militante indígena e os militantes do MAM. Ela reitera que, com a eleição do atual presidente só se ampliou o desmatamento e os ataques à Amazônia e à biodiversidade. Ferreira ressalta ainda o “dia do fogo” como uma vergonha mundial para o Brasil.

“Quem fez aquela ação na região Amazônica expressou o seu apoio às palavras e às ações do governo, que já veio deixando a entender que agora é a vez deles. O Bolsonaro, quando candidato, afirmou para todos os cantos do país que é contra a Reforma Agrária, que é contra as populações indígenas, que é contra as populações tradicionais. E quando assume, bloqueia políticas públicas para esses setores. Por outro lado, dá apoio e condições para o latifúndio e para o agronegócio”, pontua ela.

O jovem indígena Walter de Oliveira, de 24 anos, militante e defensor das lutas de seu povo, denuncia que as grandes empresas, os grandes defensores do agronegócio, divulgam que o “Agro é pop”, que o “Agro é vida”, por meio de publicidades na grande mídia. No entanto, na verdade, esse “Agro” é e, principalmente na região deles, o símbolo da morte. O jovem é da comunidade de Pedra Branca, localizada nas reservas extrativistas Tapajós-Arapiuns, uma área de 647.610 hectares, no município de Santarém, estado do Pará.

Ele é um dos fundadores do “Coletivo Jovem Tapajônico”.“Eu ajudei a criar o Coletivo para atuar no meio das comunidades e para que eles compreendessem que a realidade do mundo no meio dos ribeirinhos é outra. E para que se possa conscientizar e defender nosso próprio território, que é nossa própria casa”, conta.

Waltinho, como é conhecido no meio dos grupos e movimentos sociais onde atua, em meio aos sonhos e articulações, também faz parte de organizações para defender Amazônia de determinadas ações predatórias, incluindo as brigadas que atuaram no combate ao fogo no “dia do fogo”. Pertencente ao povo Kumaruara, Waltinho mostra-se um jovem cheio de ideais e que busca um mundo melhor, sobretudo, com a Amazônia e de pé. Os Kumaruaras são um povo que tem aproximadamente 100 famílias espalhadas em várias comunidades por toda a região dos estados do Pará e
do Amazonas.

Quando a reportagem entrou em contato com Waltinho, ele tinha chegado de viagem de uma atividade e já estava de passagem para outra, em uma localidade mais distante. O jovem deixa claro que o papel da articulação frente às organizações e, principalmente, dos povos indígenas, é para
construir uma reafirmação e empoderamento desses povos no combate aos madeireiros que estão invadindo a Floresta Amazônica.

Em outro trecho de sua participação na reportagem, ressaltou: “É comum as populações indígenas presenciarem balsas e mais balsas pelo Rio Tapajós carregadas de madeiras. E o triste disso tudo é perceber que essas madeiras são tiradas de forma ilegal das terras indígenas”, relata ele tristemente.

Com todas as informações colhidas para matéria, desde estatísticas, tabelas de resultados de pesquisa com relação às queimadas e aos desmatamentos feitos nos estados da Região Norte ou simplesmente na Amazônia Legal, é possível perceber um compromisso do governo de Bolsonaro em destruir o que resta de Floresta Amazônica para beneficiar o “desenvolvimento” predatório. Suas defesas por abertura de garimpos, plantios e crescimento da agricultura industrial, movidas pela responsabilidade de estabelecer seus compromissos com aliados do agronegócio, deixa claro que seu grande compromisso é destruir.

Neste sentido, vale dizer que o governo de Bolsonaro é sim, cúmplice destes ataques à natureza e o que vier acontecer de errado nesse bioma, que ainda é o pulmão da terra e de quem respira, é culpa de seu governo.

*Editado por Luciana G. Console

Imagem: Bolsonaro e o incêndio na floresta amazônica. Montagem Revista Fórum

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